Quando fez sua primeira live na quarentena, em 8 de abril, a cantora goiana Marília Mendonça possivelmente não imaginou que, além de fazer a alegria de mais de 3 milhões de espectadores isolados em suas casas e arrecadar toneladas de alimentos e produtos de limpeza, chamaria atenção por colocar no canto da tela os intérpretes de Libras – a Língua Brasileira de Sinais. A sertaneja, conhecida pelo título de “rainha da sofrência”, anunciou com antecedência que ofereceria o recurso de tradução para surdos. Foi uma das primeiras.
Um dos tradutores que participaram da live foi Gessilma Dias, de 46 anos, que, há 21, trabalha com a língua de sinais na área educacional. Conterrânea de Marília, ela não sabe ao certo como a produção da cantora chegou até seu nome, já que nunca havia trabalhado com tradução em shows, apenas em peças de teatro. Mas topou. “Me ligaram em uma terça-feira e a live era no dia seguinte. Recebi um repertório prévio para estudar as letras”, conta.
A intérprete explica que a tarefa foi árdua – a apresentação durou 3h30 – e que a parceria com Viny Batista, com quem dividiu a tradução, foi fundamental para chegar ao final do show e lidar com os improvisos no setlist. “Saímos de lá exaustos, pois o raciocínio para a tradução tem que ser muito rápido”, diz Gessilma.
O trabalho em equipe também foi fundamental na live do cantor Thiaguinho, no dia 23 de abril. Foram 5h30 de música e participações especiais de nomes como Neymar e Luciano Huck. Tudo com tradução simultânea em Libras, feita por quatro intérpretes liderados por Carol Fomin, que tem uma empresa de acessibilidade. “Dividimos o repertório para estudar, mas uma música que caiu comigo foi estudada pelo meu colega. Nesses momentos, um ajuda o outro”, conta Carol.
Apesar do desafio, Gessilma e Carol – uma conhece o trabalho da outra, embora nunca tenham se encontrado pessoalmente – afirmam que é extremamente gratificante e positiva a experiência dos artistas abrirem espaço para a tradução em Libras em suas apresentações online. “Os surdos também estão em casa, na quarentena, passando o mesmo que nós todos. Por que não se comunicar com eles, permitir que se divirtam?”, diz Gessilma.
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