Todas as faixas de renda registraram alta da taxa de inflação em fevereiro. De acordo com o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado hoje (16) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as famílias de renda mais alta foram as mais atingidas no mês. A faixa de renda média saiu de 0,26% em janeiro para 0,98% em fevereiro. A inflação das famílias de renda média-alta subiu de 0,27% para 0,97% e nas de renda alta, cresceu de 0,29% para 0,98%.

Conforme o estudo, o grupo de transportes, impactado pela alta de 7,1% dos preços dos combustíveis, foi o segmento que mais contribuiu para a pressão inflacionária em todas as faixas de renda no mês de fevereiro.

Nas famílias mais pobres, os reajustes de 0,33% do ônibus urbano e de 0,56% do trem pesaram para a alta da inflação, além do preço dos combustíveis. Ainda entre os mais pobres, o grupo habitação contribuiu para a alta da inflação, ancorado pelos aumentos de 0,66% dos aluguéis, de 1,0% da taxa de água e esgoto e de 3,0% do botijão de gás.

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A autora do estudo e pesquisadora do Grupo de Conjuntura do Ipea, Maria Andréia Lameiras, disse que o mês de fevereiro ficou dentro do que já era esperado de aceleração na margem causada pelos combustíveis. “A gente viu que ao longo dos primeiros meses do ano vem tendo aumentos recorrentes nos combustíveis, muito por conta da desvalorização do real. Essa aceleração de janeiro para fevereiro veio realmente em linha do que a gente estava imaginando”, disse em entrevista à Agência Brasil.

Já as famílias de renda mais alta tiveram uma pressão maior do grupo educação, especialmente por causa do reajuste de 3,1% das mensalidades escolares. O estudo apontou ainda que o aumento das taxas para estas famílias foi atenuado pela desaceleração dos alimentos ocorrida em fevereiro. A queda de 3% do preço das passagens aéreas também representou um alívio inflacionário para as famílias mais ricas.

Conforme a pesquisadora, a aceleração maior para os mais ricos, também seguiu as expectativas não só porque fevereiro é o mês de reajuste das mensalidades escolares, mas porque o combustível pesa mais para essas famílias que têm carro próprio. “A mensalidade escolar também é algo que vai afetar a inflação dos mais ricos, porque são os que têm filhos em colégios particulares. Então, ela veio dentro das expectativas”, completou.

Segundo Maria Andréia, a desaceleração dos preços dos alimentos também era prevista, o que acabou por ajudar a reduzir a alta inflacionária em fevereiro. A pesquisadora afirmou que no ano passado a concessão do auxílio emergencial, apesar de necessário, acabou por ser um dos fatores da alta dos alimentos com o aumento do consumo. Nos dois primeiros meses de 2021, a falta do auxílio combinada à alta menor dos preços de commodities, como carnes, no mercado internacional, mesmo que ainda estejam elevados, representam pressão menor na inflação.

“A alta dos preços de alimentos no mercado internacional está mais contida e mesmo no doméstico não tendo o auxílio emergencial tem um fator a menos de pressão sobre esse preço. Vale ressaltar ainda que essa desaceleração dos alimentos poderia ser um pouco menor se não tivesse a pressão do câmbio, que mais alto em janeiro e especialmente fevereiro freou a desaceleração do preço dos alimentos”, observou.

A pesquisadora disse que o cenário para 2021 é que mesmo com a volta do auxílio emergencial a tendência é de desaceleração dos preços dos alimentos, com preços internacionais mais bem comportados e no mercado doméstico previsão de aumento de safra. “Não tem cenário de queda de alimentos em 2021, mas a gente vai ter uma alta muito menor do que a gente viu em 2020. O que pode frear ou não essa desaceleração é o câmbio. Se tiver um câmbio melhor, essa desaceleração tende a ser maior”, explicou.

Para os mais ricos, segundo a pesquisadora, o que pode pressionar é a inflação por conta dos serviços que devem acelerar com a vacinação e em consequência com o aumento da oferta. “A ideia é que a partir do meio do ano, quando a gente já tiver uma situação mais bem controlada, a reabertura dos serviços acabe a impactar um pouco mais o orçamento das famílias mais ricas, porque são as pessoas que usam os serviços”, afirmou, acrescentando que o reajuste dos planos de saúde que foram suspensos no ano passado também será um fator de impacto para essas famílias.

Comparação

Também em relação ao mesmo período do ano passado, todas as faixas de renda sofreram crescimento da inflação. Nessa comparação, as três faixas de renda mais baixas foram as que registraram as maiores altas inflacionárias, com taxas de variação avançando de 0,15%, 0,12% e 0,16%, em fevereiro de 2020, para 0,67%, 0,80% e 0,89%, em 2021, respectivamente. De acordo com o estudo, a alta menos expressiva dos alimentos e as quedas dos preços da energia e dos combustíveis explicam o aumento mais ameno em 2020 do que esse ano.

Já para os três segmentos de renda mais altas as taxas variaram de 0,25%, 0,35% e 0,42%, em fevereiro de 2020, para 0,98%, 0,97% e 0,98%, em 2021, respectivamente. A pressão inflacionária foi atenuada pelo comportamento menos intenso dos combustíveis em fevereiro de 2020.

A aceleração da inflação também atingiu todas as faixas de renda no acumulado de 12 meses, embora para as famílias mais pobres tenham se mantido taxas mais altas do que para as mais ricas. A inflação para as famílias que recebem menos de R$ 1.650,50 ficou em 6,75%, enquanto para as famílias com renda maior que R$16.509,66 alcançou 3,43%.

Agência Brasil