Lideranças da bancada evangélica deram 24 horas para que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, explique os áudios de uma conversa que manteve com prefeitos e dois pastores sobre a distribuição de verbas da pasta. A informação é da colunisa Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.
Dizendo-se indignados por mal conhecerem os pastores, alguns líderes do segmento religioso que defendem o governo de Jair Bolsonaro já pregam até a troca de comando no MEC (Ministério da Educação). Mas afirmam querer dar um tempo para que Ribeiro apresente seus argumentos.
O presidente da bancada, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que é pró-Bolsonaro, já enviou o recado diretamente a Ribeiro. Parlamentares exigem que ele convoque uma entrevista coletiva para esclarecer os fatos. O ministro também é pastor evangélico.
O vice-presidente da bancada, Luis Miranda (Republicanos-DF), que é dissidente do governo, vai na mesma linha. “Se os fatos forem comprovados, é caso, sim, de exoneração do ministro”, afirma. “Conversei com vários integrantes da bancada evangélica, e mesmo os que apoiam o governo não têm o ‘privilégio’ de ver seus pleitos atendidos desta forma. Um ministro não pode defender interesses privados, mas sim de toda a sociedade”, segue.
Em conversa gravada obtida pela Folha, o ministro afirma que o governo federal prioriza prefeituras cujos pedidos de liberação de verba foram negociados pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que não têm cargo no governo e atuam em um esquema informal de obtenção de verbas do MEC.
Milton Ribeiro diz na gravação que isso atende a uma solicitação do presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, diz o ministro na reunião, que ocorreu dentro da pasta.
Ao menos desde janeiro de 2021 os dois pastores negociam com prefeituras a liberação de recursos federais para obras de creches, escolas, quadras ou para a compra de equipamentos de tecnologia.
De acordo com uma liderança evangélica aliada a Bolsonaro, Gilmar Santos não tem a menor representatividade no segmento, e o nome de Arilton Moura sequer é familiar para a maioria dos representantes das maiores igrejas brasileiras.
A mesma liderança afirma que, apesar de sempre defenderem o governo de Jair Bolsonaro, não vão defender o indefensável –ou seja, que o ministro negocie verba por meio de pastores, numa espécie de “gabinete paralelo”.
O líder diz ainda que Milton Ribeiro sequer foi uma indicação do segmento evangélico, tendo conquistado o posto depois do apoio do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça.
No áudio obtido pela Folha, o ministro afirma ainda que sua “prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”.
Milton Ribeiro também indica haver uma contrapartida à liberação de recursos da pasta. “Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas”.
Na gravação, ele não dá detalhes de como esse apoio se concretizaria.
Folha de S. Paulo