Houve piora em 17 das 26 atividades e em todas as categorias econômicas de bens intermediários, de consumo e de capital.
A produção industrial brasileira registrou em junho uma queda de 0,6% na comparação com maio, segundo divulgou nesta quinta-feira (1º) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o segundo mês seguido de contração do setor – em maio, a indústria teve queda de 0,1%.
Com os resultados de junho, a indústria brasileira operou em um patamar 17,9% abaixo do ponto mais elevado da série histórica, alcançado em maio de 2011. “Isso remete ao patamar em que a indústria operava no começo de 2009”, destacou o gerente da pesquisa, André Macedo.
Nos dois meses seguidos de perdas na produção, a indústria acumula queda de 0,7%. “Em comum para esses dois meses, além do resultado negativo, é o próprio perfil disseminado de quedas. Temos 17 dos 26 ramos industriais com quedas na produção. Por categorias econômicas, todas elas também acumulam queda na passagem de maio para junho”, enfatizou Macedo.
Bens de capital foi o ramo da indústria que mais perdeu em termos de patamar de produção, ficando 32,7% abaixo do seu pico de produção, registrado em setembro de 2013.
Na comparação com junho do ano passado, a queda da indústria foi mais acentuada, de 5,9%. O Instituto aponta que, além da redução do ritmo, contribuiu para o resultado do mês o chamado ‘efeito calendário’, já que junho de 2019 teve dois dias úteis a menos que o mesmo mês do ano passado. Com isso, o setor acumula queda de 1,6% no primeiro semestre do ano.
“Ainda assim, mesmo que eliminado esse efeito calendário, o resultado viria negativo”, ressaltou Macedo.
Acumulado no semestre
A indústria fechou o primeiro semestre deste ano com queda de 1,6% em sua produção. No primeiro semestre do ano passado, o saldo havia sido de um crescimento de 2,2%, seguido por uma estabilidade (0,0%) no segundo semestre.
“Especialmente a partir do segundo semestre do ano passado, a gente vê claramente que a produção industrial vem perdendo fôlego. Está claramente em um momento de desaceleração, e isso a gente percebe também quando observa os resultados trimestrais”, apontou o gerente da pesquisa, André Macedo.
Segundo o pesquisador, na comparação com o primeiro trimestre do ano, a indústria recuou 0,7%. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a queda foi de 1%. Foi o terceiro trimestre seguido de quedas, já que na comparação do segundo trimestre de 2018 com o primeiro do mesmo ano, houve recuo de 0,6%.
Atividades e setores
Entre as atividades, a piora na indústria na passagem de maio para junho foi puxada principalmente pelas quedas em produtos alimentícios (-2,1%), máquinas e equipamentos (-6,5%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-1,7%), que representam, juntas, cerca de um terço da produção total.
“São segmentos importantes que precisam de uma demanda doméstica mais fortalecida e que são diretamente afetados por um mercado de trabalho ainda longe de uma recuperação consistente”, explica Macedo.
Ainda em relação ao mês anterior, houve perdas em todas as grandes categorias econômicas, sendo a mais intensa de 1,2% em bens de consumo semi e não duráveis. As demais taxas negativas foram em bens de consumo duráveis (-0,6%), de capital (-0,4%) e intermediários (-0,3%).
Ainda os efeitos de Brumadinho
Na comparação com os dados de maio, a indústria extrativa teve alta de 1,4%, em sua segunda taxa positiva consecutiva, acumulando 11% de alta, ainda insuficiente para repor a perda acumulada de 25,6% entre janeiro e abril, quando registrou quatro quedas seguidas.
“Apesar destas duas últimas altas seguidas, a indústria extrativa ainda sofre uma relação direta com o acidente de Brumadinho, por causa do minério de ferro”, apontou Macedo. Segundo o pesquisador, a indústria extrativa representa cerca de 11% da indústria geral no país.
Na comparação com junho de 2018, o setor teve queda de 16,3%, também pressionado pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro deste ano, que fez com que algumas atividades extrativas deixassem de funcionar ou o fizessem em ritmo menor.
No semestre, a produção da indústria extrativa teve queda de 13,7% na comparação com o mesmo semestre do ano anterior. Já a indústria de transformação teve alta de 0,2% no mesmo período.
“Se a gente considerar apenas a indústria da transformação, excluindo o resultado da extrativa, no semestre a indústria teria acumulado alta de 0,2%, não a queda de 1,6%”, disse Macedo. “A despeito do -1,6% da queda no semestre e da alta de 0,2% da indústria de transformação, ainda assim tem razões para essa indústria estar longe de mostrar qualquer sinal de recuperação”, afirmou.
Ele apontou que a conjuntura econômica impede avanço do setor industrial. Dentre outros fatores, ele apontou o fato de ainda haver muita gente fora do mercado de trabalho, as pesquisas de intenção de consumo ainda mostrando um cenário de pessimismo, o aumento no nível de estoque da indústria e as perdas associadas à crise na Argentina.
“Quando a gente observa um segmento como o de bens intermediários, que é um grupamento com quase 50% do total da indústria, sendo o único negativo [no acumulado do ano] entre as categorias econômicas, a gente tem um pouco da dimensão dos impactos que a redução na extração do minério de ferro tem sobre o contexto da indústria como um todo”, enfatizou Macedo.
Fonte: Portal G1