Transmitida por streaming, a edição 2020 do Brazil at Silicon Valley começou nesta quarta-feira, 6, e contou com a participação de Cesar Carvalho, fundador da Gympass; David Vélez, fundador do Nubank; Fabrício Bloisi, CEO do iFood; além de Vitor Lazarte, CEO e cofundador da Wildlife. Os empreendedores falaram sobre os desafios brasileiros em tecnologia, inovação e empreendedorismo. O vídeo pode ser visto aqui.
Entre os empreendedores convidados para a conversa, Cesar Carvalho talvez seja o mais preocupado. À frente da Gympass, o executivo viu a operação da companhia ser afetada diretamente pela quarentena com o fechamento das academias parceiras da empresa. “Quando isso aconteceu, foi um choque em toda a organização”, diz Carvalho.
Unicórnio — termo designado para startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares — desde junho de 2019, quando recebeu um aporte de 300 milhões de dólares, a companhia precisou reinventar seu negócio em tempos de quarentena. “Precisávamos buscar outras soluções para manter as empresas engajadas e os funcionários fazendo atividades físicas”, afirma.
A solução encontrada inicialmente foram as lives. As transmissões ao vivo que ganharam força nos últimos meses estão sendo exibidas por mais de 5.000 academias conveniadas à Gympass e assistidas por mais de 100.000 pessoas. Durante as transmissões, os alunos não apenas assistem à execução dos exercícios como também realizam e filmam seus movimentos e recebem orientações de um profissional de educação física.
Segundo Carvalho, a expectativa é que, mesmo quando as academias possam reabrir, as pessoas ainda vão buscar pelos treinamentos virtuais. “A tecnologia quebra essas fronteiras”, afirma.
Com mais de 24 milhões de clientes, o Nubank está acostumado com um cenário econômico desafiador no Brasil. “Começamos em 2013 e a única história que nossos modelos de crédito conhecem infelizmente é a recessão do país”, afirma David Vélez, CEO e cofundador do Nubank.
Com mais de 1,1 bilhão de dólares em aportes recebidos e valor de mercado superior da 10 bilhões de dólares, a companhia que não conta com agências físicas viu um crescimento de 25% mês a mês na abertura de contas de pessoas que antes não gostariam de abrir uma conta digital.
“As pessoas que queriam ir em uma agência física, tomar um café e conversar com o gerente não podem fazer isso”, diz Vélez. “A agência bancária é a nova Blockbuster”, diz em referência à rede de locadoras de filmes.
Para Fabrício Bloisi, que está no comando do aplicativo de delivery iFood, o desafio é manter um serviço que pode ser considerado essencial. “É uma das atividades que têm de continuar operando e não pode parar. Tenho de manter as pessoas comendo e saudáveis e as pessoas trabalhando, as poucas que podem, saudáveis”, diz.
Para o executivo, o questionamento que deve ser feito se dá nas maneiras de utilizar tecnologia para viabilizar as operações no em meio à pandemia. “Há pessoas que trabalham com inteligência artificial e dado soluções”, diz.
Segundo Bloisi, o iFood já crescia 100% ao ano e vai continuar com esse crescimento em 2020, principalmente pela transformação digital dos restaurantes. “Eles descobriram que podem vender muito no delivery”, afirma. Outros motivos citados foram a entrada da companhia no segmento de supermercados e a adoção dos consumidores aos meios de pagamento digital.
Fundada em 2011 e avaliada em mais de 1,3 bilhão de dólares, a Wildlife está entre as startups que talvez mais se beneficiaram pelo isolamento social forçado pela covid-19. Segundo Victor Lazarte, cofundador e CEO da companhia, houve um aumento de 50% no número de clientes da empresa em abril. O percentual é maior do que a média de alta de 30% do mercado.
“Começamos a viver em 2020 o que esperávamos para 2025”, diz Lazarte. Segundo ele, um dos motivos para o crescimento está na redução dos custos com publicidade. “Um anúncio no Google ou no Facebook caiu 40% em valor. Essa crise deu uma aceleração muito forte e orgânica para o negócio crescer”, diz.
Para Lazarte, a escolha de um time competente é fundamental para que a empresa possa crescer. “Essas pessoas vão te ajudar a ver coisas que você, sozinho, talvez demorasse cinco anos para ver”, diz. Como conselho para outros empreendedores, o executivo afirma que o que faz um negócio crescer é o foco em inovação. “É preciso entender qual a necessidade que existe hoje e não é suprida.”
Revista Exame