Representantes dos setores de tecnologia, acadêmico e supermercadista debateram nesta quarta-feira (2), durante a 25ª Feira de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), meios de ampliar a disseminação de conhecimentos e novas tecnologias a todos os elos da cadeia produtiva agropecuária. A palestra realizada no Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC) integrou a programação da Agenda do Agronegócio – “Agricultura do Futuro”, evento que está na sua segunda edição e é organizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em parceria com a Agrishow e o Grupo Empresas Pioneiras.
Na abertura, o secretário Agricultura e Abastecimento, Francisco Jardim, destacou que a tecnologia para desenvolver boas práticas de produção e de bem-estar animal é uma demanda mundial. “A sociedade exige cada vez mais a produção de alimentos éticos. Temos a responsabilidade de abastecer não apenas os 220 milhões de brasileiros, mas mais de um bilhão de pessoas no mundo, o que vai ampliar a questão da segurança alimentar e a necessidade de buscar mais parcerias e projetos para ampliar a tecnologia no campo”, disse.
Para o prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Duarte Nogueira Júnior, a adoção de tecnologias pode ajudar a combater três desafios atuais da atividade no campo, que são a classificação dos grãos, o combate a pragas e doenças que afetam as culturas e a conectividade. “É importante melhorar o acesso à informação, fazer com que os resultados práticos obtidos pela pesquisa cheguem ao campo e fomentem a atividade. A tecnologia e a sustentabilidade não combinam com pobreza; elas são fundamentais para trazer estabilidade social e desenvolvimento ao País”, afirmou.
“Hoje, a conectividade é o grande gargalo do Brasil”, concordou o gerente de estratégia de agronegócio inteligente do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Fabrício Lira Figueiredo. Em parceria com a Usina São Martinho, o CPqD busca ampliar o acesso em áreas rurais e remotas, com uma rede móvel privada e banda larga, baseada em tecnologia LTE otimizada. “Temos a possibilidade de trazer ao produtor informações para a tomada de decisões em tempo real”, enfatizou Figueiredo.
Acesso ao conhecimento
A produção de conhecimento teve um grande momento a partir das décadas de 70 e 80, com a criação de institutos e centros para fomentar a atividade agropecuária, informações que chegavam aos produtores paulistas principalmente pelas Casas da Agricultura, conforme explicou o professor da Faculdade de Tecnologia (Fatec) “Shunji Nishimura”, Tsen Chung Kang.
“Feiras como a Agrishow demonstram que essa tecnologia passou a ser disponibilizada ao produtor por meio de tratores e equipamentos produzidos por empresas multinacionais”, disse o docente, explicando que um novo momento se inicia nesse processo. “Hoje, esse conhecimento será levado ao setor produtivo por meio de serviços, inovações e modelos de negócios desenvolvidos pelas startups”.
De acordo com o diretor de sustentabilidade da startup Agrosmart, Guilherme Raucci, as últimas décadas foram marcadas pela geração de novas tecnologias no setor agropecuário. “Tivemos a revolução verde, em 1970; o plantio direto, em 1980; a biotecnologia, em 1990 e a agricultura de precisão, a partir dos anos 2000”, afirmou. Com a missão de ampliar a produção de alimentos em 70%, a tecnologia será responsável por 90% desse processo, visto que a expansão de áreas cultiváveis se restringe a 5%.
Nos últimos anos, o surgimento de tecnologias exponenciais como o blockchain, para rastrear a origem dos alimentos; a inteligência artificial; e a edição de genomas (Crispr) prometem ampliar os níveis de produtividade no setor. “O produtor recebe as tecnologias, mas o desafio é fazer com que ele avance, ajudá-lo a extrair o melhor de cada plataforma e utilizar a geração de dados para melhorar a sua atividade”, refletiu Raucci.
A análise de dados permitirá ao setor produtivo um novo salto tecnológico, avaliou José Damico, CEO da Scicrop, que criou um sistema de gestão online por meio do monitoramento de informações climáticas. “Baseamos-nos nas variáveis de clima, pragas e doenças, mercado, logística e manejo que, se controladas, podem trazer grandes benefícios ao produtor. Não fazemos nada disso sozinhos, nos apoiamos nos ‘ombros dos gigantes’, das instituições que dedicaram anos de pesquisa para termos as inovações disponíveis hoje”, disse Damico.
Além da promoção da segurança alimentar que garante o acesso ao alimento em quantidade suficiente para a população, é preciso garantir também a segurança do alimento. O setor supermercadista, que engloba 89 mil lojas responsáveis por 87,5% dos alimentos consumidos pela população brasileira, tem recorrido cada vez mais as avanços tecnológicos para assegurar qualidade ao consumidor final. “A tecnologia tem contribuído para estabelecer uma relação mais transparente com os produtores, distribuidores e consumidores”, afirmou o superintendente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Marcio Milan.
Pelo Programa de Rastreamento e Monitoramento de Alimentos (Rama), a Abras realiza análises periódicas, de origem dos produtos no que se refere ao uso correto de defensivos agrícolas. O processo é realizado com a colaboração dos produtores, que são comunicados em caso de alguma inconformidade e têm a oportunidade de corrigir o problema. “A intenção é, futuramente, comunicar também o extensionista rural da região, para que ele possa auxiliar o produtor a tomar as providências necessárias”, adiantou Milan.
De 2012 a 2017, a entidade realizou 2.942 análises em 95 tipos de produtos, registrando maior índice de conformidade em alimentos como banana, mamão, batata, laranja e cebola. “Precisamos agora utilizar a tecnologia para evitar o desperdício de frutas, legumes e verduras, um sério problema que gera um prejuízo de R$1,220 bilhões ao setor”, explicou o superintendente da Abras. “O Brasil vive um momento diferenciado no agro. Há muito para ser construído, mas podemos vencer barreiras ao utilizar a tecnologia para transformar a informação que chega ao produtor rural”, finalizou o Tsen Chung Kang, da Fatec Pompeia.
Nesta quinta-feira (3) a Agenda do Agronegócio debate “Novos Sistemas de Produção”, com o diretor da Rede de Fomento ILPF, Willian Marchió; diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Américo Pacheco; o deputado federal Arnaldo Jardim, sob mediação do secretário de Agricultura, Francisco Jardim.
Fonte: Maxpress