Pacientes de câncer com a covid-19 e que foram tratados com uma combinação de medicamentos promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para combater o novo coronavírus têm três vezes mais chances de morrer em 30 dias do que os que tomaram qualquer um dos medicamentos sozinhos, afirmaram pesquisadores norte-americanos.
Resultados preliminares sugerem que médicos poderiam se abster de prescrever o medicamento hidroxicloroquina, que é utilizado em combinação com o antibiótico azitromicina há décadas para o tratamento da malária. Os pesquisadores pedem que aguardem mais estudos.
“O tratamento com a hidroxicloroquina e a azitromicina estão fortemente associados com o risco elevado de morte”, afirmou o Dr. Howard Burris, presidente da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), em conversa com jornalistas sobre os resultados.
Inicialmente, acreditava-se que a combinação de medicamentos poderia ajudar os pacientes de covid-19, mas dados recentes colocaram o protocolo em dúvida.
Os achados preliminares, que serão apresentados nesta semana em uma reunião científica virtual da Asco, mostram que a combinação apresenta risco significativo para pacientes com câncer.
“Tomar a combinação garante um risco três vezes maior de morte em 30 dias e de qualquer causa”, disse o Dr. Jeremy Warner, do Sistema Médico da Universidade Vanderbilt.
Trump, que defendeu o uso da hidroxicloroquina, chamou a combinação em um tuíte no dia 21 de março de potencialmente “um dos maiores divisores de águas na história da medicina”.
A afirmação foi baseada em estudo com menos de 40 pacientes do Jornal Internacional de Agentes Antimicrobianos. Estudos recentes, no entanto, mostraram poucos ou nenhum benefício, além de riscos maiores.
Warner e seus colegas analisaram dados de 925 pacientes com câncer que se infectaram com o novo coronavírus entre março e abril e verificaram que 13% deles morreram nos 30 dias seguintes ao diagnóstico.
De maneira geral, pacientes com câncer em estágio progressivo no momento da infecção apresentaram cinco vezes mais chances de mortalidade, em um período de 30 dias, do que os que estavam em remissão ou que não tinham evidências de câncer no momento do tratamento.
No estudo, 180 pacientes tomaram hidroxicloroquina em combinação com a azitromicina, e 90 tomaram apenas a hidroxicloroquina.
A Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) permitiu que agentes de saúde prescrevessem os medicamentos para a covid-19 com uma autorização de uso emergencial, mas não aprovou o tratamento.
Os governos da França, Itália e Bélgica agiram para suspender na quarta-feira (27) o uso da hidroxicloroquina para pacientes de covid-19, após uma decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de realizar amplo estudo do medicamento devido a preocupações de segurança.
Agência Brasil