Parte dos parlamentares é contrária à inclusão da regra para servidores estaduais porque não quer arcar com desgaste de aprovar medida impopular para eleitores do estado. Carta de governadores afirma que aprovar regra local dificulta uniformidade para território nacional.
Governadores de todo país pretendem divulgar carta de “veemente repúdio” à sugestão de retirada dos estados, do Distrito Federal e dos municípios da proposta de reforma da Previdência, em tramitação na Câmara dos Deputados.
A aplicação, aos servidores estaduais e municipais, das regras de aposentadoria previstas na proposta é um dos pontos que têm enfrentado maior controvérsia. Deputados têm feito pressão para que o trecho fique de fora do texto porque parte deles não quer arcar com o desgaste político de aprovar uma matéria considerada impopular. Segundo o relator da reforma na comissão especial, Samuel Moreira (PSDB-SP), a Casa está “bem dividida“.
No texto de repúdio elaborado pelos governadores, eles argumentam que aprovar uma regra local, no estado, dificulta a uniformidade para o território nacional e é um obstáculo para a efetivação de normas. Eles também afirmam no documento que o regime de Previdência é “substancialmente deficitário”, constituindo uma das causas da “grave crise fiscal enfrentada pelos entes da federação”.
O texto afirma que, caso não sejam adotadas medidas para a solução do problema, “o déficit nos regimes de aposentadoria e pensão dos servidores estaduais, que hoje atinge aproximadamente R$ 100 bilhões por ano, poderá ser quadruplicado até o ano de 2060, conforme estudo da Instituição Fiscal Independente – IFI, do Senado Federal”.
De acordo com o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), um dos articuladores da carta de repúdio, o documento ficou pronto nesta quinta-feira (6). Governadores mobilizados em todo país estariam colhendo assinaturas para o texto.
Economia de R$ 350 bilhões nos estados
A proposta do governo para a reforma da Previdência prevê economia de R$ 350 bilhões em 10 anos para os estados — segundo estimativas do Ministério da Economia — se os servidores estaduais forem incluídos nas regras de aposentadoria previstas no texto.
Segundo os governadores, retirar estados e municípios do texto da reforma representa “atraso e obstáculo” à efetivação de normas necessárias.
“Obrigar os governos estaduais e distrital a aprovar mudanças imprescindíveis por meio de legislação própria, a fim de instituir regras já previstas no projeto de reforma que ora tramita no Congresso, não apenas representa atraso e obstáculo à efetivação de normas cada vez mais necessárias, mas também suscita preocupações acerca da falta de uniformidade no tocante aos critérios de Previdência a serem observados no território nacional”, declaram os governadores em trecho da carta.
“Por conseguinte, é indispensável contemplar a totalidade dos Estados e dos Municípios e o Distrito Federal na proposta de reforma da Previdência que hoje se encontra em discussão, a fim de evitar o agravamento da crise fiscal que já se mostra insustentável”, afirmam os governadores.
No início desta semana, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou que os governadores deveriam ir a Brasília e pressionar os deputados para que os estados não sejam excluídos da reforma.
Deputado defende ‘sandália da humildade’
O deputado Marcelo Ramos (PR-AM), presidente da comissão especial da reforma da Previdência, afirmou nesta quinta (6) que os governadores podem ajudar “bastante” a manter estados e municípios na proposta se “calçarem a sandália da humildade” e pedirem aos deputados que votem a reforma que não “tiveram a coragem de fazer” em seus estados.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já chegou a afirmar que “acha difícil” os estados serem mantidos na proposta, apesar de ele próprio considerar que o “sistema é único” e que o déficit dos estados precisa ser resolvido.
O presidente Jair Bolsonaro declarou no último sábado (1°) que gostaria que o Congresso mantivesse estados e municípios na proposta, mas que o “impasse” deve ser resolvido pelos parlamentares.
Considerada prioritária pela equipe econômica para recuperar as contas públicas, a reforma da Previdência prevê regras mais rigorosas para a aposentadoria de todo o funcionalismo público e também dos trabalhadores da iniciativa privada.
Governador de GO diz que não assina
Em uma entrevista coletiva concedida na tarde desta quinta-feira no Senado, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), criticou a carta.
Afirmou que, por ser ex-parlamentar, não assinará um carta cujo objetivo é, na visão dele, “repudiar” deputados e senadores.
“Jamais assinarei um texto que vem como nota de repúdio a uma Casa em que vivi durante 20 anos. Tenho total respeito pelos deputados e senadores. E a nossa parte é de pedir. É de, neste momento, mostrar a realidade dos estados e tentar sensibilizar os parlamentares que incluam os estados e municípios no texto. Mas em uma solicitação, um pedido. Jamais uma carta de repúdio. Até porque não cabe interferir nas decisões dos deputados”, declarou.
O governador de Goiás afirmou também que, se não houver 308 votos para aprovar uma proposta com estados e municípios, é necessário achar uma outra solução.
Fonte: Portal G1