
No mundo dos negócios, há vários termos e expressões que você precisa saber, seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é design thinking.
Algo relacionado a design, artes ou estética. E provavelmente a post-its.
Uma forma de resolver problemas, desenvolver produtos e pensar projetos baseada no processo cognitivo que os designers usam. Fazem parte do pacote: pesquisa, brainstorms, seleção de ideias, prototipagem.
“Design thinking é uma abordagem antropocêntrica para inovação que usa ferramentas dos designers para integrar as necessidades das pessoas, as possibilidades da tecnologia e os requisitos para o sucesso dos negócios”, conceitua Tim Brown, autor do livro Change by Design.
O processo de design thinking geralmente é feito em grupo e dividido em fases, que podem ser sete, cinco ou quatro, de acordo com o autor. Para a d.school, o Instituto de Design de Stanford, são cinco:
Entender quais são as necessidades das pessoas envolvidas no problema (consumidores, funcionários etc), do que precisam, do que gostam, o que querem.
A partir daquela pesquisa, delimitar qual é o problema, o que precisa ser resolvido ou criado.
É a fase de brainstorm, em que as ideias e sugestões devem fluir sem censura, sem medo de errar.
Escolher uma ou algumas ideias (aqui é que costumam entrar os post-its, que ajudam o grupo a organizar e selecionar as ideias mais recorrentes ou mais interessantes) e criar protótipos.
Pode ser um desenho, uma maquete feita com caixas velhas e fita crepe, algo que simule o produto final.
Agora é hora de experimentar os protótipos e escolher o que faça mais sentido.
A popularização da ideia do design thinking aplicada aos negócios costuma ser creditada a duas personalidades do Vale do Silício: David Kelley, professsor da Universidade de Stanford que fundou a consultoria de inovação IDEO, e seu colega Tim Brown, atual CEO desta mesma consultoria e autor de Change by Design (em português, Design Thinking – Uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias.)
Lançado em 2009, o livro que explica a metodologia virou bestseller e conquistou prateleiras de empresas no mundo inteiro.
Mas as técnicas, na verdade, são bem mais antigas. “Se a gente olhar para o movimento Bauhaus, lá em 1919, vamos ver que eles já usavam muitos dos elementos do design thinking.”
Antes de IDEO, já havia professores escrevendo artigos sobre o assunto”, afirma o consultor e professor Luis Alt, um dos autores do livro Design Thinking Brasil.
“Mas David Kelley e Tim Brown merecem o crédito por terem se apropriado do termo e o explicado ao mundo de uma forma tão eficiente”, diz.
A partir de 1991, quando a IDEO foi fundada, a abordagem que a consultoria usava para resolver problemas já começou a ficar famosa no Vale do Silício.
Essa reportagem da época mostra o processo que um grupo formado por profissionais de várias áreas (engenheiros, psicólogos, designers) usou para criar um carrinho de compras inovador.
Principalmente para criar novos produtos e serviços. Mas a lista de utilidades é extensa: pensar em soluções para problemas de empresas e seus clientes, desenvolver novas ferramentas e até marcas… enfim, para fazer inovação na prática.
“Como o design thinking é uma abordagem, uma forma de encarar as coisas, o ideal é que os principais valores dele — empatia, colaboração, experimentação — sejam incorporados ao dia-a-dia das empresas, para resolver todo tipo de situação”, afirma Luis Alt, que ensina a técnica na Escola de Inovação em Serviços, em São Paulo.
Empresas de todos os tamanhos, escolas, hospitais, ONGs, governos. Gigantes como Sony, P&G e Apple, que já incorporaram o design thinking ao seu dia a dia.
Steve Jobs, que aliás era amigo de David Kelley, da IDEO, foi um grande advogado da empatia no design de produtos: todos tinham que ser criados pensando antes de tudo no usuário.
Recentemente, a rede de supermercados Tesco, do Reino Unido, usou Design Thinking para ajudar a implementar um serviço de banco personalizado para os clientes dentro das lojas. No Brasil, o Itaú Unibanco usou para criar uma cultura de inovação para sua área de wealth management.
Apesar de ser uma abordagem muito querida por empreendedores e criativos em geral, cada vez mais popular e ainda relativamente nova no Brasil, há quem já tenha se cansado dela lá fora.
O professor e especialista em inovação americano Bruce Nussbaum, que era um grande defensor do Design Thinking, escreveu um artigo para a Fast Company dizendo que o método é um experimento fracassado.
Na visão dele, em boa parte das empresas que o adotaram ele não serviu para muita coisa, por que o Design Thinking não conseguiu mudar a cultura das empresas.
Isso ocorreria porque muitos CEOs não conseguem lidar muito bem com o que Nussbaum considera o principal combustível do método: a criatividade.
“Para parecer interessante à cultura dos processos de negócios, ela foi despida da bagunça, dos conflitos, falhas, emoções, do andar em círculos que é parte e parcela do processo criativo.
Em algumas companhias, CEOs e gerentes aceitaram essa bagunça junto com o processo e a inovação aconteceu. Em muitas outras, não”, escreveu Nussbaum.
Leia os livros Change by Design, de Tim Brown, e Design Thinking Brasil, de Luis Alt e Tennyson Pinheiro, assista o TED Talk de David Kelley, faça um curso online, como o da Universidade de Virginia (que é gratuito), ou um curso presencial, como os da Escola de Inovação em Serviços ou da Escola Design Thinking, em São Paulo.
Gisela Blanco, que assina este texto, é jornalista mestre em Business Innovation pela University of London.
Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT
Na Prática