O dólar comercial reverteu a tendência de desvalorização da véspera e voltou a operar em alta, acima dos R$ 3,90 nesta quarta-feira. A moeda americana opera com valorização de 2,22%, a R$ 3,953. Este é o patamar mais elevado desde outubro de 2018. O cenário doméstico é o que mais influencia na alta, mas fatores externos também contribuem para que os investidores fiquem receosos e busquem proteção no dólar.

Na Bolsa, o clima de otimismo também foi revertido. O Ibovespa, principal índice do mercado de ações, recua 2,26%, aos 93.149 pontos.

Internamente, além dos desdobramentos a respeito da reforma da Previdência, pesa no mercado a mais recente decisão da Câmara dos Deputados, de tornar o Orçamento mais rígido , uma bandeira que vai de encontro às ideias defendidas pela equipe econômica liderada por Paulo Guedes.

— Os investidores não estão discutindo, neste momento, se o Orçamento impositivo é uma proposta boa ou não. O que está em xeque é a capacidade de articulação e negociação do governo junto à Câmara — destacou Filipe Villegas, analista da Genial Investimentos. — O mercado deu um voto de confiança para Jair Bolsonaro e Paulo Guedes no ano passado, mas temiam que o governo tivesse dificuldade de articulação. Com os recentes fatos, o que o mercado temia começa a acontecer. A aprovação de ontem foi vista como uma derrota para o governo, o que pode atrapalhar o curso da reforma da Previdência.

Os analistas pontuam que o dólar serve como termômetro para o mercado financeiro. Sendo assim, quanto maior a percepção de ansiedade e aversão ao risco por parte dos investidores, a moeda sobe.

— O mercado sempre está na frente da economia, buscando antecipações. A Bolsa já subiu muito e o dólar até então estava relativamente estável. Após a votação de ontem, a interpretação é que o governo sofreu uma derrota, e isso é traduzido como um indício de que a reforma da Previdência pode ser impactada negativamente — destaca Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial.

O texto do Orçamento ainda precisa passar pelo Senado para entrar em vigor, entretanto, a proposta é inversa ao que havia sido proposto pelo ministro da Economia. Recentemente, ele disse que poderia enviar ao Congresso um projeto para acabar com as despesas obrigatórias do Orçamento. Assim, o governo teria liberdade para cortar o que quisesse da previsão de gastos.

Além disso, dados mais fracos nos Estados Unidos em relação à confiança dos consumidores e do mercado imobiliário, reacenderam os temores de uma possível desaceleração da economia global.

O Dollar Index da Bloomberg, que mede o comportamento da divisa americana frente a uma cesta de dez moedas, avança 0,27%.

Neste pregão, as ações que na véspera apresentaram fortes ganhos operam com perdas. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) e preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras apresentam variação negativa de, respectivamente, 2,54% e 2,51%. As ações da Vale, por sua vez, recuam 0,4%.

Os bancos, de maior peso no índice, também estão no terreno negativo. As ações ON do Banco do Brasil caem 3,81%. os papéis PN do Bradesco e do Itaú Unibanco operam com recuo de 2,69% e 2,42%, respectivamente.

O único papel que opera em alta é o da Suzano, do ramo de celulose e papel, com avanço de 1,89%. Por ser uma empresa exportadora, ela se beneficia com a alta do dólar.

Confiança abalada

A lua de mel do brasileiro com a condução econômica pelo novo governo também parece estar abalada. A Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou, nesta quarta-feira, que em março o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) recuou 5,1 pontos em relação a fevereiro, de 96,1 para 91, o menor valor desde outubro de 2018, quando as expectativas estavam contaminadas pelo cenário eleitoral presidencial ainda indefinido. Em março, tanto as avaliações sobre o presente quanto às expectativas em relação aos próximos meses pioraram.

— O resultado de março sugere haver desapontamento dos consumidores com o ritmo de recuperação da economia, após projetarem melhoras para a economia e para as finanças familiares nos meses anteriores — avalia Viviane Seda Bittencourt, Coordenadora da Sondagem do Consumidor. — Além da velocidade da recuperação estar aquém do esperado, a demora no avanço das reformas tem contribuído para o aumento da incerteza econômica.

Fonte: Agência O Globo