O governador Ronaldo Caiado (UB) falou que os detectores de metal serão implantados em até 10 dias em escolas de Goiás e afirmou que a vistoria em mochilas de alunos já está autorizada. A fala foi dita durante entrevista à TV Anhanguera nesta quarta-feira (12), um dia após anunciar medidas de seguranças para evitar ataques nos colégios. Um especialista ouvido pelo g1 falou que é preciso fazer um plano de avaliação de riscos.

Segundo a Secretaria de Estado da Educação (Seduc), Goiás possui 1 mil escolas e cerca de 520 mil alunos. O g1 questionou a Seduc sobre quantos equipamentos deverão ser adquiridos, qual o valor orçado e de onde virá o dinheiro, por mensagem e e-mail enviado às 13h46 desta quarta-feira, e aguarda uma resposta desde a última atualização desta reportagem.

De acordo com o governador, após o último ataque, ocorrido na terça-feira (11), em uma escola de Santa Tereza de Goiás, ele determinou caráter de urgência na compra dos bastões de detectores de metal. Durante o ataque, três estudantes ficaram feridos.

“É um bastão, então, não é algo tão complexo. A rapidez pode ser muito bem defendida perante o Tribunal de Contas do estado de Goiás, para a aquisição desses bastões. No máximo uma semana a 10 dias, nós já teremos acesso e poderemos distribuir isso a todas as escolas do estado de Goiás”, falou o governador.

Após a fala do governador, o g1 procurou o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), que informou que não possui orçamento desta compra, já que os municípios são responsáveis pelo levantamento desses preços. O Tribunal disse ainda que função deles é ajudar as cidades nos processos de compra, orientando e analisando com a maior celeridade possível para o caso.

Em relação à viabilidade do prazo de 10 dias dado pelo governador, o TCM falou que pode ser, sim, ser viável, “dependendo da agilidade de cada município na instrução do procedimento”.

O governador também falou que, mesmo antes de enviar o projeto de lei à Assembleia Legislativa, a vistoria nas mochilas dos alunos já foi autorizada por ele e já pode ser feita, após determinação dada por ele na noite de terça-feira.

“Será encaminhado à Assembleia Legislativa até sexta-feira [14] [um projeto], onde nós vamos autorizar professores a fazer a revista nas mochilas e, então, eles estarão autorizados por lei. Nesse interstício, eu assumi a responsabilidade e autorizei que fosse feito essa vistoria, essa revista, em cada uma das mochilas dos alunos e alunas para que possa tranquilizar o ambiente. Essa medida já começou a valer desde ontem à noite”. Disse.

Durante a entrevista, Caiado disse ainda que a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos (DERCC) vai monitorar publicações nas redes sociais para evitar ataques em escolas, e que vai pedir responsabilização para as próprias redes sociais, como “coautoras” dos crimes.

Além disso, o governador falou que vai cobrar dos pais a responsabilização pelo monitoramento das redes sociais dos filhos. “Existe omissão direcionada”, falou.

Sobre o reforço de policiamento nas escolas, o governador falou que se torna inviável colocar um policial armado na porta de cada uma das escolas, já que ele possui cerca de 12 mil policiais militares e 5 mil policiais civis. Contudo, ele avisou que solicitou à Guarda Civil dos municípios que priorizem o monitoramento nas unidades de ensino.

O Governo de Goiás divulgou telefones da Seduc para denúncias sobre suspeitas de ataques em escolas, relacionadas a qualquer cidade de Goiás: (62) 3220-9620 / 3220-9621 / 3220-9622.

Opinião de especialista


O g1 ouviu o antropólogo e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Robson Rodrigues, que também é coronel da reserva da Polícia Militar, que deu sua opinião sobre o assunto.

Ele falou que acha que a atitude de por detectores de metal nas escolas é uma decisão temerária, ou seja, que pode ser arriscada, e um dos motivos é que, para que se torne viável, é preciso um grande investimento na compra, além de providenciar treinamento para operação dos equipamentos.

“Evidentemente, é preciso uma preocupação, mas generalizar para todas as escolas, traz uma preocupação orçamentária. Sem um estudo nesse sentido, eu acho que você vai tentar resolver um problema de uma forma generalizada e nem todas as escolas parecem ter esse risco. É preciso alguma atitude, mas acho que não nesse sentido”, falou.
O especialista falou ainda que, na opinião dele, o ideal seria conhecer melhor o problema, com análise dentro de cada escola, e estudar quais são os fatores que estão levando a essa situação.

“Você tem que fazer uma avaliação de risco e ver as instalações físicas. Todos os fatores tem que ser voltados em prol da sociedade. Se tiver algum fator na arquitetura da escola, por exemplo, não é um detector que vai resolver. Se tem uma cerca quebrada, por exemplo, onde uma pessoa pode entrar facilmente, tem que fazer plano de segurança, avaliar todos os pontos sensíveis da instalação”, disse.

Sobre as ações preventivas, o especialista ainda falou que é preciso dar qualificação aos profissionais, desde os que vão operar os detectores de metal até mesmo as pessoas que vão tomar as primeiras atitudes durante uma situação de crise.

“Tem que ter qualificação para quem for tomar decisão. Dizer onde tem abrigo, onde tem local para parar esse tipo de armamento, qual a sala de concreto, para onde tenho que ir, qual o procedimento. Até ser acionada a força policial num caso mais extremo, muitos podem ali sob risco de vida”, disse.

Robson ainda falou da importância da análise de redes sociais. “É importante esse monitoramento. Essa é uma conversa com a escola, que já tem essa expertise com os pais, embasado com esses procedimentos. A gente não pode aumentar mais o medo do que já está generalizado, precisa avaliar melhor os riscos”, disse.

Conforme Robson, é preciso que uma equipe multidisciplinar, que tenha conhecimento no assunto, elabore um protocolo de ação para situações como estas.

“É preciso, primeiro, levantar dados, entender padrões, verificar com especialistas, trazer profissionais que se debruçaram sobre esse tema, receber orientações, e aí você faz um plano de avaliação de risco para as escolas”, falou.

G1 Goiás