A partir do depoimento do empresário Carlos Wizard, convocado na última quarta-feira (26) para depor, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid pretende oficialmente investigar o funcionamento no Palácio do Planalto de um “ministério paralelo” ou “gabinete paralelo” da Saúde.

Esse “gabinete” teria indicado as diretrizes para o enfrentamento da pandemia, entre as quais a adoção do chamado tratamento precoce – comprovadamente ineficaz – da Covid.

Mas, para além do “ministério paralelo”, senadores do chamado G7, grupo majoritário da CPI, formado por parlamentares independentes e de oposição, querem aproveitar o depoimento do empresário para avançar sobre outro foco de investigação da comissão: a propagação de notícias falsas e de campanhas de desinformação relativas à pandemia.

O empresário, fundador da franquia de escolas de inglês Wizard, da qual já se desligou, atuou no Ministério da Saúde como “conselheiro” do ex-ministro Eduardo Pazuello.

Wizard chegou a ser convidado para assumir uma secretaria na pasta, mas, segundo Pazuello, após um mês atuando informalmente, recusou a proposta.

O depoimento de Wizard está previsto para o próximo dia 17. O G1 telefonou e enviou mensagens ao empresário, mas não havia conseguido contato até a publicação desta reportagem.

“Para que seja possível esclarecer os detalhes de um ‘ministério paralelo da saúde’, responsável pelo aconselhamento extraoficial do governo federal com relação às medidas de enfrentamento da pandemia, incluindo a sugestão de utilização de medicamentos sem eficácia comprovada e o apoio a teorias como a da imunidade de rebanho, faz-se necessária a oitiva do senhor Carlos Wizard Martins, alegadamente membro de referido grupo”, determinou o pedido de convocação, apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

Fake news

Na visão dos senadores, a difusão de fake news seria um desdobramento da atuação do chamado “assessoramento paralelo”, apontado pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em depoimento à CPI.

A comissão busca mapear o caminho da propagação de informações que estimularam tratamentos sem eficácia para o enfrentamento à doença, como a divulgação de remédios já comprovadamente sem efeito para o coronavírus, e quem bancaria a ação.

“Nós já temos certeza de que há uma operação por meio das mídias sociais. O Carlos Wizard não está vindo pelo gabinete paralelo. Ele financia isso”, afirmou um senador da cúpula da CPI.

Um outro senador, também em importante posição na comissão, confirmou essa frente de investigação.

Os congressistas aventam a possibilidade de quebrar o sigilo bancário do empresário para apurar se houve destinação de verba a pessoas ou empresas envolvidas em fake news.

Na avaliação de membros da CPI, a difusão de conteúdo falso preocupa porque pode causar a falsa percepção na população de que a doença já teria cura ou que existiria algum tipo de tratamento preventivo.

Proximidade com o governo

Seja pela afinidade com as opiniões do governo seja pela amizade com Pazuello, Wizard tornou-se uma figura frequente na órbita do governo Bolsonaro.

O empresário exibe nas redes sociais fotos com os principais nomes do primeiro escalão do governo, como o vice-presidente Hamilton Mourão, os ministros Paulo Guedes (Economia), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e André Mendonça (Advocacia-Geral da União), além da primeira-dama Michelle Bolsonaro e do próprio presidente.

Apesar disso, costuma dizer que não é político nem tem pretensões políticas.

Nos últimos tempos, o empresário se empenha em uma campanha, junto com Luciano Hang, dono da rede Havan e um dos aliados de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro.

Wizard se refere a Hang como amigo e diz que eles têm trabalhado juntos para aprovar no Congresso Nacional uma lei que permita a empresas comprar vacinas.

O texto já foi aprovado na Câmara e está desde o início de abril no Senado. A demora na apreciação já rendeu críticas de Wizard aos senadores.

G1