O fazendeiro Elmi Caetano Evangelista, de 73 anos, foi indiciado pela Polícia Civil por ajudar Lázaro Barbosa a fugir da força-tarefa em Cocalzinho de Goiás e por posse ilegal de arma de fogo. Ele foi preso na semana passada suspeito de abrigar o fugitivo em sua propriedade rural por cinco dias. Segundo o delegado que investiga o caso, Raphael Barboza, o homem continua preso.

G1 pediu um posicionamento da defesa do fazendeiro sobre o indiciamento, às 14h20, por mensagem e aguarda retorno. Ele sempre negou qualquer envolvimento com Lázaro Barbosa.

A morte do fugitivo aconteceu na segunda-feira (28) após buscas que duraram 20 dias com a participação de mais de 270 policiais. Ele foi baleado durante confronto com a Polícia Militar.

Veja como fica a situação de cada suspeito de ajudar na fuga:

  • Caseiro do fazendeiro indiciado: O delegado Raphael Barboza não indiciou o caseiro por falta de elementos que provassem o envolvimento dele na fuga. Ele foi preso no dia 24 de junho, mas liberado no dia seguinte após audiência de custódia;
  • Ex-mulher de Lázaro: Foi levada para a delegacia de Águas Lindas de Goiás no dia 28 de junho por suspeita de ajudar na fuga. Ela não foi presa. O delegado Cléber Martins ainda não a ouviu formalmente para decidir se há elementos para embasar algum crime;
  • Ex-sogra de Lázaro: Foi levada para a delegacia de Águas Lindas junto com a filha, no dia 28 de junho. Ela não foi presa. O delegado também não colheu um depoimento formal. Cléber Martins disse que ela confirmou que Lázaro passou na casa e deixou R$ 350 para o filho dele;
  • Elmi Caetano Evangelista: O fazendeiro foi indiciado por ajudar Lázaro na fuga e por posse ilegal de arma de fogo. As penas podem chegar a 4 anos de prisão. Até o dia 30 de junho, ele estava preso em Cocalzinho de Goiás.

Pistas falsas

Dias antes de ser preso, o fazendeiro abordou o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, durante buscas para dar pistas falsas sobre o paradeiro do fugitivo.

Em buscas por matas da região, no sábado (19), o secretário contou que foi abordado por ele na porta da fazenda. O homem relatou que Lázaro teria fugido para outra propriedade da região, enquanto o abrigava na sua casa.

  • Veja como fazendeiro teria ajudado a esconder Lázaro Barbosa, segundo caseiro
Fazendeiro aborda secretário de Segurança Pública durante buscas em Cocalzinho de Goiás — Foto: Wesley Costa/O Popular
Fazendeiro aborda secretário de Segurança Pública durante buscas em Cocalzinho de Goiás — Foto: Wesley Costa/O Popular

“Quando eu voltava, um senhor nos parou na porta de uma fazenda, era o [fazendeiro preso], me falando que o Lázaro tinha passado na propriedade dele, amassado uma cerca e que estava na propriedade vizinha”, contou Miranda ao Podcast do Fantástico.

Seis dias depois do primeiro encontro, o secretário voltou à região na quinta-feira (24) para prender duas pessoas suspeitas de ajudar a fuga. Chegando ao portão da fazenda, Miranda relata que se lembrou do local e do fazendeiro.

“No dia da prisão [24], quando estávamos indo para lá, eu entrei no portão e falei: ‘Opa. Eu sei quem é esse sujeito, é o cara que me procurou’. Ele estava fazendo uma contrainformação ali para sentir, e possivelmente, para ‘vazar’ com o sujeito”, ressaltou.

A investigação apontou que o fazendeiro é estelionatário. “Uma pessoa complicadíssima”, segundo Miranda. A polícia apura se Lázaro participava de uma rede criminosa, a que o protegeu durante todos os dias de fuga.

Miranda disse que não sabe ainda o tamanho desse grupo, mas que há suspeita de que as pessoas que o ajudavam tenham relação com algum crime que ele tenha cometido.

O secretário de Segurança Pública explicou que a morte de Lázaro não encerra todas as investigações sobre o caso.

“São 30 crimes que são de autoria confirmada dele. Temos oito em aberto, já com todos os indícios que foi ele que cometeu. Temos agora que ver se ele estava indo sozinho, se tem algum coautor nesses crimes ou algum mandante”, disse.

Relação de proximidade

O depoimento de um major do da PM relata que o caseiro revelou uma relação de proximidade entre o fazendeiro e a família de Lázaro. O patrão teria prestado auxílio financeiro aos familiares quando o irmão de Lázaro morreu.

A mãe e o tio do fugitivo já trabalharam para o fazendeiro. No dia em que a polícia conseguiu entrar na casa, um militar viu o nome do tio de Lázaro escrito com tinta numa parede da residência.

Reféns eram obrigados a cozinhar

As investigações já haviam apontado que o criminoso também forçava as vítimas a tiraram as roupas e as obrigava a cozinhar para ele.

Foi o que aconteceu quando ele fez um casal e a filha adolescente reféns. Segundo o irmão da garota, os parentes que foram ameaçados pelo criminoso contaram que precisaram se despir e eram ameaçados constantemente.

