Diretora da escola onde garota estudava conta como foi difícil retomar a rotina: ‘A gente se sente impotente’. Análise faz parte do Monitor da Violência, estudo feito pelo G1 em parceria com a USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Passados mais de seis meses da morte da estudante Tamires Paula de Almeida, de 14 anos, a rotina no Colégio Estadual Jardim América, em Goiânia, voltou ao normal. Para a diretora da instituição, Rosirene Dias Rosa, o fato da garota ter sido morta a facadas, por um colega, de 13, no prédio onde ambos moravam, tornou a situação mais difícil de ser encarada.

“A gente se sente impotente. Será que escola poderia ter feito algo para evitar essa tragédia?”, questiona.

A morte de Tamires é um dos oito assassinatos contra mulheres em Goiás analisados pelo Monitor da Violência. O projeto, que monitorou mortes violentas entre os dias 21 e 27 de agosto, contabilizou, em todo o país, 126 óbitos de mulheres enquadrados como homicídio, latrocínio ou suicídio. Das oitos mortes de mulheres ocorridas naquela semana no estado, só metade teve inquéritos concluídos e apenas a morte de Tamires foi considerada feminicídio. Além disso, somente o caso dela foi julgado após seis meses.

Tamires foi morta no dia 23 de agosto do ano passado. Logo após cometer o ato infracional, o garoto foi até a escola e confessou a autoria para o coordenador. Em seguida, ele e a diretora da instituição foram até o prédio. Sem saber que havia ocorrido, a mãe da vítima acabou ajudando a mãe do adolescente.

“Como a mãe do autor ficou muito desesperada, chorando, pedimos ajuda aos vizinhos. E justamente a mãe da Tamires é que saiu do apartamento dela, levou uma cadeira e ajudou a colocar a mãe do menino sentada. Demos água para ela e a todo tempo perguntando o que estava acontecendo”, disse Rosirene.

Em seguida, ela reconheceu a sandália da garota e identificou que se tratava de sua filha.

‘Caso emblemático’

A morte de Tamires é a única das ocorridas em Goiás que se trata de feminicídio – no caso, um ato infracional análogo ao crime, pois o suspeito é menor.

O delegado Luiz Gonzaga Júnior, titular da Delegacia de Apuração de Atos Infracionais (Depai) e responsável pelo caso, disse que a morte de Tamires é um “caso emblemático” em Goiás e explica por que qualificou o caso como feminicídio.

“Feminicídio é o homicídio praticado contra a mulher em situação de violência doméstica familiar e/ou casos em que há discriminação. Há um menosprezo em relação à condição da mulher. Nesse caso específico do homicídio da Tamires, se aplica esse segundo plano, ou seja, houve um menosprezo, houve uma discriminação à condição da mulher. O adolescente foi bastante claro, ele elegeu três alvos mulheres. Segundo ele, simplesmente por ser mulher, ser mais frágil e mais vulnerável”, disse.

“Aliada a essa tese de feminicídio, houve o abuso do meio de execução. A utilização de arma branca, desconfiguração do rosto e do corpo da vítima. Tudo isso demonstra uma relação de menosprezo, de ódio do autor em relação à vítima. Daí, nós entendemos que, por esse conjunto probatório, o adolescente praticou um ato infracional semelhado ao crime de feminicídio”, completa.

Outros casos

Além da morte de Tamires, outros três casos analisados pelo Monitor da Violência em Goiás tiveram as investigações concluídas. Todos tratam-se de suicídios. As vítimas são as seguintes:

  • Marilza Machado Lemes, de 43 anos, que morreu em Alexânia.
  • Nair Soares Rosa, de 46 anos, que morreu em Rio Verde.
  • Dayane da Silva, de 14 anos, que morreu em Caldas Novas.

Outros caso em que a principal hipótese é suicídio ainda segue em investigação. É a morte de Letícia Karen Marçal Pinheiro Roque Carneiro, de 22 anos. Esposa do vice-prefeito de Abadia de Goiás, Eduardo Rosa Carneiro, ela foi encontrada morta dentro de casa.

Ela apresentava um disparo no peito. O delegado responsável pelo caso, Arthur Fleury, disse que tudo aponta para um suicídio, mas ainda não concluiu a apuração.

“O computador dela ainda está na perícia e não voltou. Também faltam alguns detalhes, como saber como ela teve acesso a arma. Mas a principal hipótese é que ela tenha tirado a própria vida”, disse.

Nos outros três crimes da análise, a investigação ainda prossegue. Nos assassinatos de Karolyne Alves Pereira, de 21 anos, em Goiânia, e de Elaine Cristina Salviano de Lima, de 35, em Águas Lindas de Goiás, os suspeitos ainda não foram presos e nem identificados.

Já em relação ao homicídio de Michaelly Daise Costa Pereira, de 27 anos, o delegado responsável, Hellyton Carlos de Miranda Carvalho, informou, no último dia (27), que não poderia dar nenhuma informação para não atrapalhar as investigações.

 

G1/Goiás