O presidente Donald Trump afirmou nesta segunda-feira (25) que a China precisa fornecer ímãs aos Estados Unidos ou ele terá de “cobrar uma tarifa de 200% ou algo parecido” sobre produtos chineses. A declaração foi feita em meio à disputa comercial e tecnológica entre os dois países. (leia mais abaixo)
A China tem demonstrado maior sensibilidade em relação às terras raras e ao controle de sua oferta. Em abril, incluiu vários itens desse setor — entre eles, os ímãs — na lista de restrições de exportação, em retaliação ao aumento das tarifas pelos EUA.
As terras raras formam um grupo de 17 elementos químicos presentes em diversos países. A maior parte das reservas conhecidas está concentrada na China e no Brasil. Esses elementos são fundamentais para a produção de smartphones de última geração, carros elétricos e outras tecnologias avançadas, o que os torna estratégicos para a indústria de alta performance.
Os ímãs mais potentes geralmente são feitos de ligas que contêm elementos de terras raras, como neodímio e samário. O disprósio, outra substância, pode ser adicionado para aumentar a estabilidade térmica, especialmente em aplicações industriais e tecnológicas de alto desempenho.
No Fantástico deste domingo, o jornalista Felipe Santana mostrou como a China se tornou uma potência global no setor automotivo. Ele explicou de forma didática a importância estratégica dos ímãs e seu funcionamento em motores de carros elétricos. Veja no vídeo abaixo:
Disputa comercial e tecnológica
A ameaça de Trump representa mais um capítulo da disputa comercial e tecnológica entre as duas maiores economias do mundo. O embate se intensificou no segundo trimestre, após o tarifaço anunciado pelo republicano. Recentemente, os países fizeram acordos para reduzir as taxas.
O Ministério do Comércio da China anunciou em 11 de agosto a prorrogação da suspensão de tarifas adicionais sobre produtos dos EUA. A medida, válida por 90 dias, foi adotada após Trump assinar uma ordem executiva que também estende a trégua tarifária.
Em comunicado, o governo chinês afirmou que as tarifas de 10% atualmente aplicadas sobre produtos norte-americanos serão mantidas durante esse período.
Na prática, os países prorrogaram um acordo firmado em 12 de maio — e que estava prestes a vencer. Veja o que foi decidido:
As tarifas dos EUA sobre importações chinesas caíram de 145% para 30%.
As taxas da China sobre produtos americanos foram reduzidas de 125% para 10%.
Quase o acerto não seguiu em frente. Duas semanas após o acordo, Trump acusou a China de descumpri-lo em publicação nas redes sociais. “A má notícia é que a China, talvez sem surpresa para alguns, violou totalmente seu acordo conosco”, escreveu.
Em resposta ao republicano, o gigante asiático pediu que os EUA acabem com as “restrições discriminatórias” contra Pequim e que os dois lados “mantenham conjuntamente o consenso alcançado nas negociações de alto nível” realizadas em Genebra, na Suíça.
O acordo, previsto para se encerrar em 12 de agosto, teve então a sua prorrogação confirmada um dia antes, com validade de mais 90 dias.
Desde que anunciou seu tarifaço — com o objetivo de reduzir o déficit comercial dos EUA e ter poder de barganha em negociações geopolíticas —, Donald Trump enfrenta críticas, inclusive de aliados. O embate com o governo chinês agravou ainda mais a situação.
Tarifaço reduz déficit, mas encolhe economia dos EUA
O tarifaço de Trump deverá reduzir o déficit total dos EUA em US$ 4 trilhões até 2035. Por outro lado, tende a frear os investimentos e a produtividade, além de enfraquecer o poder de compra de famílias e empresas.
A análise é do Congressional Budget Office (CBO), um órgão independente do Congresso dos EUA. Segundo relatório publicado nesta sexta-feira (22), a redução do déficit total do país (ou seja, o saldo negativo das contas públicas, incluindo juros da dívida) deverá ocorrer da seguinte forma:
O dinheiro arrecadado com as tarifas ajudará a diminuir o déficit primário (diferença entre receitas e despesas do governo) em US$ 3,3 trilhões até 2035.
Com isso, a menor necessidade de empréstimos federais deve cortar os gastos com juros da dívida em US$ 700 bilhões, totalizando um impacto de US$ 4 trilhões no período.
“Devido às recentes mudanças nas tarifas, essas estimativas são maiores do que a redução de US$ 2,5 trilhões nos déficits primários e a diminuição de US$ 500 bilhões nos gastos com juros que projetamos no início de junho”, diz o CBO.
Apesar do impacto positivo no saldo da dívida, o órgão do Congresso norte-americano estima que as recentes mudanças nas taxas de importação — tanto pelos EUA quanto por seus parceiros comerciais — reduzirão o tamanho da economia americana.
“Os efeitos negativos de tarifas mais altas se manifestam na redução de investimentos e produtividade”, afirma o CBO, acrescentando que bens de consumo e de capital (usados pelas empresas na produção) ficarão mais caros, o que diminuirá o poder de compra no país.
Segundo o órgão do Congresso norte-americano, a tarifa efetiva sobre produtos estrangeiros que entram nos EUA está 18 pontos percentuais acima das taxas praticadas em 2024.
G1