Caso teria ocorrido em 1973; promotoria investiga rede para acobertar crimes do médium


O médium João de Deus –em prisão preventiva desde dezembro e denunciado por abuso sexual e estupro– teria tentado assassinar uma mulher após estuprá-la, segundo aponta a própria vítima. O crime, que teria ocorrido em 1973, foi revelado pelo programa “Fantástico”, da “TV Globo”. Uma mulher que preferiu não se identificar por medo de represálias afirmou que, há cerca de 46 anos, foi estuprada e baleada por João de Deus em Alexânia, cidade próxima à Abadiânia, onde o médium vivia. Ela relata que João de Deus a levou ao local sob o pretexto de fazer uma “lavagem espiritual”.

Após o estupro, a vítima contou que teve uma hemorragia e que, em razão disso, ele decidiu matá-la –a mulher diz ter sido atingida por quarto tiros. Ainda de acordo com ela, achando que a então adolescente estava morta, João de Deus a jogou em um rio. “Por sorte, um pescador me achou e me levou para um hospital”, relatou em entrevista.

O suposto crime já prescreveu, mas, de acordo com o Ministério Público, as revelações podem ajudar a traçar o perfil criminológico de João de Deus. “Alguns desses relatos trazem perplexidade até para nós, que estamos acostumados a lidar com esse tipo de crime”, disse o promotor Luciano Miranda Meireles.

A reportagem ainda tratou do assassinato de uma alemã em 2006 que, segundo testemunhas ouvidas pelo Fantástico, teria sido mandado por João de Deus. A morte da alemã teria acontecido por conta de críticas à Casa Dom Inácio, local onde o médium atuava. Uma testemunha prestou depoimento após a prisão de João de Deus. O processo foi arquivado em 2016.

A reportagem do programa teve acesso a inquéritos contra João de Deus que não tiveram desdobramentos. Em um deles, o médium foi detido em 1985 com 300 kg de autunita, um minério que pode dar origem ao urânio. À época, ele alegou à Justiça que fora enganado e que desconhecia que o material era radioativo.

Segundo o Ministério Público, uma rede de delegados, policiais e autoridades protegia João de Deus. “Era uma proteção para ele sair impune, forjar provas de sua inocência”, disse o promotor Augusto Borges Souza à “TV Globo”. Segundo a reportagem, dois delegados e um PM estão sendo investigados por suposta proteção que davam ao médium.

O advogado de João de Deus Alberto Toron pediu cautela ante as denúncias e ponderou que muitas acusações não têm provas.

Fonte: UOL