Comerciantes e moradores das redondezas das diversas obras cobram investimentos em outras áreas e reclamam da queda no comércio, sujeira, acidentes e piora na mobilidade.

Bus Rapid Transit (BRT) Norte-Sul deveria ser um linha que agilizasse o serviço de transporte coletivo e facilitasse a vida do goiano. Porém o trecho I, que teve início da construção em 2017 e que ligará o Terminal Isidória ao Terminal do Cruzeiro, com limpeza do canteiro central da Avenida 4ª Radial, segue parado há cerca de dois anos.  Os trabalhos do BRT Norte-Sul começaram em 2015, com verba total, incluindo o trecho do Terminal Recanto do Bosque, de R$ 210 milhões, segundo assessoria de imprensa da Prefeitura.

Paralisado, o trecho do Isidória acumula lixo e poeira, que vai direto para dentro das lojas. Segundo o vendedor André Vicente de Souza, que trabalha de frente ao início dos blocos de concreto, que demarcam o início da obra do BRT próximo ao terminal, a sujeira é constante.

Além disso, ele afirma ser comum ocorrerem acidentes, uma vez que há uma curva fechada e uma pista afunilada para entrar na via. Ele ainda aponta que é fácil ver motoristas fazendo “gatos” pela pista inacabada, apesar dos blocos espaçados. “Até carros”, disse.

Motocicletas foi possível observar aos montes. Elas atalhavam e improvisavam retornos. Vilmar Alves Oliveira é funcionário público e estava de moto. Ele também passou por dentro da pista para ganhar tempo. “Piorou muito o trânsito, então eu faço esse ‘gato’ todo dia”, disse ele, que passa sempre por ali.

Descaso

O taxista José Nivaldo Pereira afirmou que a gestão municipal deixa a desejar. Segundo ele, esse trecho da obra é um descaso total, que prejudica o comerciante, a população e gera transtorno total no trânsito. “O que era para melhorar a mobilidade, piorou”, assinala.

Crislane Milhomem da Silva concorda. Ela, que pega ônibus e desce sempre no Terminal Isidória, afirma que não resolveu em nada a questão do transporte coletivo, que era o que mais precisava. Além disso, ela critica o fato de que a gestão municipal começa outras obras de extensão,como a trincheira da Rua 90, antes de terminar as paradas. “É jogar dinheiro fora”, opina.

A paralisação desse trecho, vale pontuar, se dá por conta do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público Federal. Este tinha permitido a retomada das obras em 2018, mas o Paço Municipal ainda precisará realizar uma nova licitação. A empresa que vencer realizará as obras com recurso total do governo federal, conforme foi adiantado, via telefone, com comunicação da prefeitura.

Trincheira da 90

Na Trincheira da 90, que segue até a 115, também será feito um BRT, conforme informações  da comunicação municipal. A obra total estaria prevista para terminar até o fim do ano que vem, com um terminal provisório implementado em um mês. No cruzamento com a Avenida 136, a previsão de término é de seis meses.

O empresário Luiz Gustavo atua exatamente no cruzamento da 136 com a 90. Apesar do fluxo menor de veículos, ele apenas especula uma diminuição de 15% a 20%. “Ficamos preocupados com a duração e com as futuras interdições. Mas já notamos que algumas pessoas têm evitado a via. Inclusive, alguns clientes ligam e perguntam se dá para vir aqui”, diz.

Para o empresário, a mobilidade é um ponto importante do município, mas há preocupações. “Ficamos receosos que haja uma interdição da obra por fraude, licitação, meio-ambiente, que conversamos bastante, então, ficamos com medo. Temos obras que já foram iniciadas, foram interrompidas e causaram vários transtornos na região”.

Lúcia Santos é auxiliar de serviços gerais. Ela é usuária do transporte público e trabalha na 90. Ela revela que desembarca no Areião às 5h, em um ponto distante, e precisa ir a pé, com medo, até o seu trabalho. Segundo ela, só carro pequeno tem passado pelas vias laterais.

Dificuldade para quem trabalha e também para quem vive na Rua. Sara Segurado, profissional de RH, diz que precisa dar uma volta grande para chegar a sua casa. Além disso, ela foi informada que os veículos não poderão mais estacionar na via. “Os ônibus têm que dar a volta e o barulho também incomoda muito”, aponta mais transtornos.

Avenida Goiás

De volta ao BRT Norte-Sul, há, ainda, o trecho que ligará o Terminal Recanto do Bosque à Praça do Trabalhador. Este, segundo informações da comunicação municipal, está quase pronto. Na verdade, segundo informado por telefone, houve uma desapropriação, mas ficou para trás uma casa, que está em processo judicial. A obra deveria ter terminado em dezembro passado e foi adiada para março.

Também foi informado que há profissionais trabalhando atualmente na Avenida Goiás, altura da Rodoviária, com a drenagem da via, a fim de acabar com os alagamentos e fazer a instalação de uma tubulação diferenciada.

Neste ponto, há, no espaço da construção, carros estacionados e camelôs – além da tubulação citada. A equipe do Jornal Opção chegou às 17h e não havia mais profissionais no local. Porém, os informais confirmaram que houve expediente na sexta, 5.

Além disso, apesar de não gravar a entrevista, eles conversaram com a reportagem e disseram que para os “camelôs” a obra parada é bom. “Acho que ainda vai mais uns dois anos”, disse otimista um informal.  “Prejudica o comércio, mas para nós é muito bom”, afirmou.

Portas fechadas

E realmente para os comerciantes regulares a situação não é boa. Na Estação Goiânia, a reclamação foi geral, inclusive, o relato é de que muitos fecharam as portas.

Maria de Fátima é comerciante no local desde 2017. Para ela, a obra, que já fez vários aniversários, fez com que a movimentação diminuísse bastante. “Como começam outra antes de terminar essa? Parece brincadeira”, diz ela que acha que a saúde e a educação deveriam ser prioridade. “Começam outra obra por uma palavra: política”, aponta sem explicar o que quis dizer.

“Não sei se falta prioridade ou se é recurso mal colocado”, afirma a vendedora de uma loja de roupa, Tercila de Moura, que lembra de antes do início da obra. Ela declara, ainda, que, além do transtorno na mobilidade, há muita sujeira que prejudica as mercadorias.

“Sempre que há uma obra, baixa 30% o movimento. A gente tem esperança que com a liberação volte o fluxo de clientes”, diz ela que tem expectativa de uma conclusão no breve período, pelo que observa. “Não temos certeza, mas acredito que esteja finalizando. Hoje, se vocês andarem pela galeria, vão ver 80% das lojas fechadas”.

Críticas

Enquanto as obras estão paradas e a prefeitura engata em uma extensão do que ainda não existe concretamente, a Saúde e a Educação do Município vivem um caos. As últimas semanas foram protagonizadas por denúncias de falta de médicos e condições precárias nos Cais, além da constante reclamação de déficit de vagas e profissionais nos Cmeis e escolas.

Fonte: Jornal Opção