Um áudio vazado no Whatsapp revelou a preocupação de um diretor de um tradicional hospital de Goiânia em relação ao aumento no número de casos da Covid-19 nas últimas semanas. O diretor seria Hugo Frota, que comanda o Hospital São Francisco. O gestor da unidade de saúde admitiu que enviou a mensagem, mas disse que havia endereçado ao grupo da Associação de Fazendeiros do Vale do Araguaia, no qual é presidente. Para sua surpresa, a mensagem acabou disseminada para milhares de desconhecidos.

“Pensei que a mensagem ficaria limitada ao grupo”, contou. De acordo com ele, o Hospital São Francisco tem acompanhado, nos últimos 90 dias, os desdobramentos da pandemia causada pelo novo coronavírus. “Após a abertura do comércio, começamos a observar o aumento dos casos de Covid-19 aqui no hospital”, disse.

“Tínhamos destinado à Covid-19, um número de leitos que correspondia à metade dos leitos de UTI do Hospital São Francisco. Tinha deixado a outra metade para atendimento de outras patologias existentes que o hospital recebe. Fizemos também uma separação de 30 leitos de enfermaria e apartamento para os casos de Covid-19 fora da UTI”, explica Hugo Frota.

“O que aconteceu? A média de preenchimento diário desses leitos cresceu progressivamente, e foi aumentando não só aqui como também em outros hospitais em Goiânia. Se você procurar pela Ahpaceg, vai verificar as estatísticas todo dia aumentando”, apontou. “Agora, na última semana, o aumento foi muito geométrico. Semana passada, estávamos com 80% desses leitos destinados ao coronavírus preenchidos. Fomos para 90% e hoje ficou em 95% preenchidos neste hospital”, afirmou o diretor.

“Não sei se por causa da procura que temos no ambulatório ou se nos outros hospitais aconteceu a mesma coisa. O que notamos foi que no Pronto Socorro do hospital, a incidência de Covid-19 aumentou muito. Temos cerca de 25 casos de Covid-19 no ambulatório do hospital por dia”, relatou Hugo. “Tivemos seis médicos contaminados e mais de 30 funcionários, enfermeiras, principalmente as que trabalham na UTI, contaminadas.”

De acordo com o diretor do hospital, da forma como foi estabelecida a abertura do comércio, ele acredita que em breve exigirá um novo isolamento social. “Eu fiquei apavorado por causa do aumento que teve essa semana passada. Da mesma maneira como ocorreu aqui no hospital, provavelmente nos outros hospitais também aumentaram”, indicou.


“Vamos entrar em um espaço que não temos nenhum paradigma para seguir. A situação que vamos entrar nesses próximos 20 ou 30 dias a gente não sabe o que vai acontecer. Qualquer indivíduo que chegar e dizer ‘achatamos a curva’, está fazendo mera especulação. Não há nada científico que possa mostrar pra gente o que vai acontecer nos próximos dias”, comentou.


“Com uma liberação mais intensa do comércio, acho que vai piorar mais ainda. Isso aí é meu receio. Meus médicos estão se contaminando, minhas enfermeiras. Temos mais de 30 funcionários contaminados. Dos seis médicos, um está grave. Por um acaso, é meu cunhado. Não sei qual a solução para isso. Temos encontrado uma dificuldade muito grande para encontrar uma solução para isso”, apontou.


“Coloquei em um grupo restrito, mas essa é a verdade”, ressaltou Hugo. “Temos condições de triplicar a quantidade de leitos para Covid-19, mas aí eu teria que parar totalmente com as outras atividades. Vamos ter que parar com atendimento a pacientes com câncer, pacientes de todo tipo de patologia. Esse é meu receio”, falou o diretor.


“A Covid extrapolou aquilo que pensávamos. A necessidade de leitos de UTI na cidade de Goiânia já era deficiente. Se você tiver uma estatística de quantos leitos existem por habitante no Japão, nos Estados Unidos, Canadá ou Alemanha, vamos ficar completamente desmoralizados pela falta de leitos que já temos, independente do Covid-19”, apontou.

“O que essa doença está colocando à prova para nós? Que o número de leitos no Brasil é insuficiente em caso de catástrofe, guerra, epidemia como está tendo. Todo mundo tinha medo disso acontecer e aconteceu.O cruel é que talvez resolvam parcialmente esses problemas e daqui um ano repita a mesma epidemia ou outro vírus e nada foi feito. O mais alarmante é que já tinha um fim anunciado. Participei de vários eventos em que já falavam que isso poderia acontecer e nada foi feito.”

Jornal Opção