Com 87 anos de existência, Goiânia acumula características únicas, que a singularizam diante das outras Capitais brasileiras. Entre vias arborizadas, parques com aves exóticas e macacos-prego, que fazem parte da rotina do goianiense, a metrópole goiana conserva seus traços interioranos ao mesmo tempo que cresce e se moderniza.
Ao Jornal Opção, o prefeito Iris Rezende destacou o desenvolvimento, que se confunde, por muitas vezes, com o desenvolvimento de sua própria história política.
“Da estrutura de Goiânia, existia o palácio na Praça da Estação. Da 74 até ali, no Bairro Popular (hoje Setor Central), estrutura de água e esgoto. Goiânia tinha muito pouco. De imediato, quando prefeito, promovemos uma verdadeira revolução na administração pública municipal”, relembrou.
“Em pouco tempo, chego ao governo. Nós tocamos em tudo. A energia que abastecia Goiânia era pequena. Triplicamos o potencial da Cachoeira Dourada para dar energia suficiente para a capital e Goiás. Chegamos a comprar uma fazenda de Altamir Pacheco para preservar a nascente para usar a água daquele ribeirão, pois apenas o Centro tinha água tratada”, contou o gestor, prefeito de Goiânia por três mandatos e governador por dois.
“Minha preocupação, seja como prefeito ou governador, foi fazer de Goiânia uma cidade diferenciada. De forma que ela é a única cidade no Brasil com mais de um milhão de habitantes que não convivem com favela”, apontou.
“Por que? Pois entendi muito cedo que a favela degrada a família e a sociedade. Comprei áreas e construí a Vila Redenção, Vila União, Vila Alvorada, Vila Mutirão… Essa é a grande vitória dessa cidade. Goiânia me fez politicamente. Vim da roça com 15 anos. Deixei lá o cabo da enxada e vim. Oito anos depois eu era vereador. Não descuidei dessa cidade que acreditou em mim. Não fosse Goiânia, Goiás não teria me conhecido. Tenho um afeto muito profundo”, ressaltou Iris.
Áreas verdes
Para a arquiteta e urbanista Maria Ester, conselheira no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado de Goiás (CAU-GO), a maior qualidade da Capital hoje é justamente a sensação de se estar no interior.
“Araras azuis circulam entre os parques da Região Central da Capital. Elas voam entre o Lago das Rosas, o Bosque dos Buritis… Isso é algo que se fosse em uma cidade turística da Europa, seria um espetáculo. Aqui convivemos com isso e apenas quem tem sensibilidade e valoriza esse tipo de movimento que percebe o quanto isso é especial”, destacou.
“O fato da cidade ter parques mantém isso. Começamos a cidade com a ideia de parques, o que é uma ideia muito boa. Deveria ser o ponto de partida de qualquer prefeito para seguir com esse projeto na cidade”, chamou atenção a arquiteta. Ela ainda ressalta a grande quantidade de árvores frutíferas pela cidade, especialmente em bairros centrais. “Eu valorizo isso. Você tem essa sensação de arborização da cidade.”
Segundo Maria Ester, nas últimas décadas houve uma desaceleração do crescimento populacional de Goiânia em comparação com as décadas do meio do século passado. “Agora, mesmo que haja um crescimento na faixa de 1,7%, quase em 2%, precisamos lembrar que somos centro de uma Região Metropolitana”, afirmou.
De acordo com ela, a infraestrutura de capital acaba por atrair as populações da Grande Goiânia para resolverem questões por aqui. “Muitas vezes o que vemos aqui é o movimento de outras cidades circulando. Isso dá uma sensação de que há muita gente. O que temos são muitos serviços sendo prestados, muito comércio sendo movimentado por pessoas de outros municípios emendados em Goiânia”, disse.
No entanto, ela aponta que a infraestrutura da cidade ainda fica limitada a determinadas regiões, com a Centro-Sul da Capital, enquanto a Região Norte carece de maior atenção por parte dos gestores do executivo e legislativo.
