Técnico da Seleção explica convocações de Willian José e Talisca, e ressalta que força do grupo é fundamental para superar ausência do craque
Tite convocou 25 jogadores para os amistosos contra Rússia e Alemanha, mas, em sua entrevista coletiva, citou outros tantos que ficaram fora da lista. Antes mesmo de divulgar os nomes, ele deixou claro que vai manter suas observações até definir os 23 da Copa do Mundo, no início de maio. E o técnico teve que falar também, logicamente, sobre Neymar.
Sem o atacante, que foi operado em razão de uma fratura no quinto metatarso do pé direito, e só deve voltar a jogar em meados de maio, Tite quer ver um Brasil igualmente forte.
– Vejo como fato real não ter o Neymar, vamos direcionar nosso trabalho. Foi muito feliz o pai do Neymar em dizer que a primeira preocupação é com a saúde do atleta. Não se paga o preço de vencer uma Copa do Mundo com a saúde de alguém.
– (Neymar) é um jogador diferente, é Top 3. Mas equipe forte se faz independentemente de nomes.
– Força de equipe é fundamental e temos que ter essa força para suplantar adversidades, como essa, mas projetando tê-lo (Neymar) para a Copa – disse Tite (assista abaixo).
O treinador também deu pistas de quem pode entrar no time no lugar de Neymar.
– (Temos que) Manter uma estrutura da equipe, com as funções que exercem nos clubes sejam exercidas na Seleção. O Douglas Costa jogou muito, dos dois lados da mesma forma, pode jogar na esquerda, onde teve seu maior momento no Bayern com o Guardiola. Numa função parecida com a do Neymar. Há a possibilidade do Coutinho vir por dentro, com o aproveitamento do Willian, que está num grande momento. Mas manter uma coerência em cima do que eles vêm desenvolvendo nos clubes.
O treinador da Seleção fez questão de manter acesa a chama de nomes ausentes nessa lista. Citou os zagueiros Gil e Jemerson, o lateral-esquerdo Alex Sandro, os meio-campistas Arthur, Giuliano, Diego, Rodriguinho e Lucas Lima, entre muitos outros. Tite não quer ninguém acomodado para as seis ou sete vagas ainda abertas para a Copa do Mundo.
– Não tenho dúvidas, tenho oportunidades. Há 15, 16, 17 atletas, que pelo alto nível na Seleção e nos clubes, estão encaminhados na Copa. E existem outros que estão disputando. Geromel, Rodrigo Caio, Gil e Jemerson estão brigando. E só vai ser decidido lá na frente. Há um encaminhamento para Thiago (Silva), Marquinhos e Miranda. Na lateral tem Alex Sandro, Filipe Luís e Marcelo, três que jogam muito, dói deixar o Alex Sandro fora. Observamos o Ismaily, do Shakhtar, também. Há o encaminhamento de alguns, mas, com características diferentes, atletas que brigam. Lucas Lima, Diego, Luan, Giuliano, Rodriguinho, estão brigando. O momento pode determinar sua convocação – frisou.
Confira outros trechos da coletiva de Tite:
Reencontro com a Alemanha
– É uma das favoritas ao título pela força que tem, pelo trabalho que está desenvolvendo junto contra outras seleções, como o Brasil. O 7 a 1 é um fato real, temos que nos acostumar. Enquanto não tiver um novo jogo, vão fazer memes, vão falar sobre isso. Como foi depois da final de 2002, ficaram fazendo sobre o erro Kahn, sobre os gols do Ronaldo, são fatos históricos do passado. Agora é uma preparação que para nós é extremamente importante pela qualidade da Alemanha.
Convocações de Willian José e Talisca
– Um conjunto tem que ser harmonioso. As oportunidades surgem para cada atleta. Eu repito o que coerentemente tenho colocado, a lista final vai bater ali na frente. Todos os atletas continuam sendo avaliados, e grandes momentos como os de Willian José e Talisca, que trazem componentes diferentes. Willian José faz duas grandes temporadas na Real Sociedad, desenvolvimento grande como atleta, com jogo combinado. Talisca tem finalização de média distância, bola aérea, imposição física que pode emprestar virtude contra defesas com linha de cinco ou quatro. Isso não quer dizer que Giuliano, Lucas Lima e Diego estão fora. Absolutamente. Não há uma situação definitiva, há margem de disputa. O objetivo é ter opções, jogadores de características diferentes, um pivô, mas tem mobilidade. Ele é alto, mas se movimenta e cabeceia muito. Tem números bons em campeonatos importantes. Assim como o Jô, ou algum outro no Brasil possa ter essa característica e te permita um acréscimo.
