O pastor Joaquim Gonçalves Silva, de 85 anos, suspeito de crimes sexuais contra fiéis da igreja Tabernáculo da Fé, morreu de Covid-19 em Goiânia, na madrugada desta segunda-feira (2). A secretaria da congregação informou que ele teve uma parada cardíaca e não resistiu.

O religioso foi internado em 23 julho e testou positivo para a doença dias após chegar a um hospital de Goiânia. Ele ficou 10 dias em tratamento, porém, o quadro se agravou e evoluiu para problemas cardíacos. A secretaria disse que o pastor “tinha uma saúde bem forte”.

G1 questionou ao Ministério Público de Goiás se o processo será arquivado após a morte do pastor e aguarda retorno. O processo corre em segredo de Justiça. A reportagem tentou contato com a delegada que investiga o caso, mas não as ligações não foram atendidas.

O advogado Osemar Nazareno Ribeiro, que representa o religioso na Justiça, disse que todas as acusações são inverídicas e acredita no arquivamento da investigação.

Em 11 de julho, duas semanas antes de o pastor Joaquim Gonçalves ser internado com sintomas da Covid-19, ele participou de um culto no Tabernáculo da Fé, quando membros da congregação e fiéis apresentaram informações sobre as denúncias e defenderem a história do religioso.

O culto foi gravado e transmitido no site da igreja. As imagens mostram que, inicialmente, os fiéis estavam sentados em bancos respeitando distanciamento. Porém, em um momento de celebração, eles se dirigem para a frente do púlpito e acabam se aglomerando. O vídeo mostra ainda que eles usavam máscaras de proteção contra o coronavírus.

Culto realizado na igreja Tabernáculo da Fé em 11 de julho de 2021, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/Tabernáculo da Fé
Culto realizado na igreja Tabernáculo da Fé em 11 de julho de 2021, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/Tabernáculo da Fé

Denúncias

Segundo as mulheres, que preferiram não se identificar, os abusos aconteceram em momentos de fragilidade, quando elas foram pedir conselhos ao religioso. As vítimas afirmam ainda que, após terem sido abusadas, foram chantageadas a não contar para ninguém ou seriam “amaldiçoadas”.

Os casos de abuso teriam acontecido entre 2002 e 2021. No caso mais recente, uma adolescente de 17 anos relatou em um vídeo publicado nas redes sociais que, em de janeiro deste ano, o pastor chegou a beijá-la quando ela esteve em seu escritório pedindo ajuda sobre o seu casamento, que estava em crise.

“Fui pedir conselhos depois de ter problemas no meu relacionamento. Foi quando ele colocou a mão no meu corpo e me deu um beijo. Passou a mão pelos meus seios e desceu até embaixo, quando eu o interrompi. Eu fiquei em choque, nunca na vida eu esperei isso dele”, contou.

Após ser encorajada a denunciar, a adolescente registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Goiânia, em 26 de março deste ano.

Outras vítimas

Pelo menos outros três casos foram registrados entre janeiro e abril deste ano na Polícia Civil, desta vez na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). O mais recente deles teria ocorrido em 2018, contra uma mulher que, atualmente, tem 40 anos.

Outra vítima, de 37 anos, denuncia ter sido assediada em 2015. Ela afirma que o abuso aconteceu quando, assim como a adolescente, foi pedir ajuda ao religioso.

“Foi quando meu irmão morreu e eu terminei um relacionamento. Eu via nele a figura de um pai e, então, decidi pedir ajuda. Fui no escritório dele, estávamos só nós dois e, depois da conversa, ele me deu um abraço, me apertou muito, começou a beijar meu rosto e veio para beijar minha boca, quando eu virei”, afirmou.

Antes delas, a primeira denúncia na Polícia Civil foi registrada por uma mulher de 46 anos. Ela relata ter sido abusada por diversas vezes entre os anos de 2002 e 2006. Ao G1, ela contou que permaneceu em silêncio por todo esse tempo porque tinha medo de que ela ou sua família fossem prejudicadas.

“Eu fazia trabalhos voluntários na igreja e amava, porque aquela era minha missão. No começo, ele dizia que, se eu contasse para alguém, iria me tirar da igreja, do trabalho. Depois, quando contei para minha família, ele mandou um aviso, pelo meu irmão, que alguém iria machucar eu, meu marido e meu filho, caso eu o denunciasse”, contou.

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Igreja Tabernáculo da Fé em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Igreja Tabernáculo da Fé em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

G1