Após denúncia de servidora, conselheiros foram até o Cais de Campinas e encontram ainda recepção lotada e ala de pediatria fechada quando deveria estar funcionando. Secretaria de Saúde nega irregularidades.
Relatório elaborado pelo Conselho Tutelar denuncia uma série de irregularidades no Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais) do Setor Campinas, em Goiânia. Entre os problemas, o órgão aponta que os médicos fazem um “rodízio” de trabalho nos finais de semana, provocando furos na escala prevista e, consequentemente, prejudicando o atendimento.
Além disso, o documento menciona que os profissionais têm uma “cota” de atendimentos e vão embora após cumpri-la, mesmo que seu expediente não tenha terminado. Outra questão verificada foi o fechamento da ala de pediatria no período noturno, a qual deveria funcionar ininterruptamente.
As denúncias foram feitas por uma funcionária da unidade, que exigiu anonimato, e constam em um ofício que foi encaminhado ao Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO).
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou à TV Anhanguera que todas as crianças que chegam ao Cais passam por triagem e são atendidas conforme a classificação de risco.
Declarou ainda que quatro pediatras atendem no Cais durante o dia e dois à noite, negou que exista um rodízio e afirmou que está implantando ponto eletrônico nas unidades de saúde.
Por fim, a SMS negou que o local seja fechado à noite e argumentou que apenas faz uma mudança no acesso por outra porta por motivos de segurança.
Sobre as denúncias contra os médicos, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Leonardo Reis, disse que já foi feita a interdição ética da unidade, mas que o poder público, em vez de melhora a gestão, entrou na Justiça para impedir a ação do órgão.
Rodízio e cota de atendimento
O Conselho Tutelar explica no relatório que a denúncia de uma servidora apontava que, de sexta-feira até aos domingos, após às 16h, “os médicos da ala de pediatria não aceitavam o preenchimento de fichas médicas para atendimento” e que no período noturno “não havia atendimento algum”.
Em 2 de março último, um dia após a denúncia, os conselheiros foram até o local. Com a recepção lotada, foram ao consultório e ao ambulatório da ala de pediatria e constataram que não havia nenhum médico na unidade.
No dia seguinte, foi realizada uma nova visita, a qual constatou que não havia a quantidade de médicos previstos na planilha apresentada por uma funcionária.
Alguns funcionários disseram aos conselheiros que os pediatras fazem uma espécie de “rodízio”: “se no dia tiver quatro médicos de plantão, entre eles, escolhem dois para atender e os outros dois ‘folgam’, diferente do que está a folha de escala”.
Além disso, foi observado que os atendimentos médicos são realizados por “cota”. “Cada médico atende uma certa quantidade de pacientes. Atingindo a ‘cota’, vão embora, mesmo não cumprindo sua carga horária”.
“Se são concursados, sabiam a carga horária que tinha de cumprir. Mais uma vez dinheiro público sendo desperdiçado. Existe o crime de omissão de socorro e queremos que os responsáveis sejam punidos e que tenha médicos para atender nossas crianças”, disse o conselheiro tutelar Diego Peres.
Foi marcada uma reunião no próximo dia 9 de abril para que o Conselho Tutelar apresente os relatórios à secretária de Saúde Fátima Mrué e cobre uma solução para o caso.
Enquanto isso, a população sobre com o descaso e pede providências. “[Queríamos que] botasse mais médicos nos Cais. Porque a população está morrendo, as crianças estão morrendo”, desabafa a dona de casa Eliana Martins.
Fonte: Portal G1