– Todos os atletas continuam sendo avaliados.
Convocação de Geromel
– Não conversei com a diretoria do Grêmio (sobre desfalques em jogos decisivo do Gaúchão). Temos que nos ater ao lado técnico, o que entendemos ser importante. Eu assisti treinamentos, a comissão técnica tem assistido diferentes jogos, atletas… A gente procura, dentro de quem nos abre, nos permite, uma aproximação maior. Mas seria antiético, não seria transparente, se não olhássemos o lado técnico. Geromel merece pela grande Libertadores e pelo grande Mundial. Ele, Luan, Arthur, que ficou três meses parado, Grohe, todos estão no nosso hall de observação. Mas seria injusto se eu não convocasse o Geromel, não ficaria bem comigo mesmo.
Importância de resultados positivos nos amistosos
– Antes o desempenho. Todo grande profissional precisa ter capacidade de avaliar o processo. Se não avaliar, ele se perde. O objetivo é o resultado final, é vencer, porém o segredo está na avaliação do processo. Se a equipe jogar bem, mantiver nível alto de concentração, administrar essas expectativas todas, tiver essa maturidade, isso é grande. Se tiver um grande futebol, é uma boa preparação. Um resultado bom sem desempenho não gera confiança, e atleta não se engana. Ele sabe quando achou um resultado, sabe avaliar quando produziu bem, quando a equipe jogou bem, foi consistente. Ele tem essa capacidade de análise. Jogar bem é fundamental, inclusive num jogo desse tamanho, com toda essa expectativa.”
Sobre eleições da CBF
– Não gostaria de receber essa pergunta nesse momento, não é propício. Se o compromisso nos foi dado por toda a direção, deve ser com elogios e críticas pertinentes a eles. Estão nos dando todas as condições de trabalho. Nós procuramos e queremos estar atentos e ter o foco na qualidade técnica, na preparação dos jogos, estar bem preparado, fortalecido, encontrar as verdadeiras soluções da equipe. A essência é essa. Claro que outros fatores podem ser abordados, mas em outro momento, de outra forma e com outras pessoas.
Formação sem Neymar
– Manter uma estrutura da equipe, com as funções que exercem nos clubes sejam exercidas na Seleção. O Douglas Costa jogou muito, dos dois lados da mesma forma, pode jogar na esquerda, onde teve seu maior momento no Bayern com o Guardiola. Numa função parecida com a do Neymar. Há a possibilidade do Coutinho vir por dentro, com o aproveitamento do Willian, que está num grande momento. Mas manter uma coerência em cima do que eles vêm desenvolvendo nos clubes.
O que pode tirar um jogador da lista final?
– Jogar menos no clube, tem que arrebentar, tem que ter números representativos de performance. De gol, assistência, competitividade, personalidade, não sentir. Para estar na seleção brasileira tem que estar muito preparado emocionalmente.
Willian José
– O objetivo é ter opções, jogadores de características diferentes, um pivô, mas tem mobilidade. Ele é alto, mas se movimenta e cabeceia muito. Tem números bons em campeonatos importantes. Assim como o Jô, ou algum outro no Brasil possa ter essa característica e te permita um acréscimo. Se tu pega uma linha de cinco com uma de quatro à frente, em alguns momentos, com um balanço da bola, infiltra pelo lado para gerar cruzamentos, e aí precisa ter um grande cabeceador, de imposição. Criar essa possibilidade é um dos objetivos de Willian José, Jô, algum que possa estar num grande momento.
Reencontro com a Alemanha
– Vai aflorar situações emocionais, verdadeiras, temos que trabalhar em cima da verdade. O que queremos desse jogo? Uma preparação. Nível de enfrentamento alto. Vamos pegar o país-sede, sabemos como isso é importante. Eles foram campeões na nossa casa, queremos nos preparar para estar bem na Copa do Mundo.
Chefe da delegação e a questão política da escolha
– Não é nossa alçada. A gente se reúne lá em cima e passei a lista a todo a diretoria antes. Continuamos exatamente da forma como sempre trabalhamos, como combinamos. Há um respeito, uma hierarquia e a nossa autonomia em cima do trabalho. Essa diretriz de convívio, de trabalho, segue a mesma linha. Vai ser o Francisco Noveletto agora o chefe de delegação, como já foram presidentes de clubes.
O ”ritmista” da Seleção
– Ritmista é armador, meia-armador, construtor, assistente, use o adjetivo que quiser. Fernandinho tem essas características, Renato Augusto tem, Coutinho tem. Willian menos, mas tem. Arthur tem. Fred tem boa qualidade de passe vertical. Rodriguinho tem, Diego, Lucas Lima têm. Giuliano. São jogadores que compõem o meio-campo.
Seleções favoritas
– Alemanha, Espanha, França, Brasil… para mim estão em um nível, teoricamente, nesse plano um pouco superior às demais seleções. Portugal, Argentina, por ter o melhor do mundo, e Bélgica por ter um número de atletas em alto nível.. Acho que as grandes seleções passam por ai, sem abrir mão de surpresas como a Croácia. Mas inicialmente essas que eu falei.
Importância do resultado nos últimos amistos
– Antes o desempenho. Todo grande profissional precisa ter capacidade de avaliar o processo. Se não avaliar, ele se perde. O objetivo é o resultado final, é vencer, porém o segredo está na avaliação do processo. Se a equipe jogar bem, mantiver nível alto de concentração, administrar essas expectativas todas, tiver essa maturidade, isso é grande. Se tiver um grande futebol, é uma boa preparação. Um resultado bom sem desempenho não gera confiança, e atleta não se engana. Ele sabe quando achou um resultado, sabe avaliar quando produziu bem, quando a equipe jogou bem, foi consistente. Ele tem essa capacidade de análise. Jogar bem é fundamental, inclusive num jogo desse tamanho, com toda essa expectativa.
Falta de protagonismo do trio ofensivo (Neymar, Coutinho e Jesus) no momento
– Vamos olhar para o outro lado? Willian, Douglas Costa, Firmino jogando muito. Uma equipe é forte por opções e concorrência. Pode assumir uma postura forte sem o seu maior jogador. É desumano colocar nas costas do Neymar toda a responsabilidade. Vamos pegar cada um a nossa parcela.
O lado bom de ainda ter dúvidas
– Eu comemoro ainda fazer observações, quero valorizar o maior tempo possível. Sei que estamos na expectativa da Copa, faltam tantos dias, a gente sabe. Mas quero enriquecer meu hoje, me oportunizar para na situação final, sei que não vou agradar a todos, mas haverá uma linha de raciocínio. Posso convocar um atleta que não mereça, mas numa função que, num campeonato de sete jogos no máximo, possa ser importante. Se eu quiser um pivô, ele não estiver bem, vou convocar porque a equipe precisa.
Avaliação dos jogadores que ainda não tinham sido convocados
– Não é só o jogo que dá isso, o dia a dia te dá, o treinamento te dá, a naturalidade do atleta, o sentimento com um pouquinho da experiência. O treinamento específico, dei o exemplo da capitania do Coutinho. Ele teve uma dividida com o David Luiz e ficou quieto, mas depois ele foi lá, muito menor, e dividiu de novo. Essa naturalidade diz. Às vezes convoca um atleta que não está no melhor de sua condição. O Willian José ficou parado em torno de 12 dias, mas vinha bem antes, o Sylvinho ia acompanhar o jogo. A característica e sua sequência é muito boa. Talvez ele não merecesse, mas a necessidade e o que ele fez no passado me fizeram trazer para eu ter a oportunidade de observar. Ou então de repente tu olha que o cara na Seleção não é o mesmo do que é no clube. Isso existe? Existe.
Tempo de trabalho
– Se eu tivesse mais tempo, teria dado oportunidade a uma série de outros jogadores. O campeonato da Espanha, duas grandes temporadas do Willian José, crescimento, momento técnico, mas às vezes é uma diferença pequena que acaba definindo. Para cada um que eu escolher, vão ter outros que poderiam ter ganho oportunidade, como o Jonas (Benfica).
Esse grupo convocado tem condição de ganhar a Copa?
– Posso te responder isso no pré-jogo, com um tempo maior, fortalecido para o primeiro jogo, e crescer dentro da competição. Hoje qualquer situação é de ufanismo. Estamos apresentando um grande futebol, precisamos confirmar com variação tática, controle de minutagem, com atletas sadios. A carga de trabalho bem administrada para não estourar o atleta, que virá em fim de temporada. E crescer na competição. Assim ela vai se mostrar forte. Estamos fortes e queremos evoluir.
Globo Esporte