O perfil da pessoa que chamou de macaco um entregador de comida por aplicativo por ser negro pode ser falso. A delegada que investiga o caso, Sabrina Leles, adiantou que os dados do usuário fornecidos pela hamburgueria que recebeu o pedido, em Goiânia, são divergentes em relação ao banco de dados disponível para a Polícia Civil de Goiás.

Como o nome da cliente não foi divulgado, o G1 não conseguiu localizá-la para que se posicionasse sobre a denúncia.

“A polícia trabalha com a possibilidade de ser perfil falso, até porque o dado que consta no aplicativo é aquele dado que o usuário quis fornecer. Temos que verificar se o nome é compatível com o CPF indicado. Com os poucos dados que se têm, de acordo com o banco de dados disponível para a Polícia Civil de Goiás, os dados são divergentes”, explica a delegada.

Mensagens mostram cliente chamando entregador de macaco, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Mensagens mostram cliente chamando entregador de macaco, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Mensagens trocadas entre a gerência da hamburgueria e a pessoa que fez o pedido mostram quando a cliente diz que “esse preto não vai entrar no meu condomínio”. Pediu ainda que fosse enviado um entregador branco.

O Condomínio Aldeia do Vale informou que o cliente do estabelecimento não mora no residencial, conforme o endereço de entrega indicava no aplicativo.

“Checando em nossos cadastros, temos certeza em informar que ela não é e nunca foi moradora do Aldeia do Vale”, disse o comunicado.

A assessoria de imprensa do residencial disse ainda que também foram verificados os registros de visitante e que nenhuma pessoa com o nome usado para fazer o pedido de entrega passou pelo condomínio. “Tudo não passou de um trote criminoso por alguém que nunca residiu aqui”, completa a nota.

Entregador Elson Oliveira foi vítima de racismo em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Entregador Elson Oliveira foi vítima de racismo em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Apesar do posicionamento do condomínio, a delegada Sabrina Leles ressalta a importância dos dados solicitados ao aplicativo para trazer mais clareza à investigação.

“Os dados técnicos que o aplicativo poderá trazer, indicam se os dados serão verdadeiros ou não. Mas nós dependemos ainda da resposta para ver também a questão da conexão. De qual local partiu esse pedido?”, pondera a delegada.

O entregador que teve a entrada proibida pela moradora do condomínio, Elson Oliveira, de 39 anos, contou que tem 12 anos de profissão e que nunca havia passado por uma situação semelhante.

“Todos são iguais. Na hora, não acreditei. Voltei de cabeça baixa. É muito dolorido quando acontece com você. Você não espera que isso vá acontecer, porque tem muitos meios de comunicação que falam sobre isso e as pessoas continuam com esses atos”, lamentou o entregador.

Entrada proibida

A gerente da lanchonete, Ana Carolina Gomes, mandou mensagem à cliente para saber o endereço exato em que a mulher mora, já que faltavam dados. Depois, quando a funcionária pediu à moradora que autorizasse a entrada do entregador, a mulher se recusou.

“Esse preto não vai entrar no meu condomínio. Mandar outro motoboy que seja branco”, escreveu a cliente.

A gerente negou-se a atendê-la. Em seguida, a moradora chamou o motociclista de macaco. Na troca de mensagens, a gerente afirmou que racismo não seria tolerado e que o pedido não seria entregue. A cliente, então, escreveu: “Adeus. Não uso restaurante judaico”.

G1