Silvia (nome fictício), funcionária pública, de 48 anos, viveu um casamento com agressões verbais, físicas, financeiras e até ameaças de morte de membros da família. “Era uma situação muito difícil”, recorda. Após duas décadas e meia de sofrimento, ela procurou ajuda da polícia e foi encaminhada para o Centro de Referência da Igualdade (Crei), do Governo de Goiás, para participar dos Grupos Reflexivos para Vítimas de Violência Doméstica. 

A história dela é parecida com os relatos de 333 mulheres que foram atendidas pelo Crei do ano passado até agora. A unidade vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds) funciona em uma sala acolhedora, nas dependências da própria Seds, na Praça Cívica.

No espaço as vítimas são acolhidas pela equipe de três psicólogas, uma advogada e assistentes, para receber acompanhamento psicológico, assistencial e jurídico. 

A funcionária pública ainda aguarda a conclusão do processo de separação na Justiça, mas está morando em outra residência e possui medidas protetivas. “A gente acaba achando que aquela vida é normal”, diz ela. “Essa rede de apoio me fortaleceu muito. Esse grupo é muito importante para que mais mulheres que estão sofrendo possam procurar ajuda.”

Psicóloga da Seds, Heloisa de Castro Eleutério explica que as vítimas chegam até o Crei por encaminhamentos da Delegacia da Mulher ou do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) ou espontaneamente. “Aqui no Crei, nós fortalecemos a vítima, damos suporte emocional para ela entender a violência que está sofrendo e tomar as decisões corretas”, explica Heloisa.

No momento, em razão da pandemia de Covid-19, os atendimentos estão sendo feitos virtualmente. Além dos atendimentos individuais, o Crei desenvolve também grupos reflexivos, tanto com vítimas como com autores de violência, que são encaminhados para os grupos por medida judicial, como prevê a Lei Maria da Penha. 

Heloisa relata uma das várias histórias marcantes e de superação que passaram pelo Crei, como a de uma mulher de 55 anos que sofria violência doméstica desde sua juventude. Depois de um longo ciclo de violência que deixou marcas físicas e psicológicas, ela procurou o Crei após ver um anúncio no transporte público da capital.

“Ela sofreu violência a vida inteira e nem se dava conta que era violência. Quando não deu conta mais, nos procurou”, relata a psicóloga. “Ela conseguiu se separar, se renovar e olhar para frente.”

Primeiro atendimento

A forma em que as vítimas chegam ao Crei são muito parecidas. “No primeiro atendimento, a vítima chora muito. Só olham para os pés, não conseguem erguer a cabeça, nem visualizar o futuro.”

A cozinheira Joelma (nome fictício), de 60 anos, sofreu espancamento durante o casamento de mais de 30 anos. Pela idade, ela sentia medo em buscar ajuda. “Eu achava vergonhoso”, contou.

Ela lembra que chegava a ir ao local de atendimento do Crei e não tinha coragem de entrar, até que certo dia rompeu o bloqueio psicológico e entrou. Hoje, ela mora em outra cidade e é acompanhada pela equipe do Centro de Referência. “Tem que ter coragem. Eu tive coragem e dei o primeiro passo, não importa a idade. Eu estava no fundo do poço e nasci de novo”, conta.

O atendimento no Crei é a ampliação de um novo horizonte fora do ciclo de violência, como explica a gerente de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, da Seds, Juliana Caiado. “Os principais pilares desse atendimento são o acolhimento e a promoção de autonomia. A mulher que passou por uma situação de violência precisa ser ouvida verdadeiramente, acolhida em seu sofrimento, mas também precisa dispor de possibilidades de sair do ciclo de violência e não mais permanecer em relações abusivas.”

A secretária de Desenvolvimento Social, Lúcia Vânia, destaca que o trabalho do Crei e de toda a Rede de Atendimento e Proteção à Mulher, do Governo de Goiás, coordenados pela Seds, são fundamentais para romper o ciclo de violência doméstica. 

Lúcia Vânia destaca que a Lei Maria da Penha completou 14 anos e, além de criar mecanismos para combater a violência doméstica, avançou na criação de estruturas para oferecer uma rede de apoio às vítimas. “No Crei, abrimos caminhos para essas vítimas saírem desse ciclo abusivo, prestamos todo o apoio, orientamos e protegemos. Elas chegam até nós em um momento muito difícil e saem com a esperança de um recomeço”, explica a secretária.

O atendimento do Crei está sendo realizado de forma virtual. Os números funcionais são o (62) 99830-6019 e (62) 3201-748, e estão à disposição da sociedade goiana.

Comunicação Sead – Governo de Goiás