Edward Madureira fez críticas ao Future-se, mas indicou que há conversas com o Planalto que possam possibilitar a reversão do bloqueio no orçamento.

O reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Edward Madureira, esteve na Câmara Municipal de Goiânia, nesta quinta-feira, 19, e falou sobre a situação que a instituição vem passando nos últimos meses. Segundo ele, o setor tem esperanças de que haja um desbloqueio dos recursos.

“Na sexta-feira, 20, deve sair um balanço de arrecadação, e com a tendência de alta da situação fiscal do Governo, a partir do dia 23 ele estuda a liberação do bloqueio. Na quarta-feira, 18, foi anunciado um desbloqueio de mais ou menos R$ 8,2 bilhões, com uma parte destinada à Educação. Então estamos aguardando que na semana que vem tenhamos novidades nesse sentido”, explicou.

Foto: Lívia Barbosa/Jornal Opção

Situação

Segundo o reitor, a situação da universidade, atualmente, é de estrangulamento. “Isso é decorrente daquela medida, que, para mim, é a medida mais equivocada da história recente do Brasil, que é a emenda constitucional 95”. Para o reitor, limitar os gastos públicos à correção do IPCA estrangula qualquer possibilidade de desenvolvimento do Brasil: “Não existe desenvolvimento sem investimento público, mesmo que isso custe algum endividamento. E estrangular em educação, ciência e tecnologia é um equívoco ainda maior”. E lamenta: “Se a emenda não for revista, o Brasil vai parar”.

Segundo o reitor, o corte de 30% até agora não foi revertido, conforme alegou o governo federal. “Isso, inclusive, ameaça o funcionamento da universidade nos próximos meses, a situação precisa ser revertida imediatamente, estamos atuando para que isso ocorra, e esperamos que nos próximos dias tenhamos notícias sobre isso e trazer tranquilidade para toda a comunidade estudantil e pesquisadores”, disse.

O presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg), Flávio Alves da Silva, também falou das preocupações da instituição: “Queremos colocar para os vereadores a situação da UFG, e de certa forma para a sociedade, já que é quem eles representam. A UFG, assim como todas as outras universidades do Brasil, está sob ataque do governo federal, e a universidade está em risco de fechar as portas”. Segundo ele, vários serviços já deixaram de ser feitos: “Laboratórios estão deixando de ter aulas práticas, essa é a situação, e estamos aqui hoje para colocar isso para o governo”.

Future-se

Flávio pontuou que o “Future-se” não foi amplamente discutido: “Não ouviram a comunidade, os reitores, e agora descobrimos que nem com a equipe econômica do governo. Foi feita a consulta pública, e agora vão enviar o projeto de Lei para o Congresso, e a gente não sabe o que vai vir nesse PL”.

Para o sindicato, o programa federal se trata de uma estratégia militar, e considera que não funciona para a maioria das universidades: “Têm regiões no país que não têm indústrias, como a universidade vai captar recursos dessa forma? Com o dono do boteco? Da padaria? Não tem condição”.

Para o reitor da UFG, o “Future-se ainda é uma minuta de projeto de Lei que traz no seu bojo muitos equívocos”. De acordo com Edward, não se pode levar a lógica do mercado para financiar a universidade. “Precisamos formar professores, músicos, filósofos, cientistas sociais, e que as áreas do conhecimento sejam tratadas de maneira simétrica, isonômica. O mundo só avança se houver um equilíbrio entre essas áreas.”.

Outro equívoco apontado por ele é a possibilidade de a universidade ser gerida por uma OS: “Isso afronta a própria constituição federal. O governo confundiu e adotou sugestões de medidas equivocadas. As universidades rejeitam essa minuta por essas razões”, concluiu.

Ciência

O professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFG), explica que o Conselho Universitário da UFG não é favorável à adesão ao Future-se. “É uma proposta com muitos problemas e que foi apresentada sem uma discussão ampla e sem esclarecimentos. Essa é a visão da maioria das universidades federais”, pontua.

“O que eles mostram como novidade já é feito pelas instituições, e o que tem lá de realmente novo não é bom. São diversos problemas, a proposta do Future-se é inconsistente e não possui uma base jurídica. Então se ao governo federal insistir por esse caminho muita coisa precisa ser modificada e aprimorada. Mas, não há diálogo, e isso é o problema principal”, defende o professor.

Para Alexandre, o problema não é apenas o corte, mas principalmente a desmoralização e perseguição à ciência. “O próprio Ministério da Educação faz uma grande campanha contra a universidade pública. Isso gera uma falta de perspectiva muito grande. Você ser cientista no Brasil hoje é muito complicado, temos que lidar com um negacionismo climático, discussão sobre eficácia de vacinas, isso tudo é tão complicado quanto o corte de verbas”, finaliza.

Fonte: Jornal Opção