Segundo estudo do BID, desperdício representa 3,9% do PIB e inclui subsídios que acabam beneficiando os mais ricos.

O desperdício de recursos públicos no Brasil representa um prejuízo de US$ 68 bilhões por ano ou 3,9% do PIB , de acordo com estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que será divulgado nesta terça-feira (7). O indicador leva em consideração recursos mal direcionados em áreas como transferências de renda, compras governamentais e subsídios. Na média da América Latina, essa taxa de ineficiência chega a 4,4%. O número do Brasil , no entanto, é maior do que o de países como Uruguai, Peru e Chile. A Argentina tem a pior marca, com 7,2% do PIB desperdiçados.

De acordo com o diagnóstico do BID, os países da região elevaram os gastos públicos nos últimos anos, embalados pelo boom das commodities, que turbinou o crescimento de países em desenvolvimento e emergentes. A instituição avalia, no entanto, que esse aumento de despesas levou a desperdícios. “Falta de profissionalismo, negligência, corrupção, ou uma combinação desses fatores, inflacionam o custo dos insumos usados para produzir esses serviços”, avalia o levantamento.

Uma das formas de calcular o desperdício é o que os autores do estudo chamam de “vazamento” de transferências. Ou seja, quando um programa que deveria beneficiar os mais pobres acaba garantindo vantagens para mais ricos.

O levantamento constatou, por exemplo, que, de todos os beneficiários do Bolsa Família, 80% são considerados pobres. Alguns tipos de incentivos fiscais, no entanto, acabam direcionados para quem não precisa.

— No Bolsa Família, por exemplo, quase 80% dos beneficiários são pobres. Então, o programa é altamente direcionado. Há um vazamento de 20%, mas você acha os maiores vazamentos em gastos tributários. Quando você reduz os impostos para comida, por exemplo, é um subsídio que afeta muitas pessoas, não só pobres. Quando alguém mais rico compra algo pagando menos impostos, consideramos isso como um vazamento — afirma Alejandro Izquierdo, assessor sênior do Departamento de Pesquisa do BID.

O mal direcionamento do gasto visto pelo BID inclui incentivos à energia, que representavam 61% dos subsídios na região. “Em média, mais de quatro quintos dos subsídios à energia vazam para domicílios não pobres. A magnitude da ineficiência, e, portanto, a margem para melhorias, é enorme”, diz o documento.

Fonte: Agência O Globo