Maria Ester reforça que é necessário “diminuir as desigualdades socioespaciais”. “Por que só ter cinema, áreas culturais e de esporte na Região Centro-Sul? Uma das coisas que poderíamos solicitar melhorias é essa distribuição melhor dos equipamentos de cultura, educação, saúde pela cidade, além dessa infraestrutura básica, de saneamento, agua, esgoto, asfaltamento, energia elétrica”, opinou.
Arquitetura
Outro ponto que a arquiteta Maria Ester lembrou que precisa ser melhor valorizado, inclusive pela própria população, são os prédios históricos. “Temos alguns edifícios com expressão interessante do Art Déco, um movimento artístico mundial. Agora, temos também uma arquitetura tanto quanto ou mais interessante que é a arquitetura Modernista no centro da cidade”, lembrou.
“O fato de termos o Teatro Goiânia, Palácio das Esmeraldas, Grande Hotel, Lago das Rosas com os traços e linhas da Art Déco, reduz qualquer política de proteção disso. Precisamos ampliar a leitura, abrir nossa visão para o que foi a arquitetura dos anos 1930, a Modernista”, ressaltou.
“Casas maravilhosas na Avenida Tocantins, nas Ruas 23 e 24, no Centro de Goiânia, construídas para os aristocratas da Cidade de Goiás, os funcionários do governo. Eram casas, tem um modelo que chamamos de casas típicas, eram iguais, mudavam uma outra coisa, mas havia uma planta para construir ela aqui, e ela tinha características da época: arcos, alpendres, o telhado na frente etc”, comenta a arquiteta.
“Alguns dos arquitetos mais importantes do mundo têm obras aqui, que é o caso do Paulo Mendes da Rocha, com o Jóquei Clube e a Rodoviária. Esses edifícios estão sendo destruídos e se chamar atenção do mundo para eles, pessoas virão com grupos de estudos observar esses edifícios que citei”, falou ao Jornal Opção.
Infraestrutura
Para o arquiteto e ex-superintendente de Assuntos Metropolitanos da antiga Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Cidades, Infraestrutura e Assuntos Metropolitanos (Secima), Marcelo Sáfadi, Goiânia avançou muito nas áreas de saneamento e do comércio, principalmente com os polos de confecção. Mas avançou pouco na questão do transporte.
Para ele, falta de continuidade de políticas públicas no município, que atrapalha o desenvolvimento da educação e a cultura, por exemplo. O urbanista defende que muitos investimentos grandes acabaram partindo do Estado. “A grande obra dos últimos anos foi a barragem do João Leite, um investimento importante em uma área que muitos não gostam de investir que é o saneamento”, detalha.
Sobre os principais desafios para a Capital, Sáfadi aponta que Goiânia precisa mudar a lógica do transporte e dialogar com os demais municípios da Região Metropolitana, ao invés de deslocar a responsabilidade para o Estado. “É um problema do conjunto de municípios que não será resolvido de maneira individual”, argumenta.
“O desvirtuamento dos planos diretores também fizeram com que a cidade se expandisse muito e acabasse ficando grande e espalhada, com uma baixa densidade de povoamento. Se a capital tem 10% dos lotes vazios, esse número chega a 70% em Goianira e 30% em Aparecida. Acaba que fica difícil levar infraestrutura a locais mais afastados que estão pouquíssimos habitados.”
De acordo com Marcelo, faltou esse entendimento de guardar mais as áreas verdes. Assim como a questão do lençol freático que foi rebaixado e isso traz inúmeros prejuízos como o reflexo direto nos poços artesianos. “Outra coisa que vejo é a falta de entendimento de Goiânia como uma cidade turística da área de negócios. Novamente, falta a continuidade nas políticas públicas para esse setor”, diz. “O grande desafio é entender que Goiânia não é sozinha, ela é o centro de uma região que é maior e está ligada”, encerra.
Jornal Opção