O Pentágono anunciou que os Estados Unidos vão enviar reforços militares para a região do Golfo a pedido da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. O secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, disse à imprensa que esta mobilização é de natureza “defensiva”.
No dia 14, um ataque com aparelhos não-tripulados contra o maior campo petrolífero no mundo, na Arábia Saudita, atingiu instalações da petrolífera Aramco. Depois das alterações no fornecimento de petróleo, com a maior subida de preços desde a Guerra do Golfo, houve também consequências políticas e geoestratégicas para aquela zona do globo.
“A Arábia Saudita solicitou assistência internacional para proteger a infraestrutura energética do reino. Os Emirados Árabes Unidos também pediram ajuda”, esclareceu. Mark Esper ressaltou que o ataque da última semana representa “uma escalada dramática da agressão iraniana”.
O presidente dos EUA, Donald Trump, “aprovou o envio de forças americanas, que serão defensivas por natureza e focadas principalmente na força aérea e na defesa antimísseis”, acrescentou o secretário de Defesa. Quando questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de futuros ataques contra o Irã, Mark Esper respondeu que “não é o que pretendemos por agora”.
De acordo com o chefe do Estado Maior, Joseph Dunford, ainda não está decidido qual será o número exato de homens a ser mobilizado, nem o tipo de equipamento que será enviado para os dois países. Ele esclareceu apenas que será um destacamento “moderado”.
Rebeldes Houthis
O ataque do dia 14 foi reivindicado pelos rebeldes Houthis, que, apoiados pelo Irã, atuam na guerra civil no Iêmen desde 2015 contra a coalizão liderada pela Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Na sexta-feira (20), o movimento dos rebeldes anunciou que vai suspender os ataques com mísseis e drones na Arábia Saudita, considerando que uma eventual continuação de hostilidades poderia levar a “desenvolvimentos perigosos”.
Mahdi al-Mashat, representante dos Houthis, disse ainda esperar “uma decisão recíproca” por parte dos sauditas e da coalisão que lideram. “Reservamos o direito de resposta se eles não corresponderem de forma positiva a esta iniciativa”, acrescentou, dizendo ainda que a continuação da guerra no Iêmen “não vai beneficiar nenhum dos lados”.
Ainda que os Houthis reclamem a responsabilidade pelo ataque contra as instalações sauditas, os Estados Unidos e a coalizão árabe têm acusado diretamente o Irã de estar por trás deste ataque.
Durante a semana, os sauditas mostraram os destroços de mísseis e drones e garantiram que o ataque foi “inquestionavelmente patrocinado pelo Irã”, acusação reiterada pela diplomacia norte-americana. As Nações Unidas já enviaram uma equipa de peritos à Arábia Saudita para iniciar um inquérito internacional para apurar responsabilidades neste ataque.
Os iranianos tem negado todas as acusações e disse esta semana que o ataque dos rebeldes Houthis contra os sauditas se deve à atuação do país no Iêmen nos últimos anos. O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, disse que, se algum ataque for praticado em solo iraniano teria consequências catastróficas e resultaria numa “guerra total”.
“Não queremos entrar numa guerra, não queremos confronto militar. Mas não vamos sequer pestanejar no que toca à defesa do nosso território”, disse na quinta-feira (19) o responsável pela diplomacia iraniana.
Ações de Trump
Após os ataques contra a Arábia Saudita, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, visitou o país, onde esteve reunido com o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, ministro saudita da Defesa, e também passou pelos Emirados Árabes Unidos. Ele reiterou o apoio norte-americano à Arábia Saudita no “direito a defender-se” dos ataques contra o seu território e à sua indústria petrolífera.
Pompeo foi um dos primeiros a apontar a responsabilidade iraniana no ataque o dia 14. No entanto, em declarações aos jornalistas que o acompanham durante a viagem ao Oriente Médio, o secretário de Estado norte-americano reconheceu de forma indireta a responsabilidade dos Estados Unidos na escalada de tensões, enquanto defendia a estratégia de “máxima pressão” sobre Teerã, com as recentes sanções econômicas que foram impostas e reforçadas pelos EUA.
“Há quem argumente que a estratégia do Presidente não está funcionando. Mas eu diria exatamente o contrário. Diria que o que está acontecendo é um resultado direto da nossa saída do JCPOA [sigla que designa o acordo nuclear]”, disse Mike Pompeo.
O secretário de Estado norte-americano referia-se à decisão do governo Trump, em maio de 2018, de abandonar unilateralmente o acordo sobre o programa nuclear do Irã, assinado em 2015 por várias potências internacionais. O acordo, assinado ainda durante a presidência de Barack Obama, previa o controle, limitação e a supervisão das capacidades nucleares do Irã. Em troca, os vários países comprometiam-se a retirar as sanções econômicas à Teerã.
Washington anunciou, em maio deste ano, o destacamento de navios e mais 1,5 mil soldados para o Oriente Médio com o objetivo de “passar uma mensagem” ao Irã e impedir eventuais ataques que colocassem em causa a segurança do Estreito de Ormuz. Paralelamente, também em maio, os Estados Unidos tinham avançado com novas sanções tendo por objetivo impedir trocas comerciais e financeiras do Irã com outros países aliados – incluindo os países europeus – e obstruir por completo a compra de petróleo bruto iraniano a nível mundial.
Ao longo dos últimos meses, Teerã tinha ameaçado em várias ocasiões revisar a circulação no Golfo Pérsico, local estratégico por onde passa mais de um terço do petróleo que é consumido diariamente em todo o mundo. Também em maio deste ano, um ano depois das sanções econômicas e da saída dos EUA do acordo, o Irã anunciou a retirada parcial do acordo, tendo desde então ultrapassado os limites de produção e armazenamento de urânio enriquecido a que estava sujeito como forma de protesto e retaliação.
Nos últimos meses foram vários os focos de tensão naquela região. Em junho, no contexto de um alegado ataque iraniano contra petroleiros na região do Golfo de Omã, Teerã abateu um drone norte-americano não-tripulado, alegando que violava o seu espaço aéreo. Em resposta, o presidente norte-americano chegou a ordenar um ataque contra alvos estratégicos no país, mas recuou nos últimos minutos por consideração ao número de vítimas “desproporcional” que tal investida viria a provocar.