A Inteligência Artificial (IA) é um campo da ciência da computação focado na criação de máquinas capazes de pensar e aprender. Trata-se também de um termo amplo, que abrange variados tipos de aplicações, como o Machine Learning — ferramenta que torna computadores capazes de analisar dados, identificar padrões e predizer comportamentos. Essas tecnologias são vistas como grandes tendências para o futuro dos negócios. No Brasil, a IA já é o foco de atuação de 702 startups. A informação é do Distrito Inteligência Artificial Report, levantamento realizado pelo Distrito Dataminer, braço de inteligência de mercado da empresa de inovação aberta Distrito. O estudo teve ainda apoio da KPMG.
O levantamento dividiu as startups em duas categorias: Setores (479) e Funções (223). As primeiras oferecem soluções de Inteligência Artificial especializadas, visando impactar um segmento específico, como Serviços Financeiros, Imobiliário, Varejo, Educação, entre outros. Destas, a área de Saúde e Biotecnologia é a que concentra um maior número de startups (12,5%), seguida pelos campos de RH e Gestão Pessoal (10%) e Indústria 4.0 e Agricultura e Comida, ambas com 9,6% de participação.
“Hoje quase todos os setores utilizam a inteligência artificial para analisar dados e identificar padrões. Com isso, as startups focadas nesse segmento podem desenvolver expertises personalizadas, de acordo com a necessidade imposta. Esse fator é determinante para termos cada vez mais soluções inovadoras em cada uma das principais atividades econômicas”, analisa o sócio-líder da KPMG Lighthouse para Analytics, Artificial Intelligent e Intelligent Automation, Ricardo Santana.
Já as startups classificadas como “funções” oferecem serviços e produtos para diversos segmentos simultaneamente. Essa categoria apresenta cinco atuações: AlaaS (34,1%), que oferece Inteligência Artificial as a service; Business Intelligence & Analytics (30,9%), plataformas de gestão de dados e inteligência de mercado; Chatbots (19,3%), que são programas inteligentes que se comunicarem com clientes e usuários de maneira interativa; Cibersegurança (9,4%), ferramentas de segurança de redes privadas e diagnóstico de riscos; e, por fim, Sistema de Recomendação (6,3%), tecnologia de recomendação automatizada de produtos e serviços e previsão de comportamentos de clientes.
Desde 2012, as startups voltadas para soluções de IA captaram US$ 839 milhões, por meio de 274 rodadas. Atualmente, o ano de 2020 é o recordista em volume de investimentos. Nos últimos doze meses, essas empresas atraíram US$ 365 milhões por meio de 44 aportes. Até então, 2019 tinha o melhor resultado, com US$ 243 milhões investidos no setor. A maior rodada de investimento ocorreu no último ano, direcionada à startup Unico, que recebeu um cheque de US$ 109 milhões da General Atlantic e SoftBank.
Entre as 274 rodadas realizadas nas empresas com soluções de Inteligência Artificial, os estágios de Pré-Seed e Seed foram os mais recorrentes em investimentos, com 61 e 121 aportes, respectivamente. Em seguida encontram-se as rodadas Séries A (44) e Séries B (22). Até hoje, somente uma rodada Séries D foi realizada no setor. Ela ocorreu em 2019, quando a Resultados Digitais recebeu US$ 50 milhões da Riverwood Capital e Redpoint Eventures.
“O campo da Inteligência Artificial é tão promissor que, muito em breve, acreditamos que não será possível realizar um estudo como esse, no qual tentamos distinguir no ecossistema quais startups utilizam esta tecnologia como um diferencial de negócios”, pontua Tiago Ávila, líder do Distrito Dataminer. “Logo mais, perguntar se uma startup faz uso da Inteligência Artificial será o mesmo que questionar hoje se elas utilizam a internet. Isso diz muito sobre o passo dos avanços tecnológicos que, por sua escala e velocidade sem precedentes, naturalizamos”, conclui.
O levantamento traz ainda a distribuição geográfica das startups com soluções de IA pelo país. Mais de 90% delas estão concentradas nas regiões Sudeste (70,2%) e Sul (22,5%). As empresas restantes estão localizadas nas regiões Nordeste (3,7%), Centro-Oeste (3,2%) e Norte (0,3%). Vale destacar que apenas o estado de São Paulo sedia 51,9% do total das startups deste segmento. Em seguida estão os estados de Minas Gerais (9,4%) e Rio de Janeiro (8,1%).
Como acontece em outras verticais de tecnologia, as startups que fazem uso de IA apresentam uma das maiores desigualdades de gênero no quadro societário, tipicamente liderado por homens, com 40 anos em média, paulistas em sua maioria. Apenas 13,5% dos sócios destas empresas são mulheres.
Revista Empreende