O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou nesta terça-feira à CPI da Covid que a decisão de não nomear a infectologista Luana Araújo para um cargo no ministério foi dele.

Em depoimento à CPI na semana passada, Luana disse que Queiroga havia lhe comunicado que seu nome não seria aprovado no governo, por isso ele não a efetivaria.

No início da gestão de Queiroga, ele anunciou Luana como a futura secretária da Secretaria de Enfrentamento à Covid. Ela trabalhou 10 dias sem ser nomeada. Depois, recebeu a notícia de que não seria efetivada.

Nesse intervalo, foram reveladas na imprensa manifestações anteriores da infectologista contra ideias defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro, como o “tratamento precoce”‘, que não tem eficácia contra a Covid.

Nesta terça, Queiroga diz que partiu dele a decisão de tirar Luana da equipe.

“Eu entendi que, naquele momento, a despeito da qualificação que a dra. Luana tem, não seria importante a presença dela para contribuir para harmonização desse contexto. Então, no ato discricionário do ministro, decidi não efetivar a sua nomeação”, afirmou Queiroga.

No dia 26 de maio, na Câmara, Queiroga também falou sobre a dispensa de Luana. Na ocasião, ele disse que para uma pessoa ser efetivada são necessárias a validação “técnica” e a “política”.

“A doutora Luana Araújo é uma pessoa qualificada que tem condições técnicas para exercer qualquer função pública e nós encaminhamos. Ela não foi nomeada. Nós vivemos um regime presidencialista. Eu fui indicado por quem? Por quem é de direito, presidente da República. E é necessário que exista validação técnica e que exista também validação política”, afirmou o ministro há duas semanas.

Reação dos senadores

Os senadores da comissão começaram a relembrar a diferença entre a fala de Luana e a de Queiroga.

“Alguém mentiu. Ou o senhor ou ela”, afirmou Eliziane Gama (Cidadania-MA).

No Twitter, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse que “dá tristeza” ver um médico com carreira de 30 anos mentir para se manter no ministério. Ele mencionou a fala de Queiroga na Câmara.

“Dá tristeza ver um cidadão com mais de 30 anos de carreira na medicina se sujeitar a mentir desse jeito para se agarrar a um cargo de ministro. Queiroga tenta assumir a negativa de nomeação da Dra Luana como opção sua. Ele mesmo apontou para o presidente em declaração anterior”, disse o senador.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse para Queiroga que se o ministro não quisesse trabalhar com Luana, não teria nem anunciado o nome da infectologista.

“Ministro, o senhor me desculpe. Vossa Excelência esteve aqui e disse que tinha autonomia no ministério, convida uma pessoa para trabalhar com o senhor. Se o senhor não quisesse ela, não teria nem encaminhado para a Casa Civil. Depois que o senhor encaminha para a Casa Civil que o senhor vai ver que tem divergência?”, questionou Omar.

Integrantes da comissão insistiram em saber de Queiroga se houve algum veto ao nome de Luana por parte do Palácio do Planalto.

“Senador, eu volto a esclarecer, não houve óbices formais da Secretaria de Governo e da Casa Civil. Não houve óbices formais”, respondeu o ministro.

O que Luana disse

Questionada pela CPI na semana passada sobre as circunstâncias que a levaram a não ser efetivada no cargo, a infectologista respondeu:

“O ministro, com toda hombridade que ele teve ao me chamar, ao fazer o convite, me chamou ao final e disse que lamentava, mas que a minha nomeação não sairia, que meu nome não teria sido aprovado”, disse Luana.

Após ser questionada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) se a decisão de não nomeá-la teria partido de Queiroga, Luana disse que o ministro demonstrou “pesar” e que “não teria lógica” se a decisão tivesse partido dele.

“Não sei se foi uma instância superior, o que eu posso dizer é que não me parece ter sido dele, não teria lógica. Isso ficou claro para mim. Não existe razão para que a gente chegasse naquele ponto, e naquela circunstância, e naquele pesar se isso fosse uma decisão privada, assim, única e exclusivamente dele, eu não vejo razão para isso ter acontecido”, afirmou.

G1