Hackers ligados à Rússia, à China e ao Irã estão por trás de tentativas de espionagem a pessoas e grupos envolvidos nas eleições americanas de 2020, afirmou a gigante tecnológica Microsoft em um comunicado divulgado nesta quinta-feira (10).
As eleições presidenciais americanas acontecem em menos de dois meses, no dia 3 de novembro.
De acordo com a empresa, entre os alvos dos hackers havia pessoas ligadas às campanhas presidenciais do republicano Donald Trump e do democrata Joe Biden.
Os criminosos envolvidos nos ciberataques das últimas semanas pertencem aos mesmos grupos de hackers que tentaram interferir no pleito de 2016, quando Trump venceu a democrata Hillary Clinton.
“As ações que estamos anunciando hoje deixam claro que os grupos de atividades estrangeiras intensificaram seus esforços visando a eleição de 2020”, afirmou a Microsoft no texto.
De acordo com o comunicado, a maioria dos ataques foi frustrada graças aos sistemas de segurança dos programas, e os alvos foram pessoalmente avisados pela empresa da tentativa de invasão.
Irã contra Trump, China contra Biden, Rússia contra todos
Segundo a empresa, o grupo russo, chamado de Strontium (ou estrôncio, em português) foi responsável por ataques a mais de 200 pessoas e organizações não só nos Estados Unidos, como também no Reino Unido.
Entre os alvos americanos estavam consultores tanto da campanha democrata quanto da republicana.
Velha conhecida dos americanos, a Strontium foi identificada pelo procurador-especial Robert Mueller, que investigou interferência estrangeira na eleição de 2016, como a principal organização responsável pelos ataques à campanha presidencial de Hillary Clinton em 2016.
A atividade criminosa da organização russa, no entanto, se sofisticou: os hackers têm conseguido alternar seus endereços de origem entre mais de mil números diferentes de IP, o que torna mais complexo o rastreio dessas ações.
Já os hackers da China, grupo chamado Zirconium (Zircônio), elegeu como alvos principais altos funcionários da campanha presidencial de Joe Biden, mas um ex-funcionário da gestão Trump também estava na lista. Foram mais de 150 investidas nos últimos seis meses.
Do Irã, hackers do grupo Phosphorus (Fósforo) visaram contas pessoais de indivíduos ligados à campanha de Donald Trump.
“O que vimos é consistente com os padrões de ataque anteriores que não visam apenas os candidatos e funcionários da campanha, mas também aqueles que eles consultam sobre questões-chave”, afirmou o comunicado.
Autoridades devem se preparar
De acordo com a Microsoft, as autoridades nacionais e locais deveriam se preparar para mais e mais ataques nos próximos meses.
O alerta acontece um dia depois de vir à público uma denúncia feita por Brian Murphy, ex-chefe da área de inteligência do Departamento de Segurança Nacional.
Murphy afirma que recebeu ordens do secretário Chad Wolf para deixar de produzir relatórios sobre a interferência russa no processo eleitoral e se concentrar no Irã e na China.
A orientação, de acordo com Murphy, foi recebida de Robert C. O’Brien, atual conselheiro de segurança nacional da Casa Branca.
Em outra ocasião, Murphy foi impedido de divulgar informações sobre ações de hackers russos para espalhar informações falsas sobre supostos problemas de saúde de Joe Biden.
Segundo Wolf, o relatório fazia com que “o presidente ficasse mal aos olhos do público”.
De acordo com Murphy, sua denúncia é uma tentativa de proteger a segurança nacional nas eleições, que ele acredita estar em risco.
As preocupações parecem confirmadas por informações divulgadas há um mês pelo Centro Nacional de Segurança e Contra-Inteligência (NCSC, na sigla em inglês).
De acordo com o órgão, as autoridades têm verificado intensa atividade de hackers chineses, russos e iranianos.
Segundo William Evanina, diretor do NCSC, China e Irã estariam concentrados em alvos ligados ao presidente Trump. A primeira, por considerar o presidente “imprevisível” e negativo para seu avanço ocidental em áreas tecnológicas. O segundo porque Trump impôs uma grande quantidade de sanções, que estrangulam financeiramente a teocracia persa.
Já a Rússia teria uma dupla atuação. Em primeiro lugar, atacar Biden e disseminar informações falsas sobre o candidato democrata, visto como ruim para os interesses bélicos e territoriais russos por suas ações como vice-presidente de fortalecimento da Ucrânia.
Em segundo, “alguns atores ligados ao Kremlin também buscam impulsionar a candidatura do presidente Trump nas redes sociais e na televisão russa”, afirmou Evanina.