Após trabalhos de campo sistemáticos em busca de vestígios de dinossauros e outras formas de vida que habitavam o sul do estado de Goiás há aproximadamente 93 milhões a 66 milhões de anos, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás, em parceria com o Museu Antropológico da UFG, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade de Edimburgo publicou um artigo científico sobre a biota do Período Cretáceo (época dos dinossauros) do estado de Goiás. O artigo, intutulado Late Cretaceous Bauru Group biota from Southern Goiás state, Brazil: history and fossil content foi publicado na revista Earth Sciences Research Journal (Impact Factor: 0.541 – Qualis nova B1), da Universidade Nacional da Colômbia.
O artigo reúne, pela primeira vez, todo o conhecimento sobre os animais e vestígios de plantas da Era dos Dinossauros do estado de Goiás, e assim dá visibilidade em nível mundial ao que a equipe faz e ao que outros cientistas já fizeram de conhecimento paleontológico para Goiás para o Cretáceo. Os materiais paleontológicos encontrados são do grupo dos saurópodes – os herbívoros titanossauros, aqueles gigantes pescoçudos e com longas caudas e cabeça pequena, quadrúpedes, considerados um dos maiores animais da Terra, e também dos terópodes (parecidos com os tiranossauros), bípedes e considerados um dos maiores carnívoros do planeta. No artigo é apresentada uma síntese atualizada dos registros de plantas, gastrópodes (semelhantes a caramujos), tartarugas, crocodilos, titanossauros e dinossauros terópodes e marcas de raízes de plantas deste importante período, até pouco tempo desconhecidos em Goiás.
Há bem pouco tempo não existia a comprovação da existência de dinossauros no estado de Goiás. “No final da década de 1970 tínhamos especulações sem comprovações”, revela o coordenador da pesquisa, o professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Carlos Roberto dos Anjos Candeiro. Os trabalhos em campo foram incrementados entre os anos de 2013 e 2018 e resultaram em um grande aumento nas descobertas de fósseis, o que permitiu um maior conhecimento da fauna e da flora e em uma adição significativa de novos registros de vertebrados do Cretáceo Superior do Grupo Bauru. “Nossas novas descobertas aumentam os dados comparativos necessários para entender a composição faunística do Brasil Central e a distribuição dos vertebrados nesta área durante o Cretáceo”, diz Candeiro.
O artigo se preocupou em apresentar a história da paleontologia do Grupo Bauru (Cretáceo Superior) em um resumo estratigráfico e com registros fósseis da biota local. Grupo Bauru é um nome que se dá para um conjunto de rochas onde se encontram dinossauros e outros materiais paleontológicos localizadas no sul de Goiás, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro e oeste de São Paulo. Sempre fazendo inferências, o professor destaca que a fauna fóssil do sul do estado de Goiás é semelhante à de depósitos com idades semelhantes na região do Triângulo Mineiro, oeste do estado de São Paulo e até mesmo na Argentina.
Para o pesquisador, o sul do estado de Goiás é uma área promissora para futuras descobertas de fósseis do Cretáceo, que podem ser cruciais para a avaliação da biodiversidade e dos padrões biogeográficos de tetrápodes como dinossauros e crocodilomorfos durante a parte final do Cretáceo, antes da extinção em massa do final do Cretáceo.
A pesquisa
A pesquisa é resultado contínuo de um apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) em parceria com o Fundo Newton/British Council – (Confap/Academias Britânicas) que por meio de chamada pública de 2016, viabilizou a vinda do pesquisador do Reino Unido ao Brasil para desenvolver estudos com parceiros brasileiros. No caso, foi contemplado o projeto da área da Paleontologia – Dinosaurs and other fossil vertebrates from the Bauru Group of southern Goiás State, Central Brazil – e trouxe a Goiás o pesquisador Stephen Louis Brusatte, da School of GeoSciences, da University of Edinburgh, para empreender estudos em conjunto com o professor Carlos Roberto dos Anjos Candeiro, sobre fósseis de dinossauros localizados na região Sul do Estado. O projeto foi aprovado em 2016, mas ainda é desenvolvido a partir dos materiais de dinossauros e outros animais, que são guardados e estudados no Laboratório de Paleontologia e Evolução/Curso de Geologia, Faculdade de Ciências e Tecnologia do Campus Aparecida de Goiânia da UFG.