Houve protestos nas ruas da Colômbia na quarta-feira (19), antes de uma tentativa de retomada do diálogo com o governo para negociar uma eventual saída para uma crise que explodiu em 28 de abril.

O presidente Iván Duque reconheceu que houve abusos da polícia durante a repressão aos atos de rua. Em 21 dias de protestos morreram pelo menos 42 pessoas, a grande maioria civis. Também foram registrados mais de 1.700 feridos, entre manifestantes e forças policiais ou militares.

Até o momento, a Procuradoria determinou que 15 das vítimas morreram por terem participado das mobilizações. Outros 11 casos são investigados.

Três dos crimes envolvem membros da força pública, segundo o organismo. Um órgão de direitos humanos chefiada pela ONG Temblores considera que houve 43 homicídios cometidos por agentes de segurança do Estado.

O ministro da Defesa, Diego Molano, terá que responder ao Congresso por essas mortes e “as omissões em que tenha podido incorrer” no cargo, declarou o líder sindical Francisco Maltés, ao apoiar a moção de censura contra o ministro.

A ONU, a União Europeia, os Estados Unidos e ONGs internacionais denunciaram os excessos das autoridades colombianas.

No entanto, Duque é resistente em admitir que há repressão generalizada e condena o vandalismo e o bloqueio de vias que causam destroços e perdas milionárias.

Nobel da Paz recomenda humildade

Nesta quarta-feira, o ex-presidente colombiano e prêmio Nobel da Paz, Juan Manuel Santos, sugeriu ao governo que assuma com “humildade” os abusos policias ocorridos durante os protestos.

“Precisamos de mais gestos, precisamos que das diferentes partes saia mais empatia e mais humildade, que o Estado reconheça, ‘veja, cometemos abusos'”, disse o ex-presidente à W Radio.

Segundo Santos, “este gesto único já geraria uma reação muito favorável da contraparte neste conflito muito específico”.

Protestos contra a Copa América

A estratégia de Duque “é dilatar a negociação ao não aceitar garantias básicas solicitadas” pelo Comitê Nacional da Paralisação, destacou a líder universitária Jennifer Pedraza.

A crise atingiu a Copa América, prevista para ser celebrada conjuntamente na Colômbia e na Argentina em menos de um mês. Na entrada do estádio El Campín, em Bogotá, torcedores exibiram uma faixa denunciando “a Copa de sangue”.

Pedimos “que não se faça” o torneio “enquanto estão massacrando nossos jovens”, disse à AFP Juan Sebastián Urrea, de 24 anos, membro da organização Fiebre Amarill,a que se reivindica como “torcida oficial da Seleção Colômbia”.

Economia da Colômbia

A pandemia afetou a economia do país. Em um ano, o percentual de população pobre passou de 35,7% a 42,5%, e quase um terço dos colombianos (27,7%) entre os 14 e os 28 anos não estuda, nem trabalha, segundo o órgão estatal de estatística.

Os jovens pedem um Estado mais solidário e uma reforma da polícia que comece por tirá-la da órbita do ministério da Defesa, após décadas de combate à guerrilha e ao narcotráfico.

Encontro entre governo e manifestantes

Os protestos antecederam o encontro que deverá ser celebrado entre o governo e a frente mais visível do protesto que, no entanto, não reúne todos os setores que protestam nas ruas.

As partes aceitaram negociar uma saída para a crise. Os protestos começaram quando houve um projeto de lei de reforma tributária —o texto, que previa aumento de impostos, já foi retirado, mas ainda assim aumentou a repressão nas ruas.

Depois de duas rodadas de diálogos, o governo e o Comitê da Paralisação continuam divididos sobre os excessos da força pública, denunciados por organizações locais e internacionais.

Duque quer que as vias que foram bloqueadas sejam liberadas, pois há desabastecimento em alguns pontos, sobretudo no sudoeste do país. Diariamente as vias ficam cheias de manifestantes quando o país atravessa um novo pico da pandemia.

Ele ofereceu universidade gratuita no próximo semestre e créditos para moradia.

G1