O senador Irajá (PSD-TO), 1º Secretário do Senado, pediu ao presidente Jair Bolsonaro a devolução do projeto que prevê multa para o empregador que pagar salário diferente a homens e mulheres que exercem a mesma função.

No ofício, encaminhado à Secretaria-Geral da Presidência na sexta (23), Irajá diz que atendia a um pedido do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

G1 entrou em contato com a assessoria de Lira para confirmar que partiu dele o pedido de devolução e aguardava resposta até a última atualização desta reportagem.

O texto foi aprovado em 2011, pela Câmara, e no último dia 30 de março, pelo Senado. Em seguida, foi encaminhado para sanção ou veto de Bolsonaro. O prazo para a decisão do presidente da República vence nesta segunda-feira (26).

Entretanto, no ofício encaminhado à Secretaria-Geral da Presidência, Irajá defende a devolução do texto ao Congresso sob o argumento de que ele sofreu mudanças durante a tramitação no Senado e, por isso, deveria ter retornado à Câmara ao invés de encaminhado à sanção.

“Com referência aos autógrafos, submetidos à sanção dessa Presidência, do Projeto de Lei da Câmara número 130, de 2011, (…), participo que, tendo em vista solicitação do Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e, após análise da matéria, foi constado que, de fato, dentre as alterações promovidas pelo Senado Federal, algumas importam mudança de mérito”, escreveu o 1º Secretário no ofício.

“Dessa forma, solicito restituição dos autógrafos da matéria, enviados a essa Presidência”, conclui o senador Irajá.

Se a devolução se confirmar e o texto voltar a tramitar na Câmara, a entrada em vigor da proposta será adiada.

O que prevê o projeto?

A proposta acrescenta um dispositivo à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para aplicar multa aos empregadores que considerarem o sexo, a idade, a cor ou situação familiar como variável determinante para fins de remuneração.

Um dos objetivos é combater a diferença de salários entre homens e mulheres que exercem a mesma função.

A multa estabelecida no texto pela Câmara em favor da mulher empregada corresponde a cinco vezes a diferença verificada em todo o período da contratação. No Senado, no entanto, o dispositivo foi alterado para fixar multa de “até cinco vezes”, possibilitando dessa forma a redução da multa imposta aos empregadores.

O texto chegou ao Senado em 2011, mas só foi aprovado no final de março de 2021. Além da mudança em relação à multa, o relator, senador Paulo Paim (PT-RS), mudou a redação do projeto para explicitar que o prazo para contestar na Justiça a discriminação é de até dois anos após a extinção do contrato de trabalho e o prazo prescricional quanto aos créditos resultantes de relações de trabalho é de cinco anos.

O relator também modificou outro ponto do projeto para remeter a competência da aplicação da multa para o Poder Judiciário, o que não estava explícito na proposta aprovada pela Câmara.

Bolsonaro

Na última quinta-feira (22), durante a live, Bolsonaro comentou o projeto. Ele afirmou que, se vetasse a proposta, seria alvo de uma campanha contrária das mulheres e lançou uma espécie de “enquete”, pedindo que seus apoiadores publiquem suas opiniões a respeito da proposta.

“Qual a consequência disso vetado ou sancionado? Vetado eu vou ser massacrado. Sancionado, você acha que a mulher vai ter mais facilidade de arranjar emprego no mercado de trabalho? Não responda. Vamos esperar a resposta na segunda-feira. Se eu sancionar, vamos ver como vai ser a mulher no mercado de trabalho no futuro”, disse.

G1