Fiz a compra de uma VPN, porém não estou conseguindo usá-la para ver filmes na plataforma de streaming e nem acessar alguns sites. Aparece um erro dizendo que não conecta no servidor.
Queria saber o porquê disso e como resolver. – Franklin
Na verdade, Franklin, esse tipo de problema não é incomum com o uso das “VPNs” voltadas para navegação diária.
Existem casos em que o uso desses serviços pode ser benéfico, mas muitas vezes eles são desnecessários e causam mais problemas do que resolvem.
As soluções de VPN têm conseguido bastante atenção ultimamente, em grande parte graças às campanhas de marketing voltadas para influencers digitais utilizadas por vários serviços do mercado.
“VPN” é uma sigla em inglês para “rede privada virtual” ou “rede virtual privada”. A tecnologia foi criada para permitir que empresas e organizações criem “túneis” dentro da internet para conectar computadores em qualquer lugar do mundo à sua rede interna.
Por motivos de segurança, redes internas de empresas normalmente bloqueiam conexões vindas da internet.
Se um colaborador precisar de acesso à rede da empresa pela internet – seja porque ele está viajando ou porque ficou em casa por alguma razão (como aconteceu muito na pandemia da Covid-19) –, todo o acesso seria bloqueado.
Em vez de obrigar que a rede interna da empresa aceite conexões da internet (o que gera muitas complicações), a VPN resolve o problema criando um “túnel” dentro da internet.
É como se houvesse um cabo físico ligando o computador remoto até a sede da empresa, mas tudo é feito via software. Como os computadores “pensam” que estão conectados à mesma rede física, a conexão entre eles é autorizada.
Ou seja, uma VPN “tradicional” serve para acessar um site ou serviço interno de uma empresa que estaria totalmente indisponível na internet, para qualquer pessoa, exceto para quem está dentro da própria VPN.
Os serviços de “VPN” voltados para a navegação diária não têm essa finalidade. Eles só são capazes de acessar os mesmos sites que estão na internet para todas as pessoas.
Analisando por esse lado, eles se assemelham mais a um serviço de proxy (intermediário de conexão). O único paralelo com uma VPN é que eles usam o mesmo princípio de “túnel” seguro para fazer essa intermediação.
Como a sua conexão passa a ser intermediada, a VPN recebe os dados que normalmente ficariam com o seu provedor de internet. O seu provedor “enxerga” apenas que você está utilizando o serviço de VPN, mas não saberá nada a respeito do tráfego de rede que está sendo transmitido.
Confira algumas consequências dessa intermediação:
- Acesso mais lento: O uso da VPN adiciona um intermediário a mais na conexão. Isso normalmente vai causar mais erros de acesso, lentidão, travamentos no streaming e outros problemas do tipo. Transmitir vídeos na internet é caro, então os provedores buscam parcerias para otimizar o acesso e reduzir custos – em alguns casos, há servidores em cidades maiores e capitais para atender a demanda local. Usando uma VPN, sua conexão tende a ir por um caminho mais longo e lento.
- Endereço de IP trocado: Como o seu acesso à internet estará intermediado pela VPN, qualquer site ou serviço verá apenas o endereço de IP da VPN, e não o seu. Isso pode beneficiar sua privacidade e desbloquear conteúdos indisponíveis no Brasil, já que você poderá usar IPs de outros países. Porém, o acesso internacional pode ser mais lento e os sites que você acessa também podem bloquear a VPN para resguardar a trava regional do conteúdo. Ou seja, você pode ter mais erros na conexão.
- Troca de provedor: quando você usa uma VPN para acessar todos os sites na internet, o seu provedor de internet passa a ser, na prática, a VPN. O acesso de internet do seu provedor servirá apenas para conectar você à VPN contratada, mas a VPN ficará com os dados que normalmente estariam disponíveis para o provedor. Embora a VPN precise ser de alta confiança, muitos serviços de VPN são sediados em países em legislação rigorosa e que dificilmente garantiriam alguma reparação a você em caso de danos.
- Segurança: Muitas VPNs destacam que a criptografia da conexão à VPN deixa seu acesso mais seguro. Na verdade, a segurança dependerá em grande parte da própria VPN. Em julho de 2020, foram encontrados 1,2 TB de dados de acesso de VPNs. Mesmo sem o uso de uma VPN, a maioria dos sites, hoje, utiliza HTTPS, que já é um acesso criptografado. Nem o provedor de internet consegue enxergar detalhes do tráfego HTTPS. Além disso, o endereço de IP trocado vai confundir sistemas de segurança – muitos serviços hoje detectam acessos de IPs “desconhecidos”, o que não vai funcionar se você realizar acessos de VPN. Se alguém invadir sua conta e usar a mesma VPN que você, o hacker terá um IP parecido e o mecanismo de segurança não desconfiará de uma invasão.
Quando usar uma VPN?
O uso de uma VPN faz parte de praticamente qualquer rede corporativa de médio ou grande porte. Se for necessário instalar o programa de VPN da empresa para qual trabalha, você pode fazer isso sem medo.
Vale ressaltar: as VPNs corporativas nem sempre modificam o acesso a sites na internet – ou seja, elas não fazem o papel de “intermediário” para sites que não sejam os da própria empresa.
Você não entregará seus dados de navegação à empresa apenas por usar uma VPN. Como já explicado, a finalidade das VPNs corporativas é diferente e mais restrita.
Os serviços de VPN para navegação modificam por completo o funcionamento da sua conexão quando estão ativos. Veja alguns casos em que eles podem ser úteis:
- Acessar conteúdos leves ou lojas on-line que, por motivos de segurança, sejam bloqueados no Brasil. Um exemplo: há alguns livros digitais que só estão à venda em determinados países e, mesmo que você já tenha morado naquele país e comprado o livro, você pode ter dificuldade para usar sua conta a partir do Brasil.
- Ao viajar para o exterior, você pode usar uma VPN para acessar sites brasileiros por meio de um servidor no Brasil, caso o site brasileiro esteja bloqueando seu acesso no exterior.
- Se você frequentemente usa redes Wi-Públicas e navega em sites menos populares, que não utilizam criptografia HTTPS, pode ser interessante usar um serviço de VPN para ter mais privacidade. Em uma rede sem fio pública, todos os seus acessos a sites sem criptografia podem ser vistos por outras pessoas conectadas à rede (desde que elas tenham um software para visualizar essa informação). Aplicativos como Facebook, YouTube, WhatsApp e Instagram todos utilizam criptografia e não serão beneficiados com o uso de uma VPN para segurança.
- Se você vai viajar para algum lugar onde não confia no serviço de internet (como é o caso do Wi-Fi de alguns hotéis ou países com histórico de censura, como a China), uma VPN pode ser útil. Alguns países, porém, também bloqueiam os próprios serviços de VPN. Se você viaja com frequência para esse tipo de local e tem condições de contratar um especialista, é possível criar um serviço personalizado, o que vai garantir sua privacidade e provavelmente não será bloqueado como os serviços disponíveis comercialmente.
G1