De acordo com dados do guia O que o ISP pode fazer por Equidade Racial?, mais de 70% da população negra vive em situação de extrema pobreza. Além disso, negros e pardos correspondem a 64,2% dos trabalhadores desempregados, segundo informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil. A dificuldade de acesso ao mercado de trabalho força muitas pessoas a empreender por necessidade, o que acaba fortalecendo o crescimento do empreendedorismo negro.

O empreendedorismo negro no Brasil

Aproximadamente 50% dos empreendedores brasileiros se declaram como negros ou pardos, de acordo com o Sebrae. Ainda que a maioria se encaixe nas categorias de micro e pequeno empresários, a crescente do empreendedorismo negro pode indicar parte de sua movimentação pela busca de uma vida melhor e por mais representatividade. Conheça algumas iniciativas de empreendedores negros, como elas estão lutando contra o racismo estrutural e outros problemas sociais (e resolvendo dores de mercado – tudo ao mesmo tempo!).

#1 Livraria Africanidades

Ketty Valêncio representatividade
Ketty Valencio / Acervo pessoal

Incomodada com a falta de autores negros na literatura e a representação dos corpos negros em obras populares, a bibliotecária Ketty Valencio resolveu abrir a livraria Africanidades, especializada em literatura afro-brasileira e feminista em busca de mais representatividade. A empreendedora contou ao Na Prática que finalmente encontrar representatividade também é uma forma de legitimação da pessoa negra.

“Quando eu leio coisas, autoras parecidas comigo é um exemplo de vida. Um sinal que realmente existo e que tem outras pessoas parecidas comigo. Então eu acho que realmente é uma questão sobre a importância de vida, de continuidade, e também de universalidade. Muitas vezes somos ensinados que não fazemos parte, que nossa história não faz sentido. Como você vai viver?  E como vai respeitar outra pessoa preta como você? Porque você foi ensinado que ele não é nada. Ele nem existe. Isso acaba ecoando no nosso dia a dia, então a literatura é uma forma de afirmativa. Ela te dá possibilidades e te recupera desse breu”, pontua.

Mais sobre a Africanidades e Ketty Valencio!

#2 Movimento Black Money

Nina Silva e o empoderamento negro
Nina Silva / Acervo pessoal

No ano passado, Nina Silva foi eleita uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil pela Forbes. Apesar de ser referência na área de tecnologia e possuir um currículo impressionante, a cor da pele de Nina parecia fazer as pessoas duvidarem de suas capacidades. Sentindo na pele as limitações criadas pelo preconceito, ela criou o Movimento Black Money como uma forma de incentivar o empreendedorismo negro conectando empresários e consumidores por meio de um marketplace. Hoje, ela é considerada uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo pela Organização das Nações Unidas.

“Sentia uma inquietação em ver lugares que não são ocupados por outras mulheres e outras pessoas negras. Mais ainda, queria criar a autonomia para que que nós não precisemos desses lugares. Será que nós sempre vamos ter de ficar pedindo inclusão, uma oportunidade para o mesmo grupo que nos oprimiu? Nunca acreditei que a real autonomia e liberdade da população negra no mundo se darão por outras mãos”, afirma.

Mais sobre o Movimento Black Money e Nina Silva!

#3 Outra Praia

Dilma Campos mulher negra no mercado de trabalho
Dilma Campos / Acervo pessoal

De família humilde, Dilma Campos precisou ser “cinco vezes melhor” que os demais para conseguir se destacar no mercado, como ela mesma pontua. Após experimentar algumas profissões, ela ouviu seu espírito empreendedor e decidiu criar a boutique de criatividade estratégica Outra Praia. Ao se ver como mulher negra empreendedora, Dilma ainda sentia falta de semelhantes ocupando os mesmos espaços que ela.

“Eu tive que me redescobrir como mulher negra para responder uma pergunta que eu fazia: cadê as outras mulheres negras que não estão aqui do meu lado? E para a minha tristeza eu descobri que não tinha mesmo negras empreendendo e tendo um certo nível de faturamento para receberem destaque. Depois de um passado escravagista, a gente ainda não conseguiu trazer uma igualdade entre as pessoas periféricas, que em sua maioria são negras”, lamenta.

Mais sobre a Outra Praia e Dilma Campos!

