A presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senadora Kátia Abreu (PP-TO), defendeu nesta segunda-feira (17/05) a ida de uma comitiva brasileira a Pequim para negociar a compra de uma vacina contra o coronavírus produzida pela farmacêutica estatal chinesa Sinopharm. Segundo a parlamentar, embora já conte com autorização para venda concedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o imunizante não tem sido privilegiado em compras realizadas pelo governo brasileiro. Os entraves para a aquisição de vacinas foram tema de uma audiência pública remota realizada pela Comissão Temporária da Covid-19 (CTCOVID19).
De acordo com Kátia Abreu, a produção das vacinas Coronavac e AstraZeneca depende da importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) produzido por empresas privadas. Ela avalia que a Sinopharm “com certeza poderá ter IFA sobrando” para a fabricação de novos imunizantes no Brasil.
A presidente da CRE sugere que comitiva seja formada por senadores e representantes do Ministério da Saúde, da Anvisa e de laboratórios privados que produzem vacinas contra a febre aftosa. Kátia Abreu defende que essas fábricas, originalmente voltadas para a produção de imunizante animal, sejam adaptadas para elaborar a vacina da estatal chinesa.
“Sobre essa empresa pública, a Embaixada da China no Brasil e próprio governo chinês têm mais ascendência. Minha ideia é o Brasil se transformar num hub de produção de vacinas. Um grande sítio da Sinopharm para fornecer vacinas a toda a América Latina, Caribe e África”, disse.
O relator da comissão temporária, senador Wellington Fagundes (PL-MT), defendeu a iniciativa.
“Vamos precisar de vacinas não só para este momento. Temos novas cepas chegando. Temos que fabricar vacina porque o Brasil pode ser a solução para os brasileiros e para parte do mundo. Só na área veterinária são 22 laboratórios. Essas indústrias de saúde animal têm capacidade de produzir 100% do IFA aqui no Brasil”, afirmou.
Durante a audiência pública, Katia Abreu criticou a postura do governo brasileiro em relação à vacina Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac. Segundo ela, as “declarações horríveis” do presidente Jair Bolsonaro dificultam a importação do IFA pelo Instituto Butantan, que produz o imunizante no Brasil.
“A disputa pelo IFA é grande. Está faltando IFA na China. Mas os ataques que têm sido feitos pelo presidente e alguns outros poucos membros do governo atrapalham o trabalho do embaixador chinês no Brasil. Se ele [Jair Bolsonaro] não acredita na vacina, não é a opinião geral do país. O país quer a vacina. Os brasileiros querem se vacinar. Não atrapalhe nosso trabalho para conseguir a vinda das vacinas”, disse.
O diretor do Departamento de Direitos Humanos e Cidadania do Ministério das Relações Exteriores, João Lucas Quental Novaes de Almeida, minimizou o efeito das críticas do presidente sobre a importação de IFA.
“A Embaixada da China em Brasília tem afirmado que 80% de toda a exportação de IFA daquele país teve como destino o Brasil. Entre IFAs e vacinas, o Brasil foi o segundo maior destino de exportação no ano passado. Neste ano, que não estamos importando vacinas, somos o terceiro. Mas certamente chegaremos a primeiro ao final do ano se as tendências atuais permanecerem”, previu.
Antecipação
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Otávio Moreira da Cruz, disse na audiência pública que a estratégia do governo brasileiro é antecipar para o primeiro semestre vacinas já contratadas no mercado internacional. Segundo ele, o país pactuou a compra de mais de 600 milhões de doses com diversas farmacêuticas.
“A todo laboratório que se disponibiliza a ofertar imunizante para o primeiro semestre, a gente já externou a possibilidade de adquiri-las. Temos conversado também com países que estão em processo de imunização mais avançado para saber se eles têm interesse em fazer uma troca. Minha entrega que estava prevista para o último trimestre iria para você, e a sua que estava prevista para este mês viria para o Brasil”, explicou.
Segundo Rodrigo Cruz, o Ministério da Saúde tem um contrato assinado para compra de 10 milhões de doses do imunizante Sputnik V, desenvolvido pelo laboratório russo Instituto Gamaleya. Outras 38 milhões de doses foram encomendadas por governos estaduais, mas a vacina ainda depende de autorização da Anvisa para ser vendida no Brasil em caráter emergencial.
O embaixador da Rússia no Brasil, Alexey Labetskiy, participou da audiência pública promovida pela CTCOVID19. Ele disse já ter recebido duas doses do imunizante e defendeu a segurança sanitária da vacina.
“É uma vacina que dá efeito e garante a proteção de mais de 91%. Eu, como embaixador, sempre estou dizendo a meus colegas e parceiros que estou vacinado com a Sputnik V. Recebi a primeira dose em janeiro e a segunda em fevereiro, ainda em Moscou. Caso seja necessário ter um “coelho de experimentos” para verificar a eficácia da vacina, eu e minha família estamos prontos para ser esses coelhos”, afirmou.
Pfizer
Os senadores Marcos do Val (Podemos-ES) e Soraya Thronicke (PSL-MS) questionaram o representante do Ministério da Saúde sobre a decisão da pasta de ampliar o intervalo entre as duas doses da vacina da Pfizer. O laboratório recomenda três semanas, mas o Brasil adota um período de 12 semanas.
O secretário-executivo Rodrigo Cruz reconheceu que a medida se deve à falta de imunizantes no mercado. Ele afirmou que a estratégia foi firmada em conjunto com os conselhos nacionais de secretários de Saúde dos estados (Conass) e dos municípios (Conasems), a partir de experiências realizadas no Reino Unido e no Canadá.
“Quando se avalia uma quantidade de vacinas não compatível com a nossa demanda, em prol de vacinar mais pessoas com uma dose, adotou-se essa estratégia de espaçar por até 12 semanas. Quando voltar um cenário de disponibilidade de vacina adequada ou suficientemente razoável para a quantidade da população, volta o prazo de 21 dias”, disse Cruz.
Fonte: Agência Senado