Se tem uma coisa que eu adoro em jogos de computador é a capacidade de criar e fomentar inovação no mercado de games sem a exigência de um orçamento multimilionário. Nos últimos 20 anos, raras são as obras de estúdios pequenos e independentes que se tornaram febre que não tenham surgido nos PCs. Minecraft, Among Us, Untitled Goose Game, Fall Guys são apenas alguns exemplos recentes. E esta lista acaba de aumentar com o lançamento de Valheim.
Desenvolvido pelo estúdio sueco Iron Gate, – com equipe de cinco pessoas – Valheim é um jogo de sobrevivência em mundo aberto. Exemplos de games nesse estilo são Minecraft, Day Z e a série ARK. No caso de Valheim, a temática é um reino mágico inspirado nos exploradores e guerreiros nórdicos. Do guerreiro Thor da Marvel nos cinemas, à série Vikings do History Channel, a mitologia nórdica e cultura viking tem estado em voga na indústria audiovisual nos últimos anos. Nos games, não é diferente: God of War (2018) deixou de lado os deuses do Olimpo e colocou o anti-herói Kratos contra divindades escandinavas. Até mesmo a Assassin’s Creed, com Valhalla, apostou nessa temática.
Com Valheim, não é diferente. Na história, você assume um guerreiro que é levado por Valquírias ao reino de Valheim, um décimo reino pós-vida criado para a história do game – na cosmologia original, apenas nove são citados. O seu personagem fica encarregado como novo guardião do purgatório, com o dever de matar antigos rivais de Odin e trazer ordem para o mundo.
Todo o mapa – gerado proceduralmente – é formado por florestas míticas, pântanos e cadeias de montanhas cobertas de neve, entre outros cenários encantadores. É possível jogar sozinho ou em modo cooperativo de até dez jogadores, com suporte a servidores independentes. Sua missão é construir uma casa e base de apoio, como fazendas e castelos, além de criar de armas e armaduras até navios de combate. Tudo para poder explorar e conquistar novas áreas, atacar e se defender de monstros mitológicos.
Diferentemente de outros jogos do gênero, Valheim não chega a ser tão punitivo a jogadores inexperientes. Além disso, o título conta com um visual encantador sem exigir nenhuma máquina potente e é atualmente oferecido a um valor bem baixo frente às grandes produções concorrentes. Essa fórmula já deu certo com outros sucessos independentes, como os já citados Among Us e Fall Guys.
Até o início da semana, o Valheim já tinha atingido a marca de 2 milhões de compradores no Steam – ou quatro vezes a população viking no seu auge durante o século XIV, como brincou a Iron Gate. O título foi disponibilizado em modo acesso antecipado, ou seja, o jogo não está pronto ainda, o que nem chega a ser mais um grande diferencial em tempos de pacotes de correção pela internet – que o diga a CD Projekt com Cyberpunk 2077. O número de jogadores simultâneos já atingiu o pico diário de 392 mil – no momento em que eu escrevo esta coluna, Valheim ocupa o quarto lugar na lista de usuários ativos no Steam, atrás apenas de Counter-Strike, DOTA 2 e PUBG. O número de streamers e influenciadores falando sobre o game e transmitindo partidas ao vivo pela internet no YouTube e Twitch também tem crescido exponencialmente.
A empresa promete continuar adicionando conteúdo pelos próximos meses, com a inclusão de novos biomas, inimigos, chefes e materiais para serem descobertos. Sem falar na correção de falhas que podem surgir no meio do caminho do jogo inacabado. Nos últimos dias, a Iron Gate sugeriu que os jogadores fizessem backup por conta de um bug “maligno destruidor de mundos”, como denominou o diretor-executivo e programador Richard Svensson. Essa troca de ideias com os fãs por meio de plataformas como o Discord é um dos motivos que pode tornar a experiência de acompanhar a evolução de um jogo em construção tão emocionante, quiçá até íntima, quanto assistir a uma novela ou um reality show.
Por enquanto, não existem planos para lançar o game em outras plataformas, embora isso venha a mudar depois do sucesso que vem alcançando. Só resta conferir se a popularidade se manterá no longo prazo, ainda que em menor escala.
Agência Brasil