#4 Black Bird

Luciana Paulino / Acervo pessoal

Ao perceber a falta de viajantes negros comprando produtos turísticos, Luciana Paulino começou a estudar o consumo negro até investir no empreendedorismo social e criar uma plataforma de turismo para promover a equidade racial. Ao lado do sócio Guilherme Soares, ela propõe uma visão mais inclusiva das experiências de viagem com a Black Bird.

“Nela contamos a experiência de como é ser um corpo negro no mundo, com conteúdo inspirador, ligando turismo com conexão social. O turismo é uma ferramenta potente de autoestima de um povo e impacta diretamente na vivência, por isso criamos roteiros, contando a história de personagens invisibilizados. As histórias e viagens que contamos não fortalecem só o povo negro, mas o povo brasileiro”, explica.

Mais sobre a Black Bird e Luciana Paulino!

#5 Rede de Profissionais Negros

Lisiane Lemos é um dos talentos negros cuja história o Na Prática traz no Dia da Consciência Negra
Lisiane Lemos / Reprodução

Eleita pela Forbes Brasil um dos 100 brasileiros mais promissores com menos de 30 anos, em 2017, Lisiane Lemos é fundadora da Rede de Profissionais Negros, uma ONG que conecta profissionais negros e empresas em busca de talentos. Para ela, essa ponte é importante porque a jornada da diversidade racial ainda é recente e começou a aparecer como política corporativa há pouco tempo.

“Muitos profissionais não enxergam seu lugar na empresa e nós podemos dar suporte a eles e às empresas para tentar mudar esse cenário. O problema do racismo no Brasil não é explícito – e essa é a maior dificuldade em combatê-lo. No meu caso, acrescenta-se que eu sou jovem, mulher e negra no mercado corporativo. Tenho um ambiente de trabalho confortável, mas preciso lembrar que existem pessoas em outros ambientes que estão desconfortáveis e que não conseguem se sentir parte deles”, salienta.

Mais sobre a Rede de Profissionais Negros e Lisiane Lemos!

#6 Programa ProLíder

wellington vitorino bolsista da fundacao estudar
Wellington Trindade / Reprodução

Com o desejo de preparar jovens brasileiros para assumir os desafios da gestão pública, Wellington Trindade criou o o Programa ProLíder, curso gratuito que começou em maio de 2016 com o objetivo dar boas bases para futuras lideranças no Brasil. Embora o foco esteja nos desafios da esfera pública – que se colocam mais urgentes para o avanço do país – os participantes não precisam, necessariamente, estar interessados em trabalhar no setor público.

Ao longo de cerca de dezoito encontros, um grupo de jovens com idades entre 18 e 34 anos tem aulas temáticas sobre educação, economia, ética, ciência política e segurança, entre outros, aprendendo diretamente com nomes que são referência nessas áreas. Além de participar de leituras e debates, é preciso entregar um projeto final para uma banca julgadora.  

Mais sobre o Programa ProLíder e Wellington Trindade!

#7 Feira Preta

Adriana Barbosa
Adriana Barbosa / Reprodução Ponte.org

Considerado o maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, a Feira Preta, fundada pela empreendedora Adriana Barbosa, reúne diversas iniciativas voltadas para a pesquisa, mapeamento e aceleração do empreendedorismo e consumo negro no Brasil. Desdobrado em diversos mini hubs, o trabalho realizado pelo grupo inclui incubadoras de negócio, promoção de educação, capacitação e empoderamento, fundos sociais, festivais, discussões sobre diversidade em eventos, levantamento de dados, promoção de espaços de exposição, entre outros.

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#8 Alma Preta Jornalismo

Pedro Borges
Pedro Borges / Reprodução O Globo

Para discutir a temática racial no Brasil, nasceu a agência de jornalismo Alma Preta, fundada pelo jornalista Pedro Borges e pelo designer Vinícius de Araujo. O trabalho é dividido em quatro pilares que buscam valorizar a cultura negra: levantar a discussão do racismo, trabalhar o que acontece nas favelas brasileiras, trazer notícias da África e criar um espaço colaborativo com parceiros que possam expressar suas opiniões. Os assuntos são discutidos em forma de texto e produção audiovisual. Além disso, a agência conta com o podcast Papo Preto para trazer mais uma plataforma que aumente o alcance sobre questões da população negra e periférica.

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