Resultado foi puxado, principalmente, pelos ganhos da indústria (0,7%) e dos serviços (0,3%); já a agropecuária caiu 0,4%. Queda no 1° trimestre foi revisada para um recuo de 0,1%.

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,4% no 2º trimestre, na comparação com os 3 primeiros meses do ano, segundo divulgou nesta quinta-feira (29) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em valores correntes, o PIB no segundo trimestre de 2019 totalizou R$ 1,780 trilhão.

O resultado, embora reforce a leitura de fraqueza da economia em 2019, veio até um pouco acima do esperado e afastou o risco de entrada do país em uma recessão técnica, caracterizada por dois trimestres seguidos de retração do PIB.

A alta do PIB o 2º trimestre foi puxada, principalmente, pelos ganhos da indústria (0,7%) e dos serviços (0,3%). Já a agropecuária caiu 0,4%. Pela ótica da despesa, a taxa de investimento avançou 3,2% e o consumo das famílias cresceu 0,3%, enquanto que o consumo do governo recuou 1%.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia.

O IBGE revisou a queda do primeiro trimestre de 2019. Ao invés da queda de 0,2%, o recuo foi de 0,1%. Também foram revisados os resultados de trimestres anteriores, revelando que o país também registrou retração no 2º trimestre de 2018. Veja gráfico abaixo:

Variação trimestral do PIB — Foto: Rodrigo Sanches/G1
Variação trimestral do PIB — Foto: Rodrigo Sanches/G1

Na comparação com igual período de 2018, o PIB subiu 1% no 2º trimestre, ante avanço de 0,5% nos 3 primeiros meses do ano. O ritmo de recuperação, entretanto, segue abaixo do registrado no final de 2018.

“Não dá para afirmar que há recuperação, precisamos de um período maior de análise”, afirmou a gerente de contas trimestrais do IBGE, Claudia Dionísio, ao ser questionada por jornalistas se o resultado indica uma retomada.

Veja os destaques do PIB do 2º trimestre:

  • indústria cresceu 0,7% e saiu da recessão técnica, após ter caído nos 2 trimestres anteriores;
  • reação da indústria foi puxada pela alta de 2% nas indústrias de transformação e de 1,9% na construção civil;
  • setor de serviços teve alta de 0,3%, com destaque para atividades imobiliárias (0,7%), comércio (0,7%) e informação e comunicação (0,5%);
  • taxa de investimento avançou 3,2% após duas quedas seguidas;
  • consumo das famílias cresceu 0,3% e mantém trajetória de recuperação;
  • indústria extrativa caiu 3,8%, após tombo de 7,5% no trimestre anterior, ainda sob impacto da tragédia de Brumadinho;
  • exportações de bens e serviços caíram 1,6%, enquanto as importações cresceram 1%.
Variação trimestral do PIB da indústria, comércio e serviços — Foto: Juliane Souza/G1
Variação trimestral do PIB da indústria, comércio e serviços — Foto: Juliane Souza/G1

PIB segue no patamar de 2012

No acumulado no 1º semestre, a alta do PIB é de 0,7% frente a igual período de 2018, o que representa uma desaceleração em relação à expansão de 1,2% no semestre encerrado em dezembro de 2018.

Na comparação com o mesmo trimestre de 2018, o PIB subiu 1% entre abril e junho, ante avanço de 0,5% nos 3 primeiros meses do ano, também mostrando desaceleração na comparação com o ritmo que vinha sendo registrado no 2º semestre de 2018.

“A demanda doméstica é que está segurando esse resultado de 1% de crescimento do PIB na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, já que as importações tiveram alta de 4,7% ante um crescimento de 1,8% das exportações”, avaliou Dionísio.

Com o resultado, a economia do país ainda permanece em patamar igual ao do segundo trimestre de 2012, e 4,8% abaixo do ponto mais alto, alcançado no 1º trimestre de 2014, segundo o IBGE.

Segundo a gerente de contas nacionais do IBGE, com a retomada lenta, a economia recuperou até o momento apenas 3,7% das perdas registradas durante a recessão até o 4º trimestre de 2016.

PIB pela ótica da demanda — Foto: Rodrigo Sanches/G1
PIB pela ótica da demanda — Foto: Rodrigo Sanches/G1

Construção civil reage e investimentos voltam a crescer

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que inclui o que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação, avançou 3,2% no 2º trimestre, após queda de 1,6% no 4º trimestre de 2018 e recuo de 1,2% no 1º trimestre.

A taxa de investimento no segundo trimestre de 2019 ficou em 15,9% do PIB, acima do observado no mesmo período do ano anterior (15,3%), mas ainda em patamar muito baixo. No final de 2013, antes do início da recessão, estava em 20,9%. Já a taxa de poupança foi de 15,2%, ante 15,8% no mesmo período de 2018.

“No caso dos investimentos, o mais importante foi a virada da construção, que tem um peso muito importante”, afirmou a gerente de Contas Nacionais, Rebeca de La Rocque, destacando que essa atividade responde por em torno de 50% da FBCF.

A construção civil avançou 1,9% na comparação com o 1º trimestre. Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, subiu 2% – primeira alta após 20 trimestres consecutivos de queda nessa comparação. Segundo o IBGE, o que contribui para a melhora do setor foi foi alta de 0,9% na ocupação e o crescimento nominal de 10,7% de financiamento imobiliário.

O IBGE observou, no entanto, que não houve retomada de obras de infraestrutura.

“Mais uma vez, vemos o consumo das famílias influenciando a demanda, além de ter puxado o aumento do comércio varejista. Já o comércio por atacado cresceu graças às indústrias de transformação, principalmente a metalurgia e produção de máquinas e equipamentos. Junto com a importação, a produção doméstica de bens de capital e a construção explicam a aceleração da Formação Bruta de Capital Fixo”, disse Claudia Dionísio.

Perspectivas para o ano

Para o resultado fechado do ano, a expectativa dos analistas do mercado financeiro é de uma alta do PIB de 0,80%, ante um avanço que no início do ano era estimado em 1,3%, segundo dados do boletim Focus do Banco Central. Para 2020, a previsão de crescimento passou de 2,2% para 2,1%.

Em 2018, a economia brasileira cresceu 1,1%, após alta de 1,1% em 2017, e retrações de 3,5% em 2015, e 3,3% em 2016.

Na visão dos analistas, o impacto de medidas como liberação do FGTS e PIS, e a perspectiva de aprovação da reforma da Previdência podem contribuir para alguma melhora do consumo e da confiança no 2º semestre. Por outro lado, a piora no cenário externo trouxe ainda mais incertezas para os próximos meses, em meio ao acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos, piora da situação da Argentina e temores de uma nova recessão global.

Fonte: Portal G1