O adesivador de táxis Daniel Campelo, que teve um olho retirado após ser atingido por uma bala de borracha atirada pela Polícia Militar, teve alta hospitalar após três dias de internação. O trabalhador foi agredido durante uma ação truculenta da PM em repressão a um protesto pacífico contra Bolsonaro (sem partido), no Recife. Além dele, outro homem também perdeu um olho no ataque.

Também nesta quarta-feira, as famílias dos feridos participam de uma reunião na sede da Procuradoria Geral do Estado, junto com o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, e o Procurador Geral do Estado, Ernani Médicis.

Apesar de Daniel estar internado no Hospital da Restauração, a alta hospitalar foi dada pela Fundação Altino Ventura, unidade de referência em oftalmologia, que acompanha o caso. Na segunda-feira (31), ele passou por cirurgia.

No procedimento, foi retirado o globo ocular esquerdo do trabalhador, que sequer estava na manifestação. Vídeos mostram o momento em que, ferido, Daniel pede socorro deitado na Ponte Duarte Coelho (veja vídeo acima).

Os policiais atiravam nas pessoas que tentavam socorrer os feridos. Um dos participantes do ato consegue arrastá-lo para fora da mira dos policiais. O fotógrafo Hugo Muniz registrou o momento em que, ensanguentado, o adesivador é amparado por manifestantes.

O outro homem que perdeu parte da visão foi Jonas Correia de França, de 29 anos. Ele saía do trabalho quando foi surpreendido pela polícia atirando balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta nos participantes da manifestação.

Ele levou um tiro no olho direito e foi internado no mesmo quarto que Daniel. Familiares precisaram sair de casa, no bairro de Santo Amaro, Centro do Recife, para socorrê-lo.

De acordo com a esposa de Jonas, a dona de casa Daniela Barreto de Oliveira, na manhã desta quarta-feira (2), ele foi encaminhado à Fundação Altino Ventura para passar por cirurgia.

Violência policial
A ação truculenta (veja vídeo abaixo) deixou pessoas feridas e duas delas tiveram perda parcial de visão. A vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida por spray de pimenta no rosto. O cantor Afroito foi preso na manifestação e disse que temeu ser sufocado.

Daniel Campelo, de 51 anos, foi atingido no olho por policiais militares durante protesto contra Bolsonaro no Recife — Foto: Hugo Muniz

Ainda no sábado (29), a vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) declarou que o estado não tinha determinado a ação. O governador Paulo Câmara (PSB) informou, no mesmo dia, que tinha afastado o comandante da ação e policias envolvidos na agressão à vereadora.

Até esta quarta, o estado não divulgou os nomes dos PMs punidos. Na segunda (31), o secretário de Justiça, Pedro Eurico, repetiu que a ordem não partiu do governo e disse que “não há uma Polícia Militar paralela em Pernambuco”.

Antes do anúncio da troca de comando na PM, o secretário de Defesa Social (SDS) esteve, na terça, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).

Ele participou de uma reunião na Comissão de Direitos Humanos. mas saiu sem falar com a imprensa. Para os parlamentares, falta esclarecer de onde partiu a ordem para atirar nos manifestantes.

A presidente do colegiado, Jô Cavalcanti, do coletivo Juntas (PSOL), disse que ficaram faltando respostas. O presidente do Legislativo, Eriberto Medeiros (PP), afirmou que o secretário disse que a ordem não teria partido dele, mas não disse quem determinou a repressão.

O Ministério Público de Pernambuco abriu um inquérito civil. Nesta terça, o MPPE disse que o secretário Antônio de Pádua foi alertado para o protesto de sábado pela 7ª Promotoria de Justiça e Direitos Humanos, que solicitou que ele orientasse a Polícia Militar para “evitar eventuais excessos”.

G1