Moraes Moreira, fundador dos Novos Baianos, morreu às 6h da manhã desta segunda (13), no Rio de Janeiro, aos 72 anos. A morte foi confirmada pelo cantor e compositor Paulinho Boca de Cantor, que está repassando a informação a antigos companheiros de Moraes, como Pepeu Gomes e Baby do Brasil.

Segundo a família do músico, a causa da morte foi um infarto no miocárdio. Por causa da pandemia do novo coronavírus, que levou uma série de estados e municípios no país a decretar medidas de distanciamento social, local e horário do enterro não serão divulgados. Parentes de Moraes pedem, assim, que quem quiser homenageá-lo ouça a obra dele.

O cantor, compositor e violonista iniciou a carreira ainda na adolescência, tocando sanfona em festas de São João em Ituaçu (BA), sua cidade natal.

Em 1969, ele, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, companheiros de pensão em Salvador, e de Baby Consuelo e Pepeu Gomes, estreiam os Novos Baianos no Quinto Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record.

O primeiro disco do grupo, “Ferro na Boneca”, saiu em 1970. É em 1972, no entanto, que o grupo estoura, com “Acabou Chorare”. O álbum, que abriga no repertório a música de mesmo nome e faixas marcantes como “Brasil Pandeiro”, “Preta Pretinha” e “A Menina Dança”, vendeu mais de 100 mil cópias e se tornou um clássico no cancioneiro brasileiro.

Na época de “Acabou Chorare”, os Novos Baianos foram morar juntos num sítio em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. A casa era uma espécie de comunidade hippie, com muito futebol, samba, choro e rock and roll.

“As pessoas me perguntam: ‘Que horas vocês ensaiavam?’. A vida era um ensaio”, disse Moraes, em entrevista à Folha em 2016, comentando que havia ouvido uma adolescente dizer que o sonho dela era ter vivido no sítio com eles. “Falei: ‘Tome juízo, menina. Você não sabe o que acontecia lá’.”

Os Novos Baianos foram uma das bandas mais influentes no começo dos anos 1970, considerada a era de ouro da música pop brasileira. O sucesso da mistura de samba com psicodelia, choro e baião com guitarras de rock e a influência da tropicália abriu espaço para diversos artistas com abordagem menos ortodoxas ao redor do país.

Ao longo dos anos, “Acabou Chorare” passou a ser considerado uma das maiores obras da música nacional em todos os tempos. O álbum encabeça a lista de 500 maiores discos da música brasileira, publicada em 2007 pela revista Rolling Stone. Ao lado do poeta Luiz Galvão, Moraes compôs a maioria das faixas do LP, entre elas “Preta Pretinha”, “Mistério do Planeta” e “Acabou Chorare”.

Moraes Moreira ficou nos Novos Baianos até 1975, depois de participar dos discos “Novos Baianos Futebol Clube”, de 1973, “Vamos pro Mundo”, de 1974, e “Novos Baianos”, do mesmo ano.

Ele depois se reuniu com o grupo para show comemorativos na turnê “Infinito Circular”, de 1995, que rendeu um disco ao vivo homônimo dois anos depois. Mais recentemente, todos os integrantes estiveram presente na turnê “Acabou Chorare e os Novos Baianos se Encontram”, de 2016. Moraes Moreira é o primeiro integrante do grupo a morrer.

Em 1975, quando saiu em carreira solo —com a qual lançou dezenas de discos nas décadas seguintes—, Moraes foi um dos primeiros cantores de trio elétrico, à frente do Trio Elétrico Dodô e Osmar. Entre suas composições conhecidas para o Carnaval estão clássicos como “Pombo Correio”, “Vassourinha Elétrica” e “Bloco do Prazer”.

Ao longo da última década, Moraes Moreira vinha fazendo shows com o filho, Davi. Nas apresentações, eles tocavam a íntegra de “Acabou Chorare”, faziam homenagens a compositores como Dominguinhos e Luiz Gonzaga e, no fim, tocavam faixas da fase carnavalesca de Moraes.

Músicos com Gilberto Gil, Elba Carvalho, Zé Carvalho, Nando Reis foram alguns dos que prestaram homenagem ao artista nas redes sociais.

Fonte: Folha de São Paulo