Volta a faltar sedativos para manter os pacientes que estão intubados em unidades da rede pública de saúde do Rio de Janeiro. A denúncia é de funcionários de hospitais do Rio e da Baixada Fluminense, reforçada por familiares das vítimas.

Enfermeiros e técnicos do Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, dizem que faltam medicamentos para manter os pacientes intubados.

“Eles [pacientes com Covid] estão intubando sem sedação porque não tem. Está em falta”, disse um funcionário.

Um dos funcionários conta que um paciente adulto de 49 anos retirou o tubo na emergência.

“Eu sei que a intubação dele foi complicada porque não tinha os sedativos para apagar ele. Teve uma hora que ele extubou”, contou o funcionário.

E disse que os médicos precisaram fazer uma traqueostomia (abertura cirúrgica para a abertura da traqueia) no paciente.

“Ele não está sedado. Ele está semissedado”, disse o funcionário.

A falta de remédios também prejudica o atendimento no Hospital Federal do Andaraí, na Zona Norte. Os funcionários dizem que sem sedativos os pacientes ficam inquietos.

E não é possível colocá-los em posição de “prona” – ou seja, de bruços, de barriga para baixo – o que melhora a oxigenação do paciente.

“Lá tem pacientes graves intubados com idade em torno de 40 anos, que não estão podendo ser pronados, ou seja, virados de barriga para baixo, para melhorar a ventilação pulmonar, por falta de medicações. Não tem bloqueador neuromuscular e sedação apropriada para o procedimento. Muito triste ter o que fazer para melhorar o paciente e não poder por falta de medicação”, disse uma funcionária.

Segundo os funcionários do Andaraí, a unidade teve que receber medicamentos de outro hospital federal, o Cardoso Fontes, de Jacarepaguá, na Zona Oeste.

Em abril, o RJ1 acompanhou de perto a falta de sedativos e relaxantes musculares em várias unidades de saúde pública do Rio. Esses remédios são fundamentais para manter o paciente bem adaptado ao respirador.

A rede particular também sofreu com a falta desses medicamentos.

Depois disso, o Ministério da Saúde enviou para o estado do Rio de Janeiro uma remessa de sedativos que resolveu o problema por algumas semanas. Mas agora, o medicamento já está faltando novamente em algumas unidades.

Isso acontece num momento em que a quantidade de pessoas internadas com Covid-19, em leitos de UTI, na cidade do Rio, continua perto do máximo registrado. São 756 pacientes graves.

Além da capital, famílias que têm pacientes internados na Baixada Fluminense também denunciam a falta de remédios. A Maria Tavares, de 75 anos, está intubada, com Covid-19, no Hospital Geral de Nova Iguaçu, na Posse.

O neto Diego Tavares conta que a avó não está sedada e que é triste saber que ela pode estar sentindo dor.

“Estou com a minha avó de 75 anos internada no Hospital da Posse. Ela está intubada com caso grave de Covid. Os médicos disseram que ela está sedada, porém, está em falta a sedação no hospital. Eu tenho fotos e informações da minha avó acordada que comprovam que não tem sedação no hospital. Eu vim pedir ajuda dos senhores governantes para que comprem e envie para Posse sedação”, disse Diego.

A direção do Hospital Municipal Albert Schweitzer diz que está com o estoque de sedativos e outros medicamentos regularizados.

O Hospital Geral de Nova Iguaçu também nega que faltem sedativos na unidade.

Após a exibição da reportagem, o Ministério da Saúde, que não havia respondido aos questionamentos feitos pelo RJ1, informou, por meio de nota, que “o empréstimo das medicações, que fazem parte do ‘kit intubação’, se faz necessário devido à situação epidemiológica da Covid-19 no Rio de Janeiro e a dificuldade em se obter tais medicações”.

A pasta enfatizou, ainda, “que é prática normal, entre as unidades hospitalares, o empréstimo controlado de medicamentos”.

G1