A série Black Mirror foi um dos maiores sucessos da última década, principalmente depois de ter sido adquirida pela Netflix, o que permitiu que mais gente tivesse acesso a ela. A antologia é toda baseada na dependência humana da tecnologia e traz episódios focados em mostrar como isso pode despertar o pior lado das pessoas. Sempre com uma revelação chocante no final, o seriado tem a fama de ser responsável por reflexões momentâneas com seus famosos “socos no estômago”. Porém, como a tecnologia vem avançando muito rapidamente, algumas das coisas mostradas em Black Mirror estão cada vez mais próximas da realidade.
No primeiro episódio da segunda temporada, chamado “Be Right Back”, acompanhamos a história do casal Martha (Hayley Atwell) e Ash (Domhnall Gleeson). Um dia após a mudança, Ash acaba falecendo, o que leva Martha a um processo de tristeza profunda. Ao descobrir que está grávida, ela decide utilizar um serviço que, baseado nas publicações das redes sociais do falecido, consegue criar um tipo de inteligência artificial capaz de conversar como se fosse o próprio morto. Conforme o desenvolvimento do episódio, descobrimos que a empresa também entrega um corpo artificial que pode ter a “personalidade” baixada em seu sistema. Pois bem, essa segunda parte ainda está longe de ser realidade, mas a primeira está mais perto do que podemos imaginar. Isso porque, na última semana, a Microsoft conseguiu a patente para um produto que conseguiria fazer exatamente o que o aplicativo do episódio faz. Esse “chatbot”, porém, não deverá ser lançado por questões éticas. Afinal, como alguém morto poderia autorizar o acesso a seus dados ou a recriação de sua personalidade?
Em outubro de 2020, as pessoas começaram a se chocar com um episódio da primeira temporada da série, com alguns fãs, inclusive, chegando a afirmar que Black Mirror teria previsto a pandemia de Covid-19. Em “Fifteen Million Merits”, conhecemos Bing (Daniel Kaluuya) um jovem que conhece Abi (Jessica Brown Findlay), uma aspirante a cantora que vira sua musa. Querendo ajudá-la a fugir da escravidão do sistema de crédito em que eles vivem, no qual eles pedalam para conseguir pagar as dívidas, ele pedala o suficiente para mandá-la ao programa de talento deles. Vamos parar por aqui para evitar spoilers, porque esse episódio é fantástico e merece ser visto. Apesar de termos um sistema de créditos parecido em alguns lugares do mundo, a tecnologia que já virou realidade foi justamente a plateia virtual do show de talentos. Com a pandemia da Covid-19, a presença nos programas de auditório e nos reality shows ficou vetada para evitar o aumento do contágio. A solução então foi montar uma plateia virtual com participação via internet.
Em “Nosedive”, o primeiro episódio da terceira temporada da série, o mundo é comandado por um sistema de avaliação pessoal, no qual a nota é preponderante para o status social dos seres humanos. Tipo o sistema de nota nos aplicativos de transportes, mas válido para tudo na vida. Nessa trama, seguimos Lacie (Bryce Dallas Howard), uma mulher jovem que tem nota 4.2 e está fazendo de tudo para melhorar sua avaliação no ranking. Esse vício a leva a tomar atitudes questionáveis para agradar aos outros e subir sua “nota social”. O episódio é uma clara metáfora ao vício nas redes sociais, mas esse sistema de notas, por mais absurdo que pareça, está sendo posto em prática na China. Baseado nos inúmeros sistemas de crédito do ocidente, que dificultam muitas pessoas a conseguirem parcelas ou empréstimos por conta de seu score bancário, o Sistema de Crédito Social Chinês está tentando implementar no país essa ferramenta de avaliação pessoal baseada em coleta de dados virtuais e reconhecimento facial para, dado o comportamento da pessoa, ela ganhe recompensas ou punições. As atividades que reduzem a avaliação são coisas como infrações de trânsito, não visitar os pais idosos, comportamento fraudulento ou criar dívidas e não pagá-las, e por aí vai. É uma tentativa do governo de tentar criar mais confiança, principalmente em transações financeiras, e de educar o povo.
Já no terceiro episódio da primeira temporada (“The Entire History of You”), vemos um homem, Liam (Toby Kebbell), que está com a suspeita de que sua esposa (Jodie Whittaker) está tendo um caso com um amante secreto. Nesse contexto, eles usam um implante que grava tudo aquilo que eles vivem, permitindo aos usuários que tenham acesso a suas memórias como se fossem um filme, podendo reproduzi-las quantas vezes quiserem. Essa crise de ciúmes coloca o relacionamento dos dois em crise, chegando ao ponto dele tentar forçá-la a reproduzir suas memórias com o suposto amante. Há aproximadamente dois anos, o empresário Elon Musk anunciou que está trabalhando em um chip que será introduzido no cérebro das pessoas por meio de uma cirurgia para possibilitar a conexão neural com computadores. A ideia é que isso permita a solução de problemas como a insônia, a depressão e até mesmo corrigir problemas na coluna e no próprio cérebro. Além de alertar para a prevenção de derrames e permitir que pessoas com deficiências física realizem atividades como digitar, passar músicas e jogar videogame sozinho. Outra função que o chip teria é o armazenamento de memórias, praticamente igual ao que é feito na série. No momento, o projeto está sendo testado em porcos, o que é uma fase bem avançada.
Todas as temporadas de Black Mirror estão disponíveis na Netflix.
CinePop / R7