Em entrevista, ela explica seu nome artístico, reclama da pamonha paulista e diz que gostaria de conhecer a Mulher Pepita. Ela fala ainda sobre ansiedade antes de abrir o festival e ‘medo de cantar mal’.
Quem vê o nome BRVNKS no line-up do Lollapalooza, no YouTube ou no Twitter tem uma certa dificuldade de entender que se trata de Bruna Guimarães, cantora goiana de indie pop. “Falam tudo Brinks, Branks, Brevents, Brivinkis, menos Brunks”, conta.
Como esse é seu apelido desde a “época do Orkut” e o @brunks já estava sendo usado por outra pessoa, ela optou por trocar a letra, mas não achou que causaria tanta confusão assim.
“Eu achei que fosse mais óbvio, sabe? Igual aqui em São Paulo tem nome de igreja, nome de escola que o U tá trocado por V, então na minha cabeça era muito óbvio que as pessoas iam saber que era Brunks, porque o V parece U. Mas a galera…nossa senhora.”
A goianiense de 23 anos mora em São Paulo há um pouco mais de dois, começou a faculdade de Tecnologia da Informação e hoje trabalha na “parte de web”, em uma empresa de tecnologia.
Nas últimas duas semanas, conciliou a rotina no novo trabalho, enquanto preparava a setlist, pensava no figurino e nas projeções, além de ensaiar o show que fez no Lollapalooza, nesta sexta (5). Ela abriu o palco principal, o mesmo do Arctic Monkeys.
Com um som indie e músicas em inglês, Brvnks tocou “Tristinha”, “Yas Queen”, do seu primeiro EP, além de duas que nunca tinham sido tocadas ao vivo. São elas: “Fred” e “I am my own man” do seu disco de estreia “Morri de Raiva”, que será lançado em maio.
Na última sexta (29), a faixa “Fred”, que é dedicada a um amigo que faleceu, foi disponibilizada. “Acho que ele ia ficar muito feliz, porque ele amava muito a banda. Ele ia achar o máximo que tivesse uma música com seu nome.”
Em entrevistas anteriores, ela diz que costuma ficar tranquila dias antes de shows, mas não durante: “É mais um medo de cantar mal, sei lá, de fazer alguma merda. Na hora que dá mais nervoso assim”.
Começo com covers e indie goiano
Os primeiros covers foram de “umas coisas indiezinhas”, como Pixies, Basement, Subways. “Harry”, sua primeira música, veio aos 17 anos. Tímida, só os amigos mais próximos sabiam que ela estava compondo e gravando. “Era totalmente segredo.”
Amiga de bandas goianas, ela lembra que quase entrou no Boogarins, quando eles estavam começando. “Tinha até um papo de eu tocar bateria, mas eles moravam bem longe, mas ficava difícil de ir.”
Logo depois suspira e diz “ai se eu pudesse voltar no tempo, e aceitar o convite”. Ela conhece o Benke Ferraz, guitarrista do Boogarins desde “novinha” e lembra dos almoços juntos, já que ele namorava sua melhor amiga.
‘Música besta’ salvou da depressão
Bvnks conta que teve depressão dos 13 aos 19 anos, sem entrar em detalhes. Hoje ela avalia que conseguiu se “curar 100% disso”, mas que tem problemas para lidar com raiva.
“Quem me conhece sabe que sou sem paciência, que fico muito estressada, gastriste e dermatite nervosa, todas essas coisas”, completa. Ela está aprendendo a lidar com isso na terapia.
Na quarta (3), a cantora escreveu uma série de posts na internet, que classificou como “mais um desabafo mesmo”: “Se não fosse a banda, eu não teria nada do que eu tenho agora. Se não fosse vocês me apoiarem nas música besta que eu faço, provavelmente ainda estaria na merda.”
Se pudesse descrever sua música para alguém que ainda não a conhecesse, o que falaria?
“Acho difícil falar alguma coisa além de indie, né? Não sei se encaixa num indie mais pop, talvez num indie mais rock… indie pop e rock sei lá…”, descreve, rindo de sua indecisão.
Depois de abrir os shows de Courtney Barnett, a artista australiana virou uma referência na sua produção. Ela cita também a americana Cat Power e diz que adoraria conhecer a Mulher Pepita por tudo que ela representa no feminismo.
“Ah é uma pessoa que tem uma confiança muito foda e acho isso muito legal. Ela sobre as coisas de gênero, feminismo, machismo, respeito, igualdade e representa bem”, diz a cantora, que constantemente fala sobre o tema nas redes sociais.
Lollas anteriores
Brvnks guardava dinheiro para ir todo ano no festival. Apesar de ter várias momentos bons e histórias engraçadas, tem na bagagem alguns episódios frustrantes.
Em 2013, chegou exatamente na hora que Franz Ferdinand falava “Obrigada Brasil, até mais”. Era sua primeira vez no festival e a banda escocesa era a atração que mais queria ver.
Saudades da minha terra?
Brvnks é direta e diz que só sente falta da comida da cidade natal. “É muito bom morar sozinha, né? Tenho mais liberdade e sempre quis morar aqui, então é um alívio ser mais independente”, afirma.
E qual é a comida que a faz morrer de saudade? “Pamonha! Uma pamonha que preste. (A daqui é) muito ruim, nossa”, conta que já foi até nas barracas mais caseiras de festas juninas, mas não teve jeito.
“Em Goiânia é tudo feito na banha do porco, derretendo, nossa é bom demais. Aqui é uma pamonha meio dura, meio farelenta”, finaliza, claramente com água na boca, depois de sair do trabalho.
Fonte: Portal G1