Hospital Materno Infantil vem enfrentando superlotação crônica nos últimos anos, com falta de leitos. Secretaria de Saúde diz estudar construção de novo hospital nos mesmos moldes.
Incomodado com o atendimento no Hospital Materno Infantil, em Goiânia, o eletrotécnico Flávio Motta, de 37 anos, fotografou bebês tomando soros em cadeiras e lixo hospitalar passando entre crianças internadas nos corredores. Em nota, a Secretaria de Saúde diz estudar construção de novo hospital nos mesmos moldes.
A unidade de saúde vem enfrentando superlotação crônica nos últimos anos, com falta de leitos. Na última quinta-feira (28), o menino Diogo Soares Carlo Carmo, de 5 anos, morreu no corredor após passar 11 horas esperando por vaga.
Flávio esteve na unidade entre a noite da última segunda-feira (25) e a tarde de terça-feira (26). Durante 18 horas, ele afirma que ficou com a filha Carolina Garcia Motta, 6 anos, internada em uma cadeira no corredor. A menina estava com uma crise de bronquite asmática.
Neste intervalo, o eletrotécnico registrou em fotos e vídeos várias cenas, como bebês deitados em cadeiras e o lixo hospitalar passando entre as mais de dez crianças internadas, na ocasião, no corredor.
“Além da minha filha, tinha bebês de poucos meses no corredor, que dá acesso a tudo, aos quartos, cozinha e o banheiro. Quando o banheiro é lavado, a sujeira escorre para este corredor. Ainda tem o lixo que vai para descarte e passa por onde os pacientes se alimentam. Pelo visto, isso é a rotina, porque os médicos atendem ali mesmo”, disse, falando sobre o risco de contágio.
“A gente estava todo mundo próximo. As crianças perto uma da outra. Uma gripe ali espalha. Eu mesmo cheguei a pensar que minha filha estava gripe aviária”, informou o eletrotécnico.
A Secretaria de Estado da Saúde disse que, para desafogar o atendimento no HMI, vem tomando, de imediato, as seguintes medidas: realização de cirurgias cardíaco-pediátricas, ampliação de partos em outros hospitais da rede e a contratando novos leitos neonatais.
Além disso, diz, há projeto de construção de um novo hospital no mesmo perfil e com maior capacidade de atendimento.
Trabalhando no local desde 1996, a pediatra Irene Ribeiro Machado, que chegou a divulgar uma carta de desabafo, diz que este é o pior momento da unidade no que se refere à superlotação.
“Nunca esteve tão ruim quanto agora com a sobrecarga. Quanto aos profissionais e especialidades, temos um quadro muito bom. Nós temos várias especialidades, coisa que não tínhamos antes”, afirmou.
Mesmo com a repercussão dos problemas da unidade de saúde, ela disse que nada mudou. “Nenhuma ação de mudança ocorreu. A questão é de espaço físico e números de profissionais, tanto de médicos, quanto enfermeiros. Neste domingo, por exemplo, são dois médicos na emergência, quando o habitual são três. Há um desfalque na escala porque alguns pediatras saíram e tem médica de licença maternidade”, disse.
A profissional afirma que a substituição de profissional no HMI não é tarefa fácil. “O perfil de um médico do Materno é mais de emergência de alta resolutividade e complexidade, mais complicado um pouco de contratar.”
O próprio HMI divulgou o número de atendimentos nos últimos anos.
- 2014 – 51.197 pacientes, sendo desses 30.710 classificados como verdes e azuis (baixa complexidade);
- 2015 – 54.368 pacientes, sendo desses 32.490 verdes e azuis;
- 2016 – 59.945 pacientes, sendo desses 38.515 verdes e azuis;
- 2017 – 45.923 pacientes, sendo desses 26.749 verdes e azuis;
- 2018 – 32.605 pacientes, sendo desses 16.119 verdes e azuis;
- 2019 (janeiro e fevereiro) – 4.527 pacientes, sendo desses 886 verdes e azuis.
Conforme a unidade, os atendimentos menos urgentes poderiam ser feitos na rede básica de saúde, que é de responsabilidade do município.
Problemas em outros locais
Ainda segundo Flávio, antes de recorrer ao Materno Infantil, ele tentou atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu e no Cais de Campinas, onde, segundo ele, não tinham pediatras.
“Lá foi a minha última alternativa. Mesmo com atendimento precário, graças a Deus minha filha recebeu alta por volta das 16h. Depois da observação, ela recebeu alta e receitaram o medicamento para tomar em casa, porque ela teve que dar lugar a outras crianças que estava pior”, finalizou.
Por e-mail, a Secretaria Municipal de Saúde informou que na segunda feira três pediatras fizeram o atendimento no Cais Campinas no plantão diurno, e um pediatra atendeu à noite. Já na terça-feira, cinco pediatras fizeram o atendimento durante o plantão diurno e três pediatras no plantão noturno.
“Os pacientes passam pela triagem e são atendidos de acordo com a classificação de risco. Cerca de 270 crianças são atendidas diariamente na urgência da unidade. O número de atendimento na urgência do Cais vem aumentando todos os anos”, disse a pasta.
De acordo com a secretaria, em 2016 foram 48.035 atendimentos, em 2017 foram 53.610 e em 2018 foram 75.009 atendimentos em pediatria.
“A Secretaria de Saúde de Goiânia ressalta ainda que […] são oferecidas todos os meses cerca de 11 mil vagas de consulta na pediatria distribuídas em todas as regiões da capital, dessas cerca de 8 mil são solicitadas pelos pacientes e apenas cerca de 6 mil pacientes comparecem, ou seja, sobram vagas no atendimento pediátrico nos ambulatórios”, afirmou.
A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia vem tentando contratar pediatras desde 2017. Para isso já abriu processos de contratação através de credenciamento, processo seletivo, licitação de cooperativa, porém, sem sucesso. Um novo credenciamento específico para pediatras na urgência será aberto, o que contribuirá para suprir a demanda, declarou.
Fonte: Portal G1