O dólar é negociado novamente em forte alta nesta sexta-feira (21), em meio aos temores de piora do cenário fiscal do país após as manobras do governo para driblar o teto de gastos e da debandada de secretários do Ministério da Economia.

Às 12h21, a moeda norte-americana subia 1,34%, cotada a R$ 5,7410. Na máxima do dia até o momento, chegou a R$ 5,7450 – uma alta de mais de 10% no acumulado do ano. Veja mais cotações.

Segundo o blog do Valdo Cruz, o presidente Bolsonaro teria dado sinal vermelho para a sondagem de nomes para substituir o ministro da Economia Paulo Guedes.

Já a Bovespa opera em queda, na contramão dos mercados externos.

A exemplo da véspera, o Banco Central ainda não anunciou ofertas líquidas de dólar para esta sessão.

Na quinta-feira, o dólar fechou em alta de 1,92%, a R$ 5,6651 – maior cotação desde 14 de abril e a maior valorização diária da moeda desde 8 de setembro. Com o resultado, a moeda norte-americana passou a acumular avanço de 4,03% no mês e de 9,21% no ano.

Furo do teto de gastos

Na noite desta quinta-feira, a comissão especial criada na Câmara para analisar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios aprovou uma mudança no teto de gastos para viabilizar o Auxílio Brasil, programa social que deve substituir o Bolsa Família. O texto agora segue para o plenário.

A proposta de furar o teto para bancar o programa social repercutiu negativamente no mercado, elevando os temores de piora do quadro fiscal e de descontrole dos gastos públicos para financiar medidas vistas como populistas.

“Já estamos falando de um quadro inflacionário bastante preocupante e o gestor tem que perceber que está fazendo alguma coisa errada. Se a inflação no Brasil começou a subir antes de todo mundo e sobe mais forte, com o dólar descolado dado o cenário internacional, o gestor de política econômica tem que desconfiar. Então, é obvio que necessitava um maior cuidado na questão macroeconômica. Não é sair fazendo e a inflação é problema do BC. Tem erros sistemáticos cometidos”, disse a economista Zeina Latif, em entrevista à GloboNews.

Economista sobre teto de gastos: ‘Não entendo o silêncio do Tribunal de Contas da União’

Em meio ao retorno de ameaças de greve de caminhoneiros em razão da alta dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro também anunciou que o governo vai oferecer uma ajuda de R$ 400 a cerca de 750 mil caminhoneiros autônomos para compensar o aumento do preço do diesel, sem informar de onde vai tirar os recursos nem a partir de quando o benefício será pago.

Após a equipe econômica ter sido atropelada pela ala política do governo Bolsonaro na discussão sobre a fonte de financiamento do novo programa social do governo, quatro secretários do Ministério da Economia pediram demissão dos cargos nesta quinta-feira.

A explosão da dívida pública e o risco de um descontrole da situação fiscal é apontado por analistas e investidores como um dos principais fatores de incerteza doméstica, podendo inclusive inviabilizar uma retomada sustentada da economia brasileira.

“Tirar o teto de gasto e precatórios com limitações podem ser entendidos como abertura de porteira para mais gastos ineficientes, tendo em vista as próximas eleições polarizadas de 2022. Vamos perder a âncora, sem colocar nada no lugar”, afirmou Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais.

Na visão do mercado, as manobras para furar do teto dos gastos colocam ainda mais pressão no dólar e para o Banco Central elevar a taxa básica de juros, atualmente em 6,25% ao ano. “Isso compromete a expansão do PIB em 2022. Para as classes de renda baixa, o efeito parece ser de dar com uma mão e tirar com a outra, considerando inflação ascendente e desemprego elevado”, acrescentou Bandeira.

G1