O Ministério Público está investigando a segunda denúncia de simulação na aplicação da vacina contra a Covid-19 em um idoso de 84, em Goiânia. Um vídeo feito pelo filho do aposentado mostra quando a técnica de enfermagem fura o braço do paciente com a agulha, mas não injeta o líquido. A aplicação só foi feita de maneira correta em uma segunda tentativa, após a reclamação do parente do paciente.

O caso aconteceu na manhã de quinta-feira (18). No mesmo dia, foram ouvidos o filho do idoso, que fez o vídeo, e duas enfermeiras que testemunharam o fato. Também foi solicitado um posicionamento da Secretaria Municipal de Saúde e também da Vigilância Sanitária Municipal.

O nome da profissional não foi divulgado. Assim, o G1 não conseguiu localizá-la para que se posicionasse sobre o caso.

Vídeo registra falha

Um vídeo mostra quando o aposentado Osvaldo Peres tem o braço furado com a agulha, por volta das 9h. Ele estava dentro do carro do filho Leonardo Lopes Peres, de 45 anos, em uma das unidades de drive-thru da capital. O. A enfermeira puxa o êmbolo e, na sequência, sem injetar o líquido, tira a agulha do braço e coloca um algodão. Mesmo assim, ala afirma que ele foi vacinado.h

“Graças a Deus, a partir de hoje, o senhor está mais protegido”, diz a profissional quando coloca a agulha no braço do idoso, mas não injeta o líquido.

Leonardo Lopes Peres percebeu o erro e cobrou da enfermeira, mostrando que ela não tinha aplicado a dose. A mulher reconheceu a falha e pediu desculpas. Apenas depois disso é que o aposentado foi devidamente vacinado.

A enfermeira chegou a procurar uma delegacia para registrar uma queixa contra o filho do idoso por ele ter publicado a imagem nas redes sociais. À polícia, ela disse que o líquido não foi injetado porque teve problema com a agulha.

Porém, o delegado não registrou nenhum boletim de ocorrência porque a conduta do filho do idoso não foi criminosa. “Se houve alguma atitude, algum fato criminoso, foi praticado pela enfermeira que deu causa a essa situação”, disse o delegado Washington da Conceição.

O idoso disse que não acredita nessa versão.

“Por que ela não disse que essa agulha teria entupido? Ela veio com outra justificativa, veio pedindo desculpa, menos com essa, de agulha entupida”, disse.

A Secretaria de Saúde disse que a profissional que aplicou a dose é servidora da Associação dos Funcionários do Fisco do Estado de Goiás (Affego) e que está investigando o que aconteceu para tomar as medidas cabíveis.

A Affego informou que é parceira da Secretaria Municipal de Saúde na vacinação e está empenhada em esclarecer os fatos. A associação disse que vai colaborar com as investigações para tomar as medidas cabíveis.

O Conselho Regional de Enfermagem (Coren) informou que já está apurando essa nova denúncia. “Abrimos um procedimento ético disciplinar para certificar o que realmente aconteceu. Diante disso, um fiscal vai buscar todas as informações para certificar que o profissional que administrou a vacina é profissional de enfermagem”, disse a presidente do Coren, Edna de Souza Batista.

Primeira denúncia

No último dia 10, a filha de uma idosa denunciou que a enfermeira não tinha aplicado o imunizante na mãe na primeira aplicação. O caso também está em investigação no Ministério Público. Diante dos erros, o órgão fez recomendações à Secretaria Municipal de Saúde para tentar evitar novas falhas.

“O Ministério Público recomendou, em reunião, que dois profissionais se encarreguem desse processo, um aplicando e o outro assistindo. Recomendou também para que se busquem sempre, dentro de todas as possibilidades, alocar pessoas com experiência. Sabemos que essa celeridade que é exigida pode interferir, sim, na qualidade dos trabalhos”, disse a promotora de Justiça Marlene Nunes Freitas Bueno.

Líquido não é injetado na primeira tentativa de aplicação da vacina contra Covid-19 em idosa — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Líquido não é injetado na primeira tentativa de aplicação da vacina contra Covid-19 em idosa — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Medidas de segurança

A diretora de Vigilância Epidemiológica, Grécia Pessoni, disse que houve um erro no procedimento, mas não acredita que tenha sido proposital ou para desvio de doses. Sobre a possibilidade da agulha ter apresentado problemas como alegado pela técnica, ela disso que isso é possível, apesar de incomum.

“De fato, essa seringa deveria ter sido testada antes. Então a gente percebe, sim, que houve uma falha nesse procedimento. Todo profissional de saúde, principalmente o da enfermagem, sabe que uma vez essa seringa é introduzida no braço do paciente, ela já é contaminada. Acredito que nenhum profissional de enfermagem tem interesse de levar essa dose para casa, porque ele sabe que ali pode estar contaminado com o material do paciente. De qualquer forma, essa vacina tem que ser feita imediatamente após aspirada, ela não pode ser guardada”, afirmou.

Sobre as recomendações para evitar novos erros, ela disse que desde a semana passada, quando foi denunciada a primeira suspeita de falha, a secretaria orientou que os profissionais trabalhassem em pares.

“Além disso, [ a recomendação] é que mostrem a seringa antes e depois da aplicação para o paciente e que haja uma pausa a cada hora trabalhada, de dez a 15 minutos, para que aquele movimento repetitivo não gere um erro”, disse.

Por fim, a diretora afirmou que todos os profissionais envolvidos passarão novamente por uma capacitação.

G1