Os talibãs vão manter a interdição do acesso de mulheres ao ensino secundário, apesar da promessa do regime afegão de que as escolas voltariam a permitir, a partir de hoje (23), o regresso das adolescentes às aulas.

“As escolas para as adolescentes do 7º ao 12º anos (dos 12 aos 18 anos de idade) continuam fechadas”, afirmou o porta-voz adjunto do governo talibã, Inamullag Samangani, no mesmo dia em que as escolas reabrem após as férias de inverno.

Dezenas de milhares de jovens deviam regressar ao ensino secundário, mais de sete meses depois de o regime talibã ter subido ao poder e restringido os direitos das mulheres à educação e ao trabalho.

O Ministério da Educação afegão tinha anunciado o reinício das aulas para as jovens em várias províncias, incluindo a capital Cabul.

“Não estamos reabrindo escolas para agradar à comunidade internacional, nem para obter o reconhecimento do mundo”, disse o porta-voz do ministério Aziz Ahmad Rayan.

“Estamos fazendo isso como parte da responsabilidade de proporcionar educação e instalações educativas aos nossos estudantes”, acrescentou.

O regime talibã tinha afirmado que precisaria de tempo para garantir que as adolescentes fossem separadas dos rapazes e que as escolas funcionassem de acordo com os princípios islâmicos.

Em sete meses de governo, os talibãs impuseram várias restrições às mulheres, que se viram excluídas de muitos empregos públicos, controladas na forma de vestir e proibidas de viajar sozinhas para fora da cidade onde vivem.

O grupo islâmico também deteve várias ativistas que se manifestaram pelos direitos das mulheres.

Apesar do anúncio do regresso das jovens à escola, que entretanto não se verificou, muitas famílias continuam a desconfiar do regime vigente no Afeganistão e mostram-se relutantes em deixar as filhas saírem de casa.

A organização não governamental de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) questionou se haveria motivação para as jovens estudarem. “Por que é que você e sua família fariam enormes sacrifícios para estudar, se nunca poderão ter a carreira que sonharam”, questionou Sahar Fetrat, assistente da HRW.

O Ministério da Educação admitiu que enfrenta o problema da falta de professores, muitos dos quais se encontram entre as dezenas de milhares de afegãos que fugiram do país quando os talibãs subiram ao poder.

Agência Brasil