Os policiais descobriram ainda que Lázaro, ao invadir as chácaras, pegava alimentos e itens de higiene para se manter em fuga. Imagens feitas por uma moradora e outras por policiais mostram casas todas reviradas, que podem ter sido alvos de Lázaro.

Segundo a Polícia Civil, os crimes em que as investigações apontaram que Lázaro agiu sozinho serão arquivadas. No entanto, os inquéritos em que há indícios de participação de outras pessoas seguem sendo apurados.

Polícia atirou 125 vezes

O boletim de ocorrência revela que os policiais atiraram 125 vezes durante a troca de tiros. A Secretaria Municipal de Saúde de Águas Lindas, onde Lázaro teria sido atendido antes de morrer, informou que ele foi atingido por pelo menos 38 tiros.

O secretário de Segurança afirmou que o suspeito descarregou uma pistola contra os policiais. Com ele, foi encontrado um revólver calibre 38, uma pistola, munições, dinheiro e alimentos.

“Ele descarregou a pistola contra os policiais e não tivemos outra alternativa se não revidar”, afirmou.

Traslado para Goiânia

Após ser baleado, Lázaro foi socorrido com vida, mas morreu a caminho do Hospital Municipal Bom Jesus, em Águas Lindas de Goiás, segundo Miranda.

Muitos populares se reuniram na porta da unidade de saúde. No local, também havia viaturas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu), Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Polícia Civil.

A Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) ajudou a controlar o acesso de veículos da avenida em frente à unidade.

Momento em que corpo de Lázaro Babosa chega ao IML de Goiânia — Foto: João Victor Guedes\TV Anhanguera
Momento em que corpo de Lázaro Babosa chega ao IML de Goiânia — Foto: João Victor Guedes\TV Anhanguera

Às 11h10, um carro do Instituto Médico Legal chegou ao hospital de Águas Lindas para buscar o corpo e levá-lo para Goiânia.

Segundo a Polícia Técnico-Científica, apenas depois dos exames será possível identificar a quantidade de disparos de arma de fogo atingiu o suspeito.

Fotos de Lázaro Barbosa divulgadas pela Polícia Civil — Foto: Montagem G1
Fotos de Lázaro Barbosa divulgadas pela Polícia Civil — Foto: Montagem G1

Confronto

O fugitivo foi atingido por cerca de 38 tiros durante confronto com a PM, segundo a prefeitura de Águas Lindas. Um vídeo mostra quando Lázaro chega na unidade de saúde.

Apesar da troca de tiros, nenhum policial foi ferido. O secretário de Segurança Pública detalhou ainda que o suspeito foi socorrido com vida, mas morreu a caminho do hospital.

Rodney Miranda contou sobre o cerco que terminou com o confronto. De acordo com ele, os policiais viraram a madrugada procurando o fugitivo, “até que hoje cedo finalizamos a ocorrência e com todos policias bem e o grande objetivo de não deixar ele machucar mais ninguém”, afirmou.

Arma apreendida com Lázaro Barbosa, em Águas Lindas de Goiás — Foto: Reprodução\Polícia Militar
Arma apreendida com Lázaro Barbosa, em Águas Lindas de Goiás — Foto: Reprodução\Polícia Militar

Buscas por 20 dias

Enquanto fugiu por esses 20 dias dias, Lázaro é suspeito de invadir ao menos 11 fazendas, atirar em moradores, dois policiais militares e um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB).

Além disso, Lázaro fez uma família refém – o casal e uma adolescente de 16 anos. Durante o sequestro, as vítimas contaram que o criminoso exigiu que eles andassem em córrego para não deixar rastros. Imagens registraram quando a polícia encontrou os três. Veja vídeo acima.

Cláudio Vidal, Cleonice Marques, Gustavo Vidal e Carlos Eduardo Vidal foram mortos por Lázaro Barbosa — Foto: Arquivo pessoal
Cláudio Vidal, Cleonice Marques, Gustavo Vidal e Carlos Eduardo Vidal foram mortos por Lázaro Barbosa — Foto: Arquivo pessoal

Drones, helicópteros, rádios comunicadores e até um caminhão que tem plataforma de observação elevada de vídeo monitoramento ajudavam na procura. As autoridades policiais informaram que ele tinha facilidade de se esconder por ser mateiro, caçador e conhecer bem a região.

RELEMBRE ALGUNS MOMENTOS:

Cães farejadores também atuaram na caçada ao Lázaro, entre eles, cadela Cristal, que ajudou nas buscas em Brumadinho (MG). Um vídeo divulgado pela Polícia Militar mostra o momento em que um pastor alemão do Comando de Policiamento de Cães (CP Cães) é carregado nas costas por um militar após se ferir durante as buscas.

Durante as buscas, os policiais ainda encontraram um carro queimado e alguns objetos, como um lençol usado e um serrote. Todos os itens passam por perícia para verificar se eles tem relação com Lázaro Barbosa(Veja vídeo abaixo).

O secretário de Segurança Pública informou que Lázaro Barbosa seguia um ritual ao atacar as vítimas.

“Ele leva para beira do rio, manda tirar as roupas e uns ele acaba matando. Acredito que esse seria o destino dessa família hoje”, disse secretário.

G1