O papa Leão XIV defendeu nesta quinta-feira (9) que as agências de notícias devem funcionar como “antídoto” contra a proliferação da “informação lixo”, desafiando-as à criação de “uma barreira” contra quem usa a mentira para dividir a sociedade.
“O trabalho requer competência, coragem e sentido de ética. Isso é inestimável e deve ser um antídoto contra a proliferação de `informação lixo`”, disse Leão XIV.
O líder da Igreja Católica falou hoje no Vaticano, durante audiência com cerca de 150 executivos e diretores de agências de notícias de todo o mundo.
“Com o seu trabalho, podem agir como uma barreira contra aqueles que, por meio da antiga arte de mentir, procuram criar divisões para reinar. Podem também ser um baluarte de civilidade contra as areias movediças da pós-verdade”, acrescentou.
Leão XIV citou como paradoxo na era da comunicação o fato de as agências de notícias estarem ultrapassando um período de crise, sustentando que a comunicação deve se libertar da “orientação errada que está a corrompê-la” e que pode ir da concorrência desleal à “prática degradante” do clickbai (caça-clique).
“As agências noticiosas estão na linha da frente e são chamadas a agir num ambiente de comunicação de acordo com princípios – nem sempre partilhados por outros – que compatibilizem sustentabilidade econômica com a proteção do direito à informação rigorosa e equilibrada”, disse
Para o papa, os veículos de comunicação “não podem nem devem” separar o seu trabalho da divulgação da verdade”, fomentando a transparência das fontes, responsabilidade, qualidade e objetividade, elementos que considera “a chave para restaurar o papel dos cidadãos como protagonistas do sistema” e para convencê-los a exigirem “informação digna desse nome”.
A audiência privada com o papa marcou o início da 39ª Conferência Internacional Minds (Media Innovation Network), um consórcio integrado por 26 agências de notícias da Europa, América, Ásia e Oceânia, incluindo a agência Lusa, cujo objetivo é a troca de conhecimentos e experiências sobre produtos informativos, avanços tecnológicos e iniciativas comerciais.
A agência italiana Ansa, que celebra 80 anos, é a anfitriã da conferência que junta durante dois dias, na capital italiana, diretores e executivos das principais agências de notícias.
No momento em que inteligência artificial “muda a forma como recebemos informação e comunicamos”, o líder da Igreja Católica considera fundamental saber quem controla essa informação e com que objetivos.
“Temos de estar vigilantes para garantir que a tecnologia não substitua os seres humanos e que a informação e os algoritmos que hoje a governam não estejam apenas nas mãos de alguns”, alertou.
Durante a audiência, Leão XIV lembrou ainda os jornalistas que “todos os dias” arriscam a vida para informar sobre o que está ocorrendo, bem como os muitos que morreram no exercício da profissão.
“São vítimas da guerra e da ideologia da guerra, que procura evitar que os jornalistas estejam lá. Não podemos esquecê-los. Se hoje sabemos o que está acontecendo em Gaza, na Ucrânia e em outros países ensanguentados por bombas, devemos a eles”, lembrou.
A Conferência da Minds aborda temas como o desafio que representa a inteligência artificial nos meios de comunicação, os desafios da cibersegurança para as agências de notícias, as tendências atuais de produção e consumo de informação ou a sobrevivência do setor na era da pós-verdade.
Desde a sua criação em 2007, a rede internacional Minds vem incorporando novos participantes e integra as principais agências que fazem parte da Aliança Europeia de Agências de Notícias (Eana), como a espanhola EFE, a norte-americana Associated Press, a japonesa Kyodo, a turca AA e a australiana AAP.