O Senado Federal realizou hoje (10) uma sessão solene virtual para homenagem ao Yom HaShoá, Dia da Lembrança do Holocausto. O evento foi marcado por duras críticas ao youtuber Bruno Monteiro Aiub, apresentador do Flow Podcast, que defendeu, nesta semana, a criação de um partido nazista no Brasil.

Conhecido como Monark, a manifestação foi feita por ele durante um debate sobre regimes radicais de esquerda e de direita. No mesmo dia, Aiub foi demitido do programa.

Ao relembrar que já faz 77 anos, desde o dia da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, na Alemanha, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, disse não ter certeza se o perigo da conexão entre ideias e ações que culminaram no Holocausto já foi assimilado .

“O exemplo que tivemos esta semana no Flow Podcast pode parecer bobagem, mas atesta que a mensagem não foi bastante assimilada pelas pessoas e pela sociedade. Nossa guerra é levantar nossa voz contra a legitimação desse tipo de ideia”, disse.

O embaixador de Israel, que é judeu e filho de sobreviventes do Holocausto, acrescentou que conhece pessoalmente os resultados “da ideologia e das ações horríveis executadas pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial”.

“O silêncio diante do ódio aos judeus não pode mais ser tolerado. À medida que a última geração de sobreviventes do Holocausto atinge a velhice, o fardo de lembrar o passado e ensinar as gerações futuras passa para todos nós”, advertiu.

A polêmica envolvendo o ex-apresentador do podcast também foi lembrada pelo presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg.

“Nós imaginávamos, talvez, estarmos vivendo num cenário diferente, mas vejam que coincidência: justamente nesta semana, um dos mais importantes podcasts deste país faz um movimento demonstrando que, para alguns, quem sabe, a morte daqueles seis milhões de judeus e mais cinquenta milhões de pessoas, fruto de uma atrocidade de um partido nazista, não tenha sido suficiente para termos aprendido algo significativo no sentido do respeito à diversidade, no entendimento da tolerância”, afirmou.

Lottermberg avaliou ainda que o Brasil é um país privilegiado. “Recebeu todos, é verdade, e a nós, judeus, mas todas as minorias, pessoas que vieram a este país e que puderam se reconstruir. Aliás, a história do Brasil é a história mais genuína daquilo que existe no contexto da aceitação da diversidade”, ressaltou.

Também presente na cerimônia, a representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil , Marlova Jovchelovitch Noleto, destacou que a fala de Monark foi além de defender a criação de uma partido nazista.

“Todos nós assistimos entre chocados e perplexos esse Flow Podcast, incitando não apenas a ideia de um partido nazista mas também a possibilidade de se ser antijudeu. De que maneira esses influenciadores se sentem à vontade e com liberdade para propor isso? Como é possível ser antijudeu? Como é possível ser antinegro, anti-índio, anti seja lá o que for, se nós temos como premissa da vida em sociedade o exercício da humanidade e do respeito aos direitos humanos?”, indagou.

Para Marlova Jovchelovitch é muito importante que situações como essas não sejam banalizadas e tampouco minimizadas. “Minimizando situações desse tipo é que situações assim progridem, ganham escala e se tornam verdade para muitos”, acrescentou.

A senadora Leila Barros (Cidadania – DF) lembrou ainda a manifestação feita pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), que participou do debate no Podcast Flow. “Eu fui uma das que utilizaram as redes sociais para repudiar e recriminar as declarações de um youtuber que defendeu a existência de um partido nazista no Brasil e de um deputado federal que sugeriu a não criminalização de grupos que comungam dessa ideologia”, criticou.

Após a repercussão da declaração, o deputado Kim Kataguiri publicou um vídeo, na tarde de ontem (9), pedindo desculpas pelas falas nas quais defendeu a descriminalização do nazismo. O parlamentar é alvo de pedidos de cassação de mandato e é alvo de investigação pela Procuradoria Geral da República.

Agência Brasil