O Ministério Público está investigando casos de nomes de pessoas que aparecem em duplicidade na lista de vacinados contra a Covid-19 em Ceres, na região central do estado. O órgão está analisando cerca de 20 suspeitas de irregularidades diversas na imunização. Entre os casos apurados estão pais de donos de hospital listados como faxineiros ou funcionários de outras funções e que tomaram doses.

“Certamente tem coisa errada aí. Certamente houve desvio de vacina”, disse o promotor Marcos Rios.

A lista com os nomes vacinados na cidade tem 877 nomes. Após a divulgação, várias denúncias começaram a surgir.

“Vamos examinar caso a caso, nome por nome, CPF por CPF. Já temos pelo menos uns dois ou três casos de pessoas que vacinaram em mais de um lugar. Vamos chamar essa pessoa aqui para esclarecer, chamar quem aplicou a vacina para que também se manifeste, traga algum subsídio para nossa investigação”, disse o promotor.

Entre os nomes que constam na lista estão Levi José Laignier e Edilce Maria Laignier. Eles são pais do cirurgião vascular e sócio do Hospital Bom Jesus, Victor Hugo Lignier. Os dos aparecem na lista como auxiliares de serviços gerais da unidade.

Também foram listados entre os vacinados Diva Moreira Rêgo e Ronaldo Ferreira Rêgo. Eles foram identificados como funcionários do setor de faturamento e da administração. Diva é conhecida na cidade por ser professora e Ronaldo, funcionário do Detran. Eles são pais do oftalmologista Rafael Moreira Rêgo, que também é sócio do Hospital Bom Jesus.

G1 tentou contato por telefone com o Hospital Bom Jesus, mas as ligações não foram atendidas. A reportagem não conseguiu contato com as pessoas citadas.

O prefeito da cidade Edmário Barbosa, disse que a situação está sendo apurada. “Vamos acionar o departamento jurídico para fazermos as investigações necessárias. A pessoa que foi vacinar deveria ter tido o cuidado de verificar a lista. E parece que ela não verificou”, disse.

Segundo o promotor, outras pessoas de grande poder aquisitivo e conhecidas na cidade também são investigadas. Todos podem responder criminalmente caso fique comprovada a irregularidade.

“O dolo é evidente. Eles cometeram falsidade ideológica. Certamente as pessoas envolvidas nisso têm 99% de serem condenadas, porque eles sabem que não são auxiliares de serviços gerais, faxineiro. Nós conhecemos, são pessoas conhecidas na cidade, de alto poder aquisitivo. Dificilmente vão conseguir provar que trabalham de faxineiro e sai do serviço de Mercedes”, disse.

Enquanto isso, idosos que moram em Ceres aguardam sua vez para serem vacinados. Parentes dos idosos ficaram indignados ao saber das denúncias de pessoas furando fila. “Com certeza a gente fica chateado, porque tira a vez de muitos idosos. Não sei ao certo quantas pessoas furaram, mas não só eu, mas toda população de Ceres ficou indignada”, disse Valdilon Arantes.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

O promotor explicou ainda que há uma reclamação sobre a falta de critérios do município ao distribuir as doses. Enquanto no asilo da cidade, os idosos foram vacinados, os funcionários não receberam o imunizante. A distribuição para clínicas e laboratórios particulares também teria acontecido de maneira desigual, já que nem todas receberam doses.

“Houve uma desobediência da norma, passando os velhinhos para o segundo plano, para uma segunda remessa, e vacinando toda comunidade médica. Uma cidade pequena, que recebeu apenas 814 doses de vacina, preferiu distribuir para a comunidade médica, deixando a população desassistida”, completou o promotor